Certa vez, um padre disse algo para uma de nossas irmãs que me deixou bastante pensativo: “Enquanto os jovens correm atrás de vocês, nós corremos atrás dos jovens”. Por quê, perguntava eu, alguns jovens nos procuram e a outros, não.
Sei que não deve ser porque somos melhores, pois de fato não somos. Como costumo sempre dizer: somos um bando de pecadores, vivendo juntos, tentando um ajudar o outro a se converter.
Para mim, o segredo “dos jovens virem à nós” se dá pelo fato de lhes apresentarmos, sem rodeios, a Cruz de Cristo.
A Cruz, só a Cruz é que atrai as vocações. “Quando for elevado da terra, atrairei todos a mim” (JO 12,32).
Ela deve ser o motivo da entrada do jovem na vida consagrada e da sua permanência.
A falta de Cruz na vida consagrada é o motivo da sua decadência. Isso talvez explique a escassez de vocações em determinados grupos.
Qual jovem, que chamado a viver a radicalidade do Evangelho, entraria numa comunidade onde o mais importante é a televisão, os drinks, os inúmeros passeios, etc?
Que jovem não perceberia que tal comunidade é orientada pela lei das facilidades? E desde quando a lei do mais fácil e do menor esforço pode atrair e manter alguém na vida consagrada? E se, por acaso, tal estilo de vida vier a entusiasmar algum jovem, é melhor que nem entre.
Poucos são os jovens dispostos a deixar o “mundo” e encontrá-lo novamente na vida consagrada.
Sei que tal discurso incomoda, sobretudo àqueles para quem a vida consagrada tornou-se sinônimo de comodismo e vida burguesa.
A desculpa que muitas vezes encontram para justificar a escassez de suas vocações são expressas nos seguintes chavões: “Os jovens gostam de modismo, por isso entram nessas comunidadezinhas de vida”; “Eles fazem lavagem cerebral nos jovens”; “São um bando de alienados”; “Eles atraem porque os jovens gostam de oba-oba”. Desculpas como essas, carregadas de preconceitos, já não são suficientes para fazer entender o fenômeno da falta de vocações.
A dificuldade em aceitar que a escassez de vocações está associada à ausência da Cruz, se encontra justamente no fato de que isso exigirá conversão e nem todos estão dispostos a mudar, nem tampouco renunciar certos privilégios e comportamentos.
O que chama a atenção dos jovens, é o encontro com almas consagradas não secularizadas nem em seu pensar, nem em seu proceder, nem em seu vestir.
A melhor propaganda vocacional, continuo insistindo, é viver de acordo com a vocação para o qual fomos chamados (Ef 4,1). Não se atrai jovens com propaganda publicitária; folders, dingles e anúncios em revistas. Atrai-se com testemunho. A vida consagrada é chamada a atrair os homens para Deus. Será que pode haver algo mais fascinante que isso?
A vida consagrada deve gerar filhos para o Reino e se não o faz, é como a árvore estéril do Evangelho, só serve para ser cortada e jogada ao fogo (Mt. 3,10).
A vida gera a vida, como disse o nosso Papa João Paulo II na abertura do Congresso Internacional das Vocações em 1981. Mas, como gerar filhos para o carisma, se muitas comunidades tornaram-se reduto de gente deprimida, pessimista e avinagrada?
O jovem fugirá de tal ambiente. Já dizia São Vicente de Paulo: “Agarra-se muito mais moscas com uma gota de mel do que com um barril de vinagre”.
O jovem que nos procura deve estar ciente que não estará vindo para um piquenique e, sim, para uma vida de renúncias, para uma árdua e difícil missão, para uma austera pobreza, vivida num clima de perfeita alegria.
Só há seguimento quando há renúncia e Cruz. Não é correto que o Amado esteja crucificado e o amante esteja de “bunda para cima”,”jogado no sofá” em frente a uma televisão. Se o jovem foge da Cruz, rapidamente se instalará no “bem-bom”.
Como dizia São Luís Maria Grignon de Monfort: “Nem Jesus sem a Cruz, nem a Cruz sem Jesus”.
Jovem! Tenha a ousadia e a coragem de dizer: “Não quero saber de outra coisa a não ser de Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado” (1 Cor 2,2).
Pe. Gilson Sobreiro
Fundador da Fraternidade O Caminho
(texto extraído do Livro: Consagração – Conversão Levada ao Extremo – Um itinerário vocacional com Santa Clara de Assis. Ed. Palavra & Prece, 2008, autor: Pe. Gilson Sobreiro)
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