terça-feira, abril 26, 2011

Dos Sermões de Santo Anastácio de Antioquia

Era necessário que Cristo sofrese
para assim entrar em sua glória

Cristo, por suas palavras e ações, revelou que era verdadeiro Deus e Senhor do universo. Ao
subir para Jerusalém com seus discípulos, dizia-lhes: Eis que estamos subindo para Jerusalém,
e o Filho do Homem será entregue aos gentios, aos sumos sacerdotes e aos mestres da Lei,
para ser escarnecido, flagelado e crucificado
(Mt 20,18.19). Fazia, na verdade, estas
afirmações em perfeita consonância com as predições dos profetas, que haviam anunciado sua
morte em Jerusalém.

Desde o princípio, a Sagrada Escritura havia predito a morte de Cristo com os sofrimentos que
a precederiam, e também tudo quanto aconteceu com seu corpo depois da morte; predisse
igualmente que aquele a quem tudo isto sucedeu é Deus impassível e imortal. De outro modo,
nunca poderíamos afirmar que era Deus se, ao contemplarmos a verdade da encarnação, não
encontrássemos nela razões para proclamar, com clareza e justiça, uma e outra coisa, ou seja,
seu sofrimento e sua impassibilidade. O motivo pelo qual o Verbo de Deus, e portanto
impassível, se submeteu à morte é que, de outra maneira, o homem não podia salvar-se. Este
motivo somente ele o conhece e aqueles aos quais revelou. De fato, o Verbo conhece tudo o que
é do Pai, como o Espírito que esquadrinha tudo, mesmo as profundezas de Deus (1Cor 2,10).

Realmente, era preciso que Cristo sofresse. De modo algum a paixão podia deixar de acontecer.
Foi o próprio Senhor quem declarou, quando chamou de insensatos e lentos de coração os que
ignoravam ser necessário que Cristo sofresse, para assim entrar em sua glória. Por isso, veio ao
encontro do seu povo para salvá-lo, deixando aquela glória que tinha junto do Pai, antes da
criação do mundo. Mas a salvação devia consumar-se por meio da morte do autor da nossa
vida, como ensina São Paulo: Consumado pelos sofrimentos, ele se tornou o princípio da vida
(cf. Hb 2,10).

Deste modo se vê como a glória do Filho unigênito, glória esta que por nossa causa ele havia
deixado por breve tempo, foi-lhe restituída por meio da cruz, na carne que tinha assumido. É o
que afirma São João, no seu evangelho, ao indicar qual era aquela água de que falava o
Salvador: Aquele que crê em mim, rios de água viva jorrarão do seu interior. Falava do
Espírito, que deviam receber os que tivessem fé nele; pois ainda não tinha sido dado o Espírito,
porque Jesus ainda não tinha sido glorificado
(Jo 7,38-39); e chama glória a morte na cruz. Por
isso, quando o Senhor orava, antes de ser crucificado, pedia ao Pai que o glorificasse com
aquela glória que tinha junto dele, antes da criação do mundo.

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