Dando  continuidade à série “Canto Litúrgico”, falaremos das instruções   gerais que a Igreja nos dá em relação a cantar a missa: gestos,   momentos, tipo de texto musical e melodias mais apropriadas para este   ministério.
Quando a Instrução Geral do Missal Romano*  (IGMR) explana das partes  próprias do sacerdote dentro da Santa Missa,  deixa claro que existem  partes do rito, chamadas de “presidenciais”, que  exigem ser proferidas  em voz alta e distinta, sendo por todos  atentamente escutadas; assim,  conclui o texto dizendo que “enquanto o  sacerdote as profere, não  haja outras orações nem cantos, e calem-se o  órgão e qualquer outro  instrumento” (IGRM 32). Portanto, embora pareça  dar beleza a estas  partes, como o “Por Cristo, com Cristo e em Cristo  (…)”, não devemos  dedilhar o teclado ou o violão como que fazendo um  ‘fundo musical’ para  estes momentos. É costume em muitos ministérios se  fazer este pano de  fundo durante os momentos de silêncio, como no  momento da Consagração  do pão e do vinho, quando ocorre a  transubstanciação, onde o sacerdote  proclama “TOMAI, TODOS, E COMEI:  ISTO É O MEU CORPO, QUE SERÁ ENTREGUE  POR VÓS (…)”; em algumas  comunidades até se entoa um canto de adoração  após a consagração de cada  espécie. Porém, fica claro na IGMR que este é  um momento de silêncio  absoluto, para que o coração humano preste  total atenção ao milagre que  se manifesta diante de nossos olhos: Jesus  Hóstia Santa, presença real  no meio de nós. Este é apenas um exemplo, e  para continuar a falar de  quando não devemos cantar ou tocar, falemos  do silêncio como ação  litúrgica dentro da Missa.
Nos tempos de hoje o que percebemos é  um grande medo do silêncio  dentro do Santo Sacrifício. Creio que se  manifesta em nós um receio de  que no meio do calar o fiel se disperse do  objetivo daquele momento,  mas, na grande maioria das vezes, acho mesmo  que temos medo de que o  silêncio seja interpretado como um erro por  parte do ministério de  música. É que também a assembléia nem sempre sabe  do lugar e da  importância do silêncio para falar com Deus dentro da  Santa Missa. E  assim, preenchemos todos os “vazios” com música. E isso  nem sempre é  correto.
A Instrução Geral (45) nos apresenta o  silêncio sagrado como parte  da celebração, que tem uma natureza  específica para cada momento.  Assim, temos muitos sacerdotes que pedem  um momento de silêncio durante  o ato penitencial, antes de entoar o  canto; após cada leitura e após a  homilia pode-se guardar um momento de  silêncio para a meditação; após a  comunhão é necessário haver um momento  de reflexão interior, de  silêncio! O quanto nós, ministros de música,  temos roubado daqueles que  comungam o Senhor quando estendemos  demasiadamente o canto de  comunhão, mesmo após a fila ter acabado; como  logo engatamos o chamado  canto de pós-comunhão ou ação de graças – numa  nomenclatura mais  arcaica – não dando espaço para que a comunidade fique  a sós um  instante sequer com o Senhor em seu coração. O Guia  Litúrgico-Pastoral,  da CNBB, pede que “privilegie-se o silêncio, após a  comunhão, como  expressão da intimidade pessoal e comunitária com o  mistério” (p.  30). Que o Senhor faça nossos ouvidos sensíveis ao  silêncio sagrado!
Em breve continuaremos este vasto  assunto, abordando o canto  gregoriano e as melodias e letras que a Santa  Mãe Igreja concebe como  as mais litúrgicas, além de outros detalhes  para melhor celebrar o  Santo Sacrifício com música.
*IGMR (Instrução Geral do Missa Romano) é a grande primeira parte do   conteúdo do Missal Romano, aquele Livro digno de cor vermelha que   permanece sobre o altar e de onde o sacerdote proclama todas as orações   durante a Santa Missa. Nada mais natural de que naquele livro haja  todas  as indicações de como se deve proceder com o Santo Sacrifício,  quais  suas partes, elementos, tempos litúrgicos, como todos os  participantes  devem se portar, desde o padre, passando por leitores,  acólitos,  ministério de música até cada fiel que compõe a assembléia.  Sendo a  Igreja mãe amorosa, disponibilizou todo este conteúdo num livro  que se  encontra em qualquer livraria católica, para ser adquirido por  qualquer  pessoa, com o título “Instrução Geral do Missal Romano e  Introdução ao  Lecionário – texto oficial”, produzido pela própria CNBB  (Conferência  Nacional dos Bispos do Brasil) e a um preço bastante  acessível. Os  números indicados nesta formação são as referências aos  tópicos base  para cada comentário, pois na IGMR cada parágrafo é  numerado para melhor  consulta.
Natalie Rosa P. Neves
Leiga Associada da Fraternidade Missionária O Caminho
Ministério de Música – São Luís/MA
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