sábado, julho 17, 2010

Ato Penitencial – Série A Santa Missa

Após a saudação, os fiéis e o sacerdote se humilham diante da grandeza de Deus e do mistério a ser celebrado e se purificam pedindo perdão pelos seus pecados.
Para esse ato, é necessário ressaltar dois aspectos: o da nossa própria limitação humana e o da grandeza de Deus e do mistério que iremos celebrar.
Sobre o primeiro aspecto, o de nossa limitação humana, nos diz o Apostolo São João em sua carta: “Se dissermos: ‘não temos pecado’, enganamo-nos e a verdade não está em nós” (1Jo 1,8).
A nossa própria natureza é pecadora. Depois do pecado de nossos primeiros pais, nossa carne ficou inclinada para o mal, por isso é necessário reconhecer a nossa fraqueza confiando na misericórdia de Deus, que sempre nos perdoará.
“Se confessarmos nossos pecados, Ele, que é fiel e justo, perdoará nossos pecados e nos purificará de toda injustiça” (1Jo 1,9).
Mas, é necessário que haja abertura para, humildemente aceitarmos, pois se negamos que somos pecadores, a verdade não habitará em nós, e a Verdade é Jesus, que diz: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6).
Sobre o segundo aspecto, o que nos leva a reconhecer a nossa condição de pecadores e, na misericórdia de Deus buscarmos o perdão e a purificação, é a grandeza do mistério celebrado.
O Santo Sacrifício da Missa é o amor exagerado de Deus que vem ao nosso encontro, fazendo-se presente para nos alimentar e nos animar. Por isso devemos tremer, pois é diante do próprio Deus que estaremos. Sendo assim, é justo que nos purifiquemos, pois a Palavra nos diz: “Buscai a vossa santificação, sem a qual ninguém vê a Deus” (Cf. Heb.12,14).
É necessário que tenhamos a atitude do publicano no templo, que reconhecendo sua condição e a grandeza de Deus, não se aproximava e nem sequer erguia os olhos, mas prostrado, batia no peito e clamava misericórdia. (Lc 18,13).
Seguido da confissão, o sacerdote invoca o perdão divino dizendo: “Deus todo-poderoso, tenha compaixão de nós, perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna”.
É importante fazer algumas observações acerca desta fórmula de absolvição, para evitarmos alguns erros que, infelizmente tem se alastrado. Efetivamente, houve quem visse nessas palavras do sacerdote, o equivalente a uma autêntica absolvição sacramental.
Esse erro proveio de certas teorias, propagadas de alguns anos para cá, sobretudo, na América Latina, segundo as quais não seria necessário confessar os pecados mortais no sacramento da confissão, e que bastaria o ato penitencial da missa, com a fórmula que, no fim desta, o sacerdote pronuncia. E até se pretendeu reduzir os pecados mortais (os que matam a alma) deixando-os na classe de simplesmente “graves” (mas não mortais; mais que veniais ou leves, mas sem tirar a graça santificante) uma grande quantidade dos pecados que sempre foram e (ainda são) objetivamente mortais.
É importante ressaltar o quanto essa doutrina, está em discordância com a reta doutrina da Igreja.
“Com toda a tradição da Igreja, chamamos pecado mortal a este aspecto pelo qual um homem, com liberdade e advertência, rejeita Deus, a sua lei, a aliança de amor que Deus lhe propõe, preferindo voltar-se para si mesmo, para qualquer realidade criada e finita, para algo contrário ao querer divino (conversio asd creaturam). Isto pode acontecer de modo direto e formal, como nos pecados de idolatria, apostasia e ateísmo; ou de modo equivalente, como em todas as desobediências aos mandamentos de Deus em matéria grave. O homem sente que esta desobediência à Deus corta a ligação com seu principio vital: é um pecado mortal, ou seja, um ato que ofende gravemente a Deus e acaba por se voltar contra o próprio homem, como uma força obscura e potente de destruição. Durante a Assembléia sinodal foi proposta por alguns Padres uma distinção tripartida entre pecados, que haveriam de passar a ser classificados com veniais, graves e mortais. A tripartição poderia por em realce o fato de que entre os pecados graves existe uma gradação. Mas permanece sempre verdadeiro que a distinção essencial e decisiva é a que existe entre pecados que destroem a caridade e pecados que não matam a vida sobrenatural: entre a vida e a morte não há lugar para meio termo. De igual modo, há de se reduzir o pecado mortal a um ato de “opção fundamental” contra Deus – como hoje em dia se costuma dizer”. (Exortação Apostólica “Reconciliatio et poenitential” de João Paulo II, Cap 17).
A absolvição do ato penitencial garante o perdão dos pecados veniais e uma preparação imediata para a melhor participação da Santa Missa, pré-supondo a confissão anterior dos pecados mortais.
Vemos essa realidade, na instituição da Santa Missa, quando Jesus lava os pés dos Apóstolos:
“Diz-lhe Simão Pedro:
- Senhor, não só os pés, mas as mãos e a cabeça.
Responde-lhe Jesus:
- Aquele que tomou banho não precisa lavar senão os pés, pois o resto está limpo. E vós estais limpos, mas não todos” (Jo 13, 9-10).
“Aquele que tomou banho não precisa lavar senão os pés”. Esta fala de Jesus nos trás dois ensinamentos: a figura do banho é o sacramento da reconciliação, que nos lava por inteiro, e a figura de lavar os pés, é a purificação das pequenas faltas, que se realiza no ato penitencial da Santa Missa.
Os pés, por estarem mais próximos do chão, constantemente se mancham com pequenas sujeiras. Assim também é a alma do cristão que estando próxima do mundo, sem ser do mundo, constantemente se mancha com pequenas faltas.
Ao nos apresentarmos diante do Altar, devemos já ter “tomado banho” na confissão e assim, “lavar os pés” no ato penitencial, para que totalmente purificados, recebamos melhor as graças deste Augusto Sacrifício.
Nos atentemos para o que diz Jesus: “E vós estais limpos, mas não todos”. Jesus fala aqui, a respeito de Judas, o traidor, que fazendo comunhão com o Senhor em estado de pecado mortal, logo saiu e entregou-O aos fariseus. Assim é todo aquele que comunga em pecado mortal, pois entrega o Corpo do Senhor para zombaria dos demônios.

Recitação dos Kyries

Na forma anterior do Concilio Vaticano II, repetia-se nove vezes essa invocação, para imitar, no dizer dos autores místicos, os nove coros dos Anjos que bendizem incessantemente a grandeza e a misericórdia de Deus.
Os três primeiros “Kyrie”, se dirigem a Deus Pai, para reconhecê-lo como nosso Criador, conservador e amantíssimo Pai.
Os três “Christe”, se dirigem a Deus Filho, para reconhecê-lo como Pontífice Santo, que oferece o Sacrifício de Salvação, como vitima que apaga os pecados.
Os três últimos “Kyrie” se dirigem a Deus Espírito Santo, para reconhecê-lo como santificador de nossas almas, como luz que esclarece nossa inteligência, e como Esposo de nossas almas.
Invocamos de forma distinta, cada uma das Pessoas Divinas, para atestar nossa fé na Trindade e fazermos uma invocação tríplice para cada Pessoa Divina, pois em cada uma delas está toda a Trindade.
Finalmente, dirigimos às três Pessoas Divinas, essa oração, segundo diz São Thomaz, para obter socorro na nossa tríplice miséria: a ignorância, a culpa e a pena. Por isso, oramos ao Pai, para que nos ilumine; ao Filho para que nos torne dignos de sua redenção; ao Espírito Santo, para que nos santifique e nos livre da eterna pena.
Essa invocação é um gemido e súplica do homem que reconhece a sua profunda miséria e que confia na infinita misericórdia de Deus.
Com a reforma de Paulo VI, só se diz três vezes, em lugar de nove, uma por cada Pessoa Divina.

Ir. Hariel do Sacrifício Eucarístico, PJC.
Religioso da Fraternidade O Caminho
Fraternitas São Lourenço – Guaianazes/SP

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