A oração. O homem não é plenamente
consciente da potência desse instrumento que está no alcance de suas
mãos; e dizemos com segurança que não o conhece, pois do contrário
usaria com mais frequência.
"Através da oração, falamos com Deus e Deus
fala conosco, aspiramos a ele e respiramos nele, e ele nos inspira e
respira em nós", disse São Francisco de Sales, em seu Tratado de Amor a
Deus. A oração é, portanto, um viver em Deus. Daí que se entende quando
se fala que a oração, feita nas devidas condições, move o coração de
Deus. E quem tem a capacidade de mover a Deus pode se unir à capacidade
onipotente Dele.
Portanto, dizemos que o problema dos
cristãos não é que não têm conhecimento - implícito ou explícito - do
altíssimo poder da oração. Mas muitas vezes a agitação do cotidiano, o
que chamaríamos de "naturalismo vivencial" causado pela impregnação dos
critérios do mundo, - nos afasta da utilização necessária para se falar
com Deus, nos faz esquecer a sua importância vital.
As preocupações do cotidiano, do trabalho,
da atenção com a família, as exigências da vida social, parecem
servir-nos de desculpas para tirar do nosso tempo esses minutos
necessários para nos reunirmos com o Criador.
Mas cremos que o problema de fundo é que o
naturalismo do mundo vai penetrando de forma imperceptível em nossas
almas e nos vai fazendo esquecer que necessitamos recorrer
constantemente a Deus, e confiar menos em nossas forças meramente
humanas.
Aberta ou veladamente, o mundo nos "grita"
que as coisas ocorrem simplesmente por causa daquelas forças naturais
que podemos perceber com nossos sentidos. E isso é mentira. Muito acima
do que um simples homem é capaz de fazer, está a ação de Deus e seus
santos, por meio de sua graça e a atividade dos anjos bons e maus.
Estes
são os elementos que primordialmente dirigem a história, também a nossa
história pessoal, e a todos eles se aceita ou se rejeita por meio da
oração.
De quantas calamidades não nos teremos
vistos livres porque nosso anjo da guarda nos protegeu, ou porque a
rogos da Virgem Maria, Cristo interveio em um momento decisivo? Quantos
são os benefícios que recebemos, não porque os tenhamos obtido com nosso
esforço ou merecido de alguma maneira, mas que nos foi dado
gratuitamente pelas mãos divinas, porque alguém rezou por nós? Muitos,
certamente. Saberemos no dia de nosso juízo.
Entretanto,se é certo que Deus pode nos
auxiliar sem que o peçamos, Ele normalmente exige esta imprecação que,
além do mais, nos une a Ele. E existe algo que definitivamente não se
consegue se não for com o recurso da oração: a prática da virtude,
requisito necessário para alcançar a vida eterna.
Não podemos viver como devemos viver sem a
graça obtida pela oração. Não podemos, é necessário repetir. "Nossas
meras forças naturais são insuficientes". Isso é algo que tem que ser
gravado com letras de bronze fundido no espírito. Ainda que nosso
orgulho e autossuficiência busquem cobrir esta verdade, ela sempre será
confirmada pelo fracasso de uma vida que não recorreu à oração.
Então, para contradizer essa voz tênue ou
forte --externa e interna-- que repete sem cessar que não necessitamos
da oração, devemos encontrar e lembrar constantemente as razões para
orar, para rezar, seja participando da oração litúrgica ou realizando a
oração privada.
E para isso reproduziremos dois textos escolhidos de
santos, do elenco que apresenta o ilustre dominicano Frei Antônio Royo
Marin em sua importante obra "Teologia da Perfeição Cristã":
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- São Boaventura: Se queres sofrer com
paciência as adversidades e misérias desta vida, seja homem de oração.
Se queres alcançar virtude e fortaleza para vencer as tentações do
inimigo, seja homem de oração. (...) Se queres viver alegremente e
caminhar com suaivdade pelo caminho da penitencia e do trabalho, seja
homem de oração. (...) Se queres fortalecer e confirmar teu coração no
caminho de Deus, seja homem de oração. Finalmente, se queres desarraigar
de alma todos os vícios e plantar em seu lugar as virtudes, seja homem
de oração: porque nela se recebe a união e a graça do Espírito Santo, a
qual ensina todas as coisas. E além disso, se queres subir até a altura
da contemplação e gozar dos doces abraços do esposo , exercite na
oração, porque este é o caminho por onde a alma sobe até a contemplação
até o gosto das coisas celestiais.
- São Pedro de Alcântara: Na oração a alma
se limpa dos pecados, apascenta-se a caridade, certifica-se a fé,
fortalece-se a esperança, alegra-se o espírito, derrete-se as entranhas
pacifica-se o coração, descobre-se a verdade, vence-se a tentação, foge a
tristeza, renovam-se os sentidos, repara-se a virtude enfraquecida,
despede-se a tibieza, consome-se a origem dos vícios, e nela saltam
centelhas vivas de desejos do céu, entre as quais arde a chama do divino
amor. Grandes são as excelências da oração, grandes são seus grandes
privilégios. Para ela estão abertos os céus, para ela se descobrem os
segredos, e a para ela estão sempre atentos os ouvidos de Deus.
Por Saúl Castiblanco