terça-feira, novembro 29, 2011

Homilia do Santo Padre na abertura do Advento, novo ano liturgico.


“Hoje iniciamos com toda a Igreja o novo Ano Litúrgico: um novo caminho de fé, para vivermos juntos nas comunidades cristãs, mas também, como sempre, deve ser percorrido dentro da história do mundo, para abri-la ao mistério de Deus, à salvação que vem de seu amor”. O ano litúrgico começa com o Tempo do Advento: Um tempo maravilhoso que desperta nos corações a espera do retorno de Cristo e a memória de sua primeira vinda, quando despiu-se de sua glória divina para assumir a nossa carne mortal.

“Vigiai!” Este é o apelo de Jesus no evangelho de hoje. Se dirige não apenas aos seus discípulos, mas a todos: “Vigiai!”(Mt 13,37). É um chamado salutar que nos recorda que a vida não tem somente uma dimensão terrena, mas é projetada em direção a um “além”, como uma plantinha que brota da terra e se abre em direção ao céu. Uma plantinha que pensa, o homem, dotado de liberdade e responsabilidade, por isso cada um de nós seremos chamados a prestar contas de como vivemos e de como foram utilizadas nossas capacidades: se as retemos ou as fizemos frutificar para o bem dos irmãos.

Também Isaías, o profeta do Advento nos ajuda a refletir hoje com uma oração sincera dirigida a Deus em nome do povo. Ele reconhece as falhas do seu povo, e em um determinado momento diz: “não há ninguém que invoque o teu nome, que se erga, firmando-se em ti; porque escondeste de nós a tua face, e nos abandonaste ao capricho das nossas transgressões” (Is 64,6). Como não ser atingido por esta dissertação? Parece refletir alguns panoramas pós-modernos: a cidade onde a vida torna-se anônima e horizontal, onde Deus parece ausente e o homem o único senhor, como se o homem fosse o único criador e diretor de tudo: as construções, o trabalho, a economia, os transportes, a ciência, a técnica, tudo parece depender somente do homem. Às vezes, neste mundo que parece quase perfeito, acontecem coisas chocantes, na natureza ou na sociedade, que nos leva a pensar que Deus tenha se retirado, que tenha, por assim dizer, nos abandonado.

Na verdade, o verdadeiro “dono” do mundo não é o homem, mas Deus. O Evangelho fala: “Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o senhor da casa; se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã, para que, vindo de improviso, não vos encontre dormindo” (Mc 13,35-36). O tempo do Advento vem todos os anos para nos recordar isto, para que a nossa vida reencontre um senso justo, em direção a face de Cristo. A face não de um “patrão”, mas de um Pai e de um Amigo. Com a Virgem Maria, que nos conduz no caminho do Advento, façamos nossas as palavras do profeta.     “Tu és nosso Pai, nós somos o barro, e tu, o nosso oleiro; e todos nós, obra das tuas mãos" (Is 64,7).

(Após o Ângelus)

Amanhã começam em Durban, na África do Sul, os trabalhos da Conferência da ONU sobre as mudanças climáticas e o Protocolo de Kyoto. Espero que todos os membros da comunidade internacional, concordem com uma resposta responsável, confiável e solidária a este complexo e preocupante fenômeno, levando em consideração as exigências das populações mais pobres e das futuras gerações.

(Saudação em português)

Saúdo com particular afeto os peregrinos de língua portuguesa presentes nesta oração do Angelus, nomeadamente os fiéis vindos de Lisboa e de Setúbal. O tempo do Advento convida-nos a fazer nossa a primeira vinda do Filho de Deus a fim de nos prepararmos para o seu regresso glorioso. Neste sentido, tomai por modelo e intercessora a Virgem Maria. E que Deus vos abençoe!
(Tradução:Maria Emília Marega)

segunda-feira, novembro 28, 2011

Das Cartas Pastorais de São Carlos Borromeu, bispo

O tempo do Advento

Caros filhos, eis chegado o tempo tão importante e solene que, conforme diz o Espírito Santo, é o momento favorável, o dia da salvação (cf. 2Cor 6,2), da paz e da reconciliação. É o tempo que outrora os patriarcas e profetas tão ardentemente desejaram com seus anseios e suspiros; o tempo que o justo Simeão finalmente pôde ver cheio de alegria, tempo celebrado sempre com solenidade pela Igreja, e que também deve ser constantemente vivido com fervor, louvando e agradecendo ao Pai eterno pela misericórdia que nos revelou nesse mistério. Em seu imenso amor por nós, pecadores, o Pai enviou seu Filho único a fim de libertar-nos da tirania e do poder do demônio, convidar-nos para o céu, revelar-nos os mistérios do seu reino celeste, mostrar-nos a luz da verdade, ensinar-nos a honestidade dos costumes, comunicar-nos os germes das virtudes, enriquecer-nos com os tesouros da sua graça e, enfim, adotar-nos como seus filhos e herdeiros da vida eterna.
Celebrando cada ano este mistério, a Igreja nos exorta a renovar continuamente a lembrança de tão grande amor de Deus para conosco. Ensina-nos também que a vinda de Cristo não foi proveitosa apenas para os seus contemporâneos, mas que a sua eficácia é comunicada a todos nós se, mediante a fé e os sacramentos, quisermos receber a graça que ele nos prometeu, e orientar nossa vida de acordo com os seus ensinamentos.
A Igreja deseja ainda ardentemente fazer-nos compreender que o Cristo, assim como veio uma só vez a este mundo, revestido da nossa carne, também está disposto a vir de novo, a qualquer momento, para habitar espiritualmente em nossos corações com a profusão de suas graças, se não opusermos resistência.
Por isso, a Igreja, como mãe amantíssima e cheia de zelo pela nossa salvação, nos ensina durante este tempo, com diversas celebrações, com hinos, cânticos e outras palavras do Espírito Santo, como receber convenientemente e de coração agradecido este imenso benefício e a enriquecer-nos com seus frutos, de modo que nos preparemos para a chegada de Cristo nosso Senhor com tanta solicitude como se ele estivesse para vir novamente ao mundo. É com esta diligência e esperança que os patriarcas do Antigo Testamento nos ensinaram, tanto em palavras como em exemplos, a preparar a sua vinda.

A Oração


“Se alguém necessita de sabedoria, peça a Deus, que a concede fartamente a todos” 
(Tiago 1,5)


A oração sempre esteve e sempre estará presente na vida da Igreja, e principalmente na vida do homem. Ela é o meio pelo qual o homem consegui sustertar-se nesse exilio, pois sem o socorro da graça nada podemos fazer. Ora, a oração não é também o único caminho de salvação? Não me refiro aqui, tão somente, a longos momentos de adoração, meditação, mas também, e de modo singular, ás boas obras. São Tiago irá nos exortar que a fé sem obra é morta, do mesmo jeito que o corpo sem a alma para nada serve, então a oração é a vida da alma, seja ela nos clustros dos grandes mosteiros ou nas calçadas com os mais pobres.
Para a alma amante, a oração é a escuta da voz do Amado: "Faz-me ouvir a tua voz" (Canticos 8,13); pela qual o seu Amado lhe forma ela se deleita nele. Em nossos corações já existe a centelha da oração, é preciso não deixa-lá apagar, pois sem calor morreremos.

A oração é a vida da alma, logo Deus é a Vida da vida, como Santa Paula Fransinette vai dizer: "Eis a vida da minha vida!". Nosso Senhor mesmo nos exorta: "Sem mim nada podeis fazer" (Jo 15,5). Vivamos dele e voltemos ao Senhor, Vida de nossas vidas.

Não pode o homem ter duas almas, ou seja, viver do mundo, e viver de Deus: "Aquele que se torna amigo de Deus, se torna amigo do mundo." E como nos exorta São Tiago a voltar nossos corações a Deus e purificar-nos:

"Achegai-vos ao Senhor e ele a vós se achegará" 
(Tiago 4,8)

domingo, novembro 13, 2011

Das Catequeses de São Cirilo de Jerusalém, bispo

As duas vindas de Cristo

Anunciamos a vinda de Cristo: não apenas a primeira, mas também a segunda, muito mais gloriosa. Pois a primeira revestiu um aspecto de sofrimento, mas a segunda manifestará a coroa da realeza divina.
Aliás, tudo o que concerne a nosso Senhor Jesus Cristo tem quase sempre uma dupla dimensão. Houve um duplo nascimento: primeiro, ele nasceu de Deus, antes dos séculos; depois, nasceu da Virgem, na plenitude dos tempos. Dupla descida: uma, discreta como a chuva sobre a relva; outra, no esplendor, que se realizará no futuro.
Na primeira vinda, ele foi envolto em faixas e reclinado num presépio; na segunda, será revestido num manto de luz. Na primeira, ele suportou a cruz, sem recusar a sua ignomínia; na segunda, virá cheio de glória, cercado de uma multidão de anjos.
Não nos detemos, portanto, somente na primeira vinda, mas esperamos ainda, ansiosamente, a segunda. E assim como dissemos na primeira: Bendito o que vem em nome do Senhor (Mt 21,9), aclamaremos de novo, no momento de sua segunda vinda, quando formos com os anjos ao seu encontro para adorá-lo: Bendito o que vem em nome do Senhor.
Virá o Salvador, não para ser novamente julgado, mas para chamar a juízo aqueles que se constituíram seus juízes. Ele, que ao ser julgado, guardara silêncio, lembrará as atrocidades dos malfeitores que o levaram ao suplício da cruz, e lhes dirá: Eis o que fizestes e calei-me (Sl 49,21).
Naquele tempo ele veio para realizar um desígnio de amor, ensinando aos homens com persuasão e doçura; mas, no fim dos tempos, queiram ou não, todos se verão obrigados a submeter-se à sua realeza.
O profeta Malaquias fala dessas duas vindas: Logo chegará ao seu templo o Senhor que tentais encontrar (Ml 3,1). Eis uma vinda.
E prossegue, a respeito da outra: E o anjo da aliança, que desejais. Ei-lo que vem, diz o Senhor dos exércitos; e quem poderá fazer-lhe frente, no dia de sua chegada? E quem poderá resistir-lhe, quando ele aparecer? Ele é como o fogo da forja e como a barrela dos lavadeiros; e estará a postos, como para fazer derreter e purificar (Ml 3,1-3).
Paulo também se refere a essas duas vindas quando escreve a Tito: A graça de Deus se manifestou trazendo salvação para todos os homens. Ela nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas e a viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade, aguardando a feliz esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo (Tt 2,11-13). Vês como ele fala da primeira vinda, pela qual dá graças, e da segunda que esperamos?
Por isso, o símbolo da fé que professamos nos é agora transmitido, convidando-nos a crer naquele que subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai. E de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim. Nosso Senhor Jesus Cristo virá portanto dos céus, virá glorioso no fim do mundo, no último dia. Dar-se-á a consumação do mundo, e este mundo que foi criado será inteiramente renovado.