quinta-feira, setembro 30, 2010

Catequese de Bento XVI sobre Santa Matilde de Hackeborn


Queridos irmãos e irmãs,

hoje desejo falar-vos sobre Santa Matilde de Hackeborn, uma das grandes figuras do mosteiro de Helfta, que viveu no século XIII. A sua irmã Santa Gertrude a Grande, no VI livro da obra Liber specialis gratiae (O livro da graça especial), em que são narradas as graças especiais que Deus deu a Santa Matilde, assim afirma: "Isso que escrevemos é bem pouco em comparação àquilo que omitimos. Unicamente para a glória de Deus e utilidade do próximo publicamos estas coisas, porque parece-nos injusto manter o silêncio sobre tantas graças que Matilde recebeu de Deus não tanto por ela mesma, a nosso ver, mas para nós e para aqueles que virão depois de nós" (Mechthild von Hackeborn, Liber specialis gratiae, VI, 1).

Essa obra foi redigida por Santa Gertrude e uma outra coirmã de Helfta e tem uma história singular. Matilde, com a idade de cinquenta anos, atravessava uma grave crise espiritual, unida a sofrimentos físicos. Nesta condição, confidenciou a duas coirmãs amigas as graças singulares com que Deus a tinha guiado desde a infância, mas não sabia que elas anotavam tudo. Quando soube disso, ficou profundamenta angustiada e perturbada. O Senhor, no entanto, tranquilizou-a, fazendo-lhe compreender que tudo o que era escrito era para a glória de Deus e o proveito do próximo (cfr. ibid., II, 25; V,20). Assim, essa obra é a fonte principal para obter informações sobre a vida e espiritualidade da nossa Santa.

Com ela, somos introduzidos na família do Barão de Hackeborn, uma das mais nobres, ricas e poderosas da Turíngia, aparentada com o imperador Federico II, e entramos no mosteiro de Helfta no período mais glorioso da sua história. O Barão havia dado ao mosteiro uma filha, Gertrude de Hackeborn (1231/1232 - 1291/1292), dotada de uma forte personalidade, Abadessa por quarenta anos, capaz de dar uma impressão peculiar à espiritualidade do mosteiro, levando-o a um extraordinário florescer enquanto centro de mística e cultura, escola de formação científica e teológica. Gertrude ofereceu às monjas uma elevada instrução intelectual, que as permitia cultivar uma espiritualidade fundada sobre a Sagrada Escritura, sobre a Liturgia, sobre a tradição Patrística, sobre a Regra e espiritualidade cistercense, com particular predileção por São Bernardo de Claraval e Guglielmo de St-Thierry. Foi uma verdadeira mestra, exemplar em tudo, na radicalidade evangélica e no zelo apostólico. Matilde, desde a infância, recebeu e apreciou o clima espiritual e cultural criado por sua irmã, oferecendo depois a sua própria marca.

Matilde nasce em 1241 ou 1242 no castelo de Helfta; é a terceira filha do Barão. Aos sete anos, juntamente com sua mãe, visita a irmã Gertrude no mosteiro de Rodersdorf. É tão fascinada por aquele ambiente que deseja ardentemente fazer parte dele. Entra como educanda e, em 1258, torna-se monja no convento, transferindo-se, entretanto, para Helfta, na propriedade dos Hackeborn. Distingue-se pela humildade, fervor, amabilidade, limpidez e inocência de vida, familiaridade e intensidade com que vive o relacionamento com Deus, a Virgem, os Santos. É dotada de elevadas qualidades naturais e espirituais, entre as quais "a ciência, a inteligência, o conhecimento das coisas humanas, a voz de uma maravilhosa suavidade: tudo a tornava apta a ser para o mosteiro um tesouro, sobre todos os aspectos" (Ibid., Proêmio). Assim, "o rouxinol de Deus" – como era chamada – ainda muito jovem, torna-se diretora da escola do mosteiro, diretora do coro, mestre de noviças, serviços que desempenhou com talento e infatigável zelo, não somente para proveito das monjas, mas a todos desejava fazer chegar a sua sabedoria e bondade.

Iluminada pelo dom divino da contemplação mística, Matilde compõe numerosas orações. É mestra de fiel doutrina e de grande humildade, conselheira, consoladora, guia no discernimento: "Ela – lê-se – distribuía a doutrina com uma abundância que nunca havia se visto no mosteiro, e temos, ai de mim! grande temor, de que não se verá nunca mais nada semelhante. As irmãs reuniam-se em torno dela para sentir a palavra de Deus como junto de um pregador. Era o refúgio e a consoladora de todos, e tinha, por dom singular de Deus, a graça de revelar livremente os segredos do coração de cada um. Muitas pessoas, não somente no mosteiro, mas também estrangeiros, religiosos e seculares, vindos de longe, atestavam que essa santa virgem havia livrado-lhes das suas penas e que nunca tinham experimentado tanta consolação quanto junto dela. Compôs e também ensinou tantas orações que, se fossem reunidas, excederiam o volume de um saltério" (Ibid., VI,1).

Em 1261, chega ao convento uma menina de cinco anos, de nome Gertrude: é confiada aos cuidados de Matilde, com apenas vinte anos, que a educa e guia na vida espiritual até fazê-la não somente excelente discípulas, mas a sua confidente. Em 1271 ou 1272, entra no mosteiro também Matilde de Magdeburgo. O lugar acolhe, assim, quatro grandes mulheres – duas Gertrude e duas Matilde –, glória do monaquismo germânico. Na longa vida transcorrida no mosteiro, Matilde é afligida por contínuos e intensos sofrimentos, aos quais se juntam duríssimas penitências escolhidas para a conversão dos pecadores. Desse modo, participa da paixão do Senhor até o fim da vida (cfr. ibid., VI, 2). A oração e a contemplação são o húmus vital da sua existência: as revelações, os seus ensinamentos, o seu serviço ao próximo, o seu caminho na fé e no amor têm aqui as suas raízes e o seu contexto. No primeiro livro da obra Liber specialis gratiae, as redatoras recolhem as confidências de Matilde explicadas nas festas do Senhor, dos Santos e, de modo especial, da Beata Virgem. É impressionante a capacidade que essa Santa tem de viver a Liturgia nos seus vários componentes, também aqueles mais simples, levando-os à vida cotidiana monástica. Algumas imagens, expressões, aplicações às vezes estejam distantes da nossa sensibilidade, mas, se se considera a vida monástica e a sua missão de mestra e diretora do coro, colhe-se a sua singular capacidade de educadora e formadora, que ajuda as coirmãs a viver intensamente, partindo da Liturgia, todos os momentos da vida monástica.

Na oração litúrgica, Matilde dá particular relevância às horas canônicas, à celebração da Santa Missa, sobretudo a santa Comunhão. Aqui é frequentemente tomada em êxtase em uma intimidade profunda com o Senhor no seu ardentíssimo e dulcíssimo Coração, em um diálogo estupendo, no qual pede luzes interiores, enquanto intercede de modo especial pela sua comunidade e as suas coirmãs. Ao centro estão os mistérios de Cristo, com relação aos quais a Virgem Maria refere constantemente para caminhar sobre a via da santidade: "Se tu desejas a verdadeira santidade, estejas próxima ao meu Filho; Ele é a própria santidade que santifica todas as coisas" (Ibid., I,40). Nesta sua intimidade com Deus está presente o mundo inteiro, a Igreja, os benfeitores, os pecadores. Para ela, Céu e terra unem-se.

As suas visões, os seus ensinamentos, os acontecimentos da sua existência são descritos com expressões que evocam a linguagem litúrgica e bíblica. Compreende-se assim o seu profundo conhecimento da Sagrada Escritura, que era o seu pão cotidiano. A ela recorre continuamente, seja valorizando os textos bíblicos na liturgia, seja desenhando símbolos, termos, paisagens, imagens, personagens. A sua predileção é pelo Evangelho: "As palavras do Evangelho eram para ela um alimento maravilhoso e suscitavam no se coração sentimentos de tamanha doçura que frequentemente, pelo entusiasmo, não podia terminar a leitura [...] O modo com que lia aquelas palavras era tão fervoroso que em todos suscitava a devoção. Da mesma forma, quando cantava no coro, era toda absorvida em Deus, transportada por tal ardor que ás vezes manifestava os seus sentimentos com gestos [...] Outras vezes, como que tomada em êxtase, não sentia aqueles que a chamavam ou moviam e contrariada retomada o sentido das coisas exteriores" (Ibid., VI, 1). Em uma das visões, é Jesus mesmo a recomendar-lhe o Evangelho; abrindo-lhe a chaga do seu dulcíssimo Coração, diz-lhe: "Considera quanto imenso seja o meu amor: se desejas conhecê-lo bem, em nenhum lugar o encontrarás expresso mais claramente que no evangelho. Ninguém nunca ouviu falar de sentimentos mais fortes e macios quanto estes: Como o Pai me amou, assim também eu vos amei (Jo 15, 9)" (Ibid., I,22).

Queridos amigos, a oração pessoal e litúrgica, especialmente a Liturgia das Horas e a Santa Missa são as raízes da experiência espiritual de Santa Matilde de Hackeborn. Deixando-se guiar pela sagrada Escritura e nutrir pelo Pão eucarístico, Ela percorreu um caminho de íntima união com o Senhor, sempre na plena fidelidade à Igreja. É isso também para nós um forte convite a intensificar a nossa amizade como Senhor, sobretudo através da oração cotidiana e da participação atenta, fiel e atrativa na Santa Missa. A Liturgia é uma grande escola de espiritualidade.

A discípula Gertrude descreve com expressões intensas os últimos momentos da vida de Santa Matilde di Hackeborn, duríssimos, mas iluminados pela presença da Santíssima Trindade, do Senhor, da Virgem Maria, de todos os Santos, também da irmã de sangue Gertrude. Quando chegou a hora em que o Senhor desejou levá-la para Si, ela Lhe pede ainda poder viver no sofrimento pela salvação das almas e Jesus se compraz deste ulterior sinal de amor.

Matilde tinha 58 anos. Percorreu o último trecho da estrada caracterizado por oito anos de graves doenças. A sua obra e a sua fama de santidade difundiram-se amplamente. Ao chegar a sua hora, "o Deus de Majestade [...] única sua vida da alma que O ama [...] cantou-Lhe: Venite vos, benedicti Patris mei [...] Vinde, ó vós, que sois benditos do meu Pai, vinde receber o meu reino […] e a associou à sua glória" (Ibid., VI,8).

Santa Matilde de Hackeborn confia-nos ao Sagrado Coração de Jesus e à Virgem Maria. Convida a louvar o Filho com o Coração da Mãe e a louvar Maria com o Coração do Filho: "Saúdo-vos, ó Virgem veneradíssima, naquele dulcíssimo orvalho, que do Coração da Santíssima Trindade difunde-se em vós; saúdo-vos na glória e na alegria com que agora vos alegrais na eternidade, vós que, preferida entre todas as criaturas da terra e do céu, fostes eleita ainda antes da criação do mundo! Amém" (Ibid., I, 45).

Os quatros degraus da Lectio Divina

1º LEITURA
Conhecer, respeitar, situar (o que o texto diz?)
- exige determinação constante e contínua, perseverança, ascese e disciplina;
- não pode ser interesseira, mas deve ser gratuita, em vista do Reino e do bem do povo;
- é ponto de partida e não de chegada, faz o leitor pisas no chão;
- faz algumas exigências: analisar o texto e situá-lo em seu contexto de origem, em três níveis : a) literário ( quem? o quê? onde? por quê? quando? como? com que meios? como o texto se situa dentro do contexto literário do livro de que faz parte?) b) histórico (a história e suas dimensões econômica, social, política, ideológica, afetiva, antropológica e outras) c) teológico (o que Deus tinha a dizer ao povo naquela situação histórica; o que Ele significava para aquele povo; como se revelava; como o povo assumia e celebrava a Palavra do Senhor.
2º MEDITAÇÃO
Ruminar, dialogar, atualizar(o que o texto nos (me) diz?)
- o que é que Deus, através desse texto, tem a dizer hoje, aqui na América Latina, no Brasil;
- é um esforço que se faz para atualizar o texto e trazê-lo para dentro do horizonte da nossa vida e realidade, tanto pessoal como social;
- é uma diligente atividade da mente que, com a ajuda da própria razão, procura o conhecimento da verdade oculta;
- é atingir o fruto do Espírito;
- é semente de oração...a sua prática nos leva à oração.
3º ORAÇÃO
Suplicar, louvar, recriar (o que o texto me faz dizer ao Senhor?)
- como atitude está presente desde o início da leitura orante...no início invoca-se o Espírito Santo;
- mas tem o seu lugar próprio durante a Lectio Divina;
- admiração, "espanto “pelas maravilhas do Senhor;
- a comunitária supõe a pessoal;
- louvor, ação de graças, súplica, perdão, revolta...
- para evitar os conhecidos desvios é preciso que quem reza aprenda a lutar e quem luta aprenda a rezar;
4º CONTEMPLAÇÃO
Enxergar, saborear, agir (o que vejo melhor e vou fazer?)
- é o que sobra nos olhos e no coração, depois que a oração termina;
- cada vez que chego neste degrau, sinto-me reforçado para um novo começo;
- reúne em si todo o percurso da Lectio Divina;
- nela, ao que tudo indica, a experiência de Deus suspende tudo, relativiza tudo e, como que por um instante, antecipa algo da alegria que "Deus preparou para aqueles que o amam"(1Cor 2,9).

A força do chamado na vida dos profetas


A força do chamado na vida dos Profetas

A experiência do ser chamado é algo totalmente pessoal. Deus atinge a pessoa e ela não pode ficar calada (Jer 20, 7-18). Sua palavra cria situações novas às pessoas tocadas por ela. É tão profunda a ruptura que realizamos profecias com sua vida anterior, que nenhuma das vinculações sociais precedentes passa à sua nova existência. “Eu era Pastor e cultivador de figos..., mas o Senhor me agarrou” (Am 7,14). Trata-se de algo mais que nova profissão; trata-se de nova situação vital. O eleito e chamado é arrancado da sociedade e de suas seguranças econômicas e sociais e é introduzido numa situação de dependência do Senhor, privada de toda segurança: “nunca me sentei em companhia de gente alegre para me divertir.
Por causa de tua mão, assentei-me sozinho, pois tu me encheste de indignação...” (Crise vocacional de Jeremias- Jer 15, 10-21). Os profetas, homens de carne e osso, sentem-se sob um poder irresistível, que os violenta e força: “Tu me reduziste Senhor, e eu me deixei seduzir, sobrepujastes e me venceste” (Jer 20,7). Esses profetas são agarrados por Deus e da sacudidos em suas bases: “Rugindo o Leão, quem não temerá? Falando o Senhor, quem não profetizará” (Am 3,8).

a) - O Senhor me agarrou.

Amós era pastor e cultivador de figos (7,14). Vivia folgadamente no campo e Deus se interpôs em sua vida. “O Senhor me agarrou de trás do rebanho e me disse: Vai profetize a meu povo Israel” (Am 7,15).

Não se fica onde se quer, fica-se onde é ordenado ou onde se é enviado. A vocação é descobrir e reconhecer que o Senhor quer dispor da vida do homem para seus projetos. Assim, o chamado não vai onde quer e sim onde o Senhor envia. O chamado é obediente e enviado: não um boêmio e interessado que se filia a um “Modus Vivendi”. Amós foi a uma comunidade dividida entre uma classe alta, alegre e confiada, e outra explorada e humilhada. Denunciar a injustiça, defender os oprimidos, anunciar a conversão é o ministério de Amós.

b) - Vi o Senhor, ouvi Sua voz.

Isaías foi homem e a quem Deus chamou do ambiente urbano, Jerusalém, e da familiaridade com o culto desde pequeno. O Senhor procurou-o e o encontrou no Templo. Foi uma visão, que se transforma em audição e que culmina em conversão (Os 6, 15). Na raiz foi uma experiência ou vivência religiosa. O Senhor se apresenta em sua glória e majestade, presente em toda terra com seu esplendor. Isaías é atingido e toma consciência de si mesmo: “Ai de mim, estou perdido, eu homem de lábios impuros... contemplei a face de Deus”. A santidade de Deus faz o homem sentir sua impureza. Será purificado e perdoado. “Eu ouvi a voz do Senhor, que dizia: quem enviarei?... e respondi: Eis-me aqui envia-me a mim”. Abriu-se um diálogo. O homem pode apresentar-se e oferecer-se, mostrar-se disposto a quem pode unicamente enviá-lo. O chamado é deixar-se tomar e deixar-se enviar.

c) - Testemunha da ternura de Deus.

Deus chama Oséias, originário do Reino do Norte, para profetizar antes da queda da Somaria e lhe diz: “Vai e toma por mulher uma prostituta e gera filhos em prostituição, porque o país se prostituiu completamente, afastando-se do Senhor” (Os 1, 2b). Oséias testemunha o caminho maravilhoso que vai desde a miséria da Meretriz até às suas Bodas. No chamado de Oséias há uma história de ternura. A Palavra de Deus intervém na história humana para mudá-la. Deus fala primeiro a Oséias e depois mediante Oséias (Os 1, 1-2).

Isto quer dizer que ninguém pode falar em nome de Deus sem antes ouvir a Palavra de Deus. Todos aqueles que apresentam como Palavra de Deus aquilo que sonharam, pensaram ou imaginaram, a Bíblia os chama de falsos profetas.
Só aqueles que escutam a Deus, podem dizer dele a outros alguma coisa que mude o sentido e a direção da história. Oséias não foi chamado a viver nenhuma situação honrosa: casar-se com uma prostituta. Seu patrimônio, significaria o pecado - a prostituição - do povo; o esquecimento de Deus. “Corria atrás de seus amantes e esquecia-se de mim” (Os 2,15).

Atrás da figura do amante esconde-se hoje muitas outras formas de esquecimento.


d) - Senhor, não sei falar, sou jovem.

Jeremias foi chamado de uma aldeia próxima de Jerusalém. A idade e a natureza pacífica faziam com que ele resistisse à proposta de Deus. O Senhor convida-o a não temer. A causa da sua objeção não era a idade, mas a angustia de ser mensageiro de Deus. Ser boca de Deus e proclamar sua palavra. Deus conserva aquele que chama em atitude de espera do acontecimento de sua palavra. É a palavra que dispõe do Profeta. Deus não nos fala para nos dar razão, mas para que voltemos a ele com confiança humilde. Quando o coração e a palavra humana recusam a Palavra de Deus já se entrou no ateísmo prático. Os profetas tornam-se como vento, e a locução divina não existe neles. Jeremias tornou-se Palavra de Javé. “Quando foram descobertas tuas palavras devorei-as, e tuas palavras foram para mim gozo e alegria do meu coração, pois teu nome foi invocado sobre mim” (Jer 15, 16).

O CHAMADO DE CRISTO

Há uma só vocação, que vem de Cristo, convocado e convocante. A vocação especifica-se, em vários graus correspondentes aos diversos momentos existenciais da experiência cristã. E estas experiências tem em Cristo sua fonte, seu sentido, sua referência e unidade.

A pessoa é convidada a escutar, e receber, colaborar com docilidade. Iniciar-se em Cristo é descobri-lo, deixar que ele nos encontre, recebê-lo. Deve haver uma conversão que é deixar-se alcançar, agarrar, incondicionalmente à pessoa, como ovelha extraviada, como uma dracma perdida, com um filho fugido (Lc 15).

É como um deixar-se encontrar qual tesouro no campo, qual pérola preciosa. A pessoa vende tudo, renuncia sua vida e recebe um novo ser. Descentrar-se de si mesmo, distanciar-se daquilo que até agora era segurança, o bem estar, o poder, o consumo e, ao mesmo tempo, entregar-se total e incondicionalmente a Cristo, nisso consiste a negação de si mesmo.
Jesus convida a segui-lo, cada um da própria situação em que se encontra.

Vinde comigo (Mc 1,17). Pede confiança nele (Mc 2,14). Confiança plena em sua pessoa e não a uma causa. A resposta obediente deve ser vivida no abandono do ligar do trabalho, do status, da casa, da família. Não se trata de adesão interna, mas de unir-se a ele em seu projeto de vida. Chama Doze para estarem com ele e para enviá-los a pregar. O centro da eleição é para que estivessem com ele. Não é pura adesão intelectual, mas adesão ao seu modo de viver. Os discípulos prolongam a presença e a obra de Jesus. Estar com Jesus é tão decisivo que somente assim é possível identificar-se com seu modo de viver, de atuar, de ser. Estas testemunhas devem ser pessoas livres, disponíveis, sem preocupação pela segurança material e pela proteção humana (Mc 6, 8-9). Disponibilidade. A Vocação é, pois, o modo insubstituível de viver a fé no Deus vivo, que nos ama.

Pe. Carlos Alberto Chiquim