quarta-feira, outubro 06, 2010

O enigma da Cartuxa

 
"A Grande Chartreuse!”
- Os mosteiros que não se visitam;
- Um licor famoso;
- Uns homens escondidos;
- O que implica uma vida pouco conhecida;
A través destas páginas poderás descobrir um pouco mais sobre nossa vida...





A realidade da Ordem da Cartuxa

Os Cartuxos formam uma Ordem milenar, fundada por São Bruno.
Hoje em dia, compõe-se de cerca de 450 monges e monjas que levam uma vida solitária no coração da Igreja, e inclui 24 casas distribuídas em três continentes, vivendo a mesma vocação contemplativa.



Monges solitários e contemplativos



Como todos os monges, os cartuxos consagram sua vida inteira à oração, para trabalhar por sua salvação e pela de toda a Igreja. Esta ordem contemplativa se apóia de maneira particular sobre três elementos:
  • a solidão;
  • certa combinação de vida solitária e de vida comunitária;
  • a liturgia cartusiana.



Monges separados do mundo



"Separados de todos, estamos unidos a todos já que é em nome de todos que nos mantemos na presença do Deus vivo." Estatutos 34.2

A solidão implica a separação do mundo. Assegurada pela clausura, esta solidão se concretiza, entre outros modos, em:
- Uma saída por semana, para o Passeio;
- Carência de visitas;
- Sem apostolado exterior;
- Não há rádio nem televisão.

Cristo: o Caminho, a Verdade, e a Vida

"Ego sum via, et veritas, et vita. Nemo venit ad Patrem, nisi per me."
"Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida, ninguém vem ao Pai senão por mim."
Jo 14, 6.
"[...] desde sempre, com o auxílio do Espírito Santo, Cristo, Verbo do Pai, escolheu homens para que vivam em solidão e se unam a Ele por um amor íntimo." Estatutos 1.1
Para isto é que vivem os cartuxos.


A vida solitária


"Nossa ocupação principal e nossa vocação é a de dedicar-nos ao silêncio e à solidão da cela.[...] Nela com freqüência a alma se une ao Verbo de Deus, a esposa ao Esposo, a terra ao céu, o humano ao divino." Estatutos 4.1

Assim, sacerdotes e irmãos vivem uma vida de oração e de trabalho solitários; os primeiros na cela, e os segundos nas obediências.

Os Ofícios e o trabalho se sucedem segundo um ritmo imutável, ao passo do ano litúrgico e das estações.


A vida comunitária

"A graça do Espírito Santo convoca aos solitários para construir uma comunhão no amor, à imagem da Igreja, que, sendo uma, está estendida por todas partes." Estatutos 21.1
Os cartuxos não são completamente ermitões. As duas dimensões (ativa e contemplativa) presentes em sua vida solitária também se expressam de maneira comunitária: em especial com a missa conventual, o longo ofício noturno, a recreação e o passeio.


A vida material

Conquanto os cartuxos estejam apartados do mundo, não vivem só do espírito. Também eles se vêem na necessidade de responder aos reclamos da humana natureza, ainda que com austeridade.
Os Irmãos se encarregam de uma grande parte destas tarefas. Aos sacerdotes também está reservada uma parte destas tarefas, tanto para ajudar a cobrir as necessidades materiais como para fomentar um bom equilíbrio corporal.

As rendas da Ordem estão em boa parte asseguradas pela comercialização do licor, mas também pelos produtos de artesanato provenientes de algumas das casas.


Maria, mãe e modelo dos Cartuxos

Sob teu amparo nos acolhemos Santa Mãe de Deus,
  não desprezes nossas súplicas nas necessidades,
  antes bem livra-nos sempre de todos os perigos,
  Oh Virgem gloriosa e bendita!
Sub tumm praesidium confugimus, Sancta Dei Genitrix,
  Nostras deprecationes ne despicias in necessitatibus,
  Sed a periculis cunctis libera nos semper,
  Virgo gloriosa et benedicta.


A origem

Um chamado: São Bruno

« Para louvor da glória de Deus, Cristo, palavra do Pai por mediação do Espírito Santo, elegeu desde o princípio alguns homens, a quem levou à solidão para uní-los a si em íntimo amor. Seguindo esta vocação, o Maestro Bruno entrou com seis colegas no deserto de Cartuxa e se instalou ali »
Estatutos 1.1
Quem era Bruno?
Nasceu em Colônia por volta do ano de 1030 e chegou, sendo ainda jovem, a estudar na escola catedralícia de Reins. Adquirido o grau de doutor e nomeado Cônego do Capítulo da catedral, foi designado em 1056 escolaster, isto é, Reitor da Universidade. Foi um dos maestros mais renomeados de seu tempo: «... um homem prudente, de palavra profunda».
Bruno encontra-se cada vez menos a vontade numa cidade onde não escasseiam os motivos de escândalo por parte do alto clero e inclusive mesmo do Arcebispo. Depois de ter lutado com sucesso contra estes problemas, Bruno experimenta o desejo de uma vida mais entregue exclusivamente a Deus.
Depois de uma experiência de vida solitária de breve duração, chegou à região de Grenoble onde o bispo, o futuro São Hugo, ofereceu-lhe um lugar solitário nas montanhas de sua diocese. No mês de junho de 1084 o mesmo bispo conduziu Bruno e seus seis colegas ao deserto do maciço montanhoso de Chartreuse (Cartuxa) que dará seu nome à Ordem. Ali constroem seu eremitério formado com algumas casinhas de madeira que se abrem a uma galeria, que permite aceder sem sofrer demasiado pela intempérie do tempo aos lugares de vida comunitária: A igreja, o refeitório e o Capítulo.
Depois de seis anos de aprazível vida solitária, Bruno foi chamado pelo Papa Urbano II (que fora seu aluno em seu tempo de maestro) ao serviço da Sede Apostólica. Crendo sua novel comunidade que não poderia continuar sem ele, sua Comunidade pensou primeiramente em separar-se, mas finalmente se deixou convencer por continuar a vida na qual tinham sido formados. Conselheiro do Papa, Bruno não se sentia à vontade na Corte Pontifícia. Ele permaneceu somente uns meses em Roma. Com a aprovação do Papa fundou um novo eremitério nos bosques da Calábria, ao sul da Itália, com alguns novos colegas. Ali faleceu a seis de outubro do ano de 1101.
Um depoimento de um de seus irmãos da Calábria :
« Por muitos motivos merece Bruno ser louvado, mas sobretudo por um: Foi um homem de caráter sempre igual (estável). De rosto sempre alegre, e a palavra modesta. Juntava à autoridade dum pai a ternura de uma mãe. Ante ninguém fez ostentação de grandeza, senão que se mostrou sempre manso como um cordeiro. Foi nesta vida, o verdadeiro israelita.»

A primeira Regra: Guigo

« A instâncias de outros eremitérios fundados a imitação de Cartuxa, Guigo, quinto Prior de Cartuxa pôs por escrito a norma de seu propósito (as "Costumes", ou usos de Cartuxa, para 1127) que todos se comprometeram a seguir e imitar como regra de sua observância e como vínculo de caridade da nascente família. »
Estatutos 1.1
Depois que uma avalanche destruiu o eremitério em 1132 sepultando sete monges, o Prior Guigo construiu o eremitério na localização que está até hoje na Grande Cartuxa.

O nascimento da Ordem : Santo Antelmo

« ...durante o priorato de Antelmo se reuniu o primeiro Capítulo Geral (1140) ao qual se submeteram para sempre todas as casas, junto com a mesma casa de Cartuxa. »
Estatutos 1.1
Portanto a partir de 1140 a Ordem dos cartuxos nasceu oficialmente e assim ficou situada entre as grandes instituições monásticas da Idade Média.

As monjas

« Por aquele tempo, as monjas de Prebayón abraçaram também espontaneamente o modo de vida cartusiano. »
Estatutos 1.1
A incorporação teve lugar para em 1145 e foi o início do ramo feminino da família cartusiana.  
Esta foi a origem da nossa Ordem.

A ORDEM HOJE


Situação da Ordem

Em 1984 foi celebrado o 900º aniversário do dia em que Maestro Bruno, nosso Pai, ao entrar com seus companheiros no deserto de Chartreuse. Ele foi o primeiro a praticar um gênero de vida que com a ajuda de Deus tratamos de seguir ainda hoje.
A perseverança ininterrupta de nossa Ordem em seu propósito através das vicissitudes da história, é um sinal de uma solicitude de Deus para ela.
Hoje em dia existem 18 casas de Cartuxos (com uns 370 monges) e 5 casas de Cartuxas (com cerca de 75 monjas). Estas últimas se encontram em França, em Itália e em Espanha. As casas de monges estão na Europa, América, do Norte e do Sul, e Ásia. As Cartuxas no mundo.
Efetivamente, damos muito valor ao fato de que JOÃO PAULO II estimule estimulasse aos Institutos de vida contemplativa para que estabelecessem comunidades nas jovens igrejas. Atualmente continuamos a exploração das possibilidades que existem para a presença da Ordem cartusiana fora do mundo ocidental e uma presença cartusiana na Coréia já foi decidida pelos últimos Capítulos Gerais.

O governo da Ordem

A autoridade suprema da Ordem cartusiana pertence ao Capítulo Geral, que se reúne cada dois anos na Grande Cartuxa, «mãe e origem de toda a Ordem».
Durante esse Capítulo, o Definitório, oito monges eleitos pelos priores (isto é, os superiores) das casas,  forma uma espécie de órgão executivo e a Assembléia plenária o órgão legislativo. Entre Capítulo e Capítulo, a Ordem é governada pelo Prior da Grande Cartuxa ao que se chama «Reverendo Pai», assistido de um Conselho. O último elemento muito importante do governo cartusiano é a instituição dos Visitadores: bienalmente, cada casa é visitada por dois Pais, normalmente Priores de outras Cartuxas.

Os Estatutos

Bruno foi para seus irmãos um modelo vivo, mas não escreveu nenhuma regra monástica para eles. Seus primeiros sucessores, « ... permaneceram naquele lugar sob a direção do Espírito Santo, e guiando-se pela experiência foram criando gradualmente um gênero de vida eremítica próprio, que se transmitia a seus continuadores, não por escrito, senão pelo exemplo. » Estatutos 1.1
Guigo consignou por escrito os Costumes que se usavam na Grande Cartuxa: este é o primeiro texto da Regra cartusiana. Com o correr do tempo se verificaram outras adições ou modificações necessárias. Tornava-se necessário adaptar-se às novas condições de tempos e lugares.
Muito cedo os cartuxos chamaram a sua Regra de vida os Estatutos.
Depois do Concílio Vaticano II, em 1971 e 1973, foram redigidos os «Estatutos renovados da Ordem cartusiana» Para que fossem conformes ao código de Direito canônico de 1983, estes Estatutos foram de novo revisados até chegar aos «Estatutos da Ordem cartusiana», aprovados pelo Capítulo Geral de 1987.
Estes Estatutos, verdadeira soma de espiritualidade monástica, são para nós a transmissão de um caminho de oração. Conduzem-nos à contemplação ou ao «conhecimento saboroso» de Deus, ao qual nossa vida está inteiramente consagrada. («Conhecimento saboroso»: Expressão de Guigo II, autor cartusiano do século 12).  


 

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