Precursor do Messias
Quando
 São João Batista, o preclaro Precursor do Messias abandonou o deserto, 
para onde se tinha retirado, por inspiração do Espírito Santo, foi para o
 rio Jordão, onde começou a batizar e pregar a penitência, preparando 
desta maneira o terreno para a nova doutrina do Salvador, Nosso Senhor 
Jesus Cristo. 
Abusos
 e vícios detestáveis tinham se aninhado na sociedade Judaica e São João
 Batista se propôs a verberá-los energicamente. À testa do governo 
estava o rei Herodes, cognominado Antipas, filho daquele outro Herodes, 
por cuja ordem foram assassinados os inocentes de Belém. É o mesmo 
Herodes Antipas, que figura na Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pois
 ao tribunal desse monarca que Pôncio Pilatos mandou Nosso Senhor, que 
de Herodes só ouviu escárnios e cujos soldados lhe vestiram a túnica 
branca.
Herodes
 antipas vivia escandalosamente, tendo raptado Herodíades, esposa de seu
 irmão Felipe. Essa união ilícita era um mau exemplo e grave escândalo 
para a nação inteira. Não havia quem se sentisse com coragem de censurar
 o monarca e chamá-lo à ordem. São João Batista, porém, não podia ver 
tal coisa, de braços cruzados.
O
 Evangelho diz que Herodes se sentiu atraído pela personalidade 
extraordinária do Batista, e com agrado lhe ouvia as instruções. Diz 
mais que São João lhe declarou, com toda franqueza: "Não te é lícito 
viver com a mulher do teu irmão". O que o rei respondeu, o Evangelho não
 conta; mas podemos crer que Herodes recebeu muito mal a declaração do 
profeta; tão mal que ponderou as possibilidades de livrar-se de tão 
incômodo e importuno monitor. Se não deu passo nesse sentido, foi porque
 temia o povo que a São João grande veneração dedicava. Mais ofendida se
 sentiu a mulher, que tanto fez, tanto instigou, que o rei se decidiu a 
encarcerar o Santo Precursor. Na prisão, João recebia as visitas dos 
discípulos, que ávidos ouviam as instruções do mestre. Alguns deles 
foram, em comissão, enviados ao Divino Mestre, para lhe dirigir esta 
pergunta: "És Tu o que há de vir ou devemos por um outro esperar?". São 
João mandou fazer a Jesus esta pergunta, não porque duvidasse da sua 
divindade e missão messiânica, mas para que os discípulos tivessem 
ocasião de conhecer e presenciar as maravilhas por Ele feitas. 
É
 de opinião dos Santos Padres que a prisão de São João se efetuara em 
dezembro, tendo o Santo ficado encarcerado até agosto do ano seguinte. 
Era em agosto que Herodes festejava pomposamente o seu aniversário 
natalício. Ao suntuoso banquete estavam presentes muitos convivas, entre
 estes os Príncipes da Galiléia. Fazia parte do programa uma dança 
oriental executada pela filha de Herodíades, chamada Salomé. Tão bem a 
jovem desempenhou o papel de dançarina, que Herodes, para lhe mostrar 
seu contentamento, prometeu dar-lhe tudo o que pedisse, ainda que fosse a
 metade do reino. Esta promessa, tão levianamente emitida, o rei ainda a
 confirmou com um juramento. Salomé, tão admirada quão perplexa, diante 
dessa inesperada liberalidade do monarca, foi ter com a mãe, para saber o
 seu parecer. Herodíades achou chegado o momento de livrar-se do odiado 
profeta, e nenhum instante hesitou. "Vai – disse à filha resolutamente –
 e pede a cabeça de João Batista". Sem pestanejar e afoitamente, a 
leviana dançarina transmitiu a ordem da mãe ao Rei e disse-lhe em voz 
alta, para que todos pudessem ouvir: "Quero que me dês num prato, a 
cabeça de João Batista". Ao ouvir um pedido tão bárbaro e desapiedado, 
Herodes apavorou-se mas, não querendo desapontar a moça e lembrando-se 
do juramento que fizera, anuiu e mandou o algoz ao cárcere onde João se 
achava. A ordem de decapitá-lo foi cumprida imediatamente e pouco 
momento depois, Salomé teve satisfeito o seu desejo: a cabeça de João 
Batista, apresentada num prato.
Os discípulos, logo que souberam do crime, retiraram o corpo do querido mestre do cárcere e deram-lhe honroso enterro. 
Os
 assassinos não escaparam da vingança de Deus. O Rei da Arábia, cuja 
filha, esposa de Herodes, por este tirano tinha sido repudiada, abriu 
campanha contra o adúltero, venceu-o e exilou-o. O imperador de Roma, 
por sua vez, desterrou-o para Lion, na Gália. Assim, abandonado por 
todos, fugiu com Herodíades para a Espanha, onde ambos morreram na maior
 miséria. Consta que Salomé, ao atravessar em pleno e regiroso inverno 
um rio coberto de gelo, este cedeu e os pedaços de gelo, chocando-se um 
contra o outro, cortaram-lhe a cabeça. 
O
 martírio de São João se deu um ano antes da morte de Nosso Senhor. O 
corpo do Santo foi enterrado na Samaria. Seu túmulo foi profanado em 362
 pelos pagãos. Piedosos monges salvaram pequenos restos que foram 
entregues a Santo Atanásio, em Alexandria. 
A cabeça de São João Batista foi encontrada em Emese, na Síria em 453 e é hoje a relíquia mais insigne da catedral de Breslau.