A vida contemplativa na igreja
“A vossa vida contemplativa é absolutamente vital para a Igreja e para a humanidade, não obstante a incompreensão ou mesmo oposição que às vezes transparece no pensamento moderno, na opinião pública, e, quem sabe, em certas franjas mal esclarecidas do cristianismo. Nesta certeza, vivei na alegria e radicalidade de vossa condição absolutamente original: o exclusivo amor do Senhor e, NELE, o amor de todos os vossos irmãos em humanidade. Aplicando vossa capacidade de amar na adoração e na prece, a vossa própria existência grita silenciosamente o primado de Deus, atesta a dimensão transcendente da pessoa humana e leva os homens, as mulheres e os jovens a pensar e a interrogar-se sobre o sentido da vida. Uma palavra às caríssimas religiosas que consagram a vida à contemplação e vivem no recolhimento e na clausura a sua vida religiosa. Vossa forma de vida, queridas filhas, vos coloca no coração do Mistério da Igreja. Vossa vida pessoal tem centro no amor esponsal de Cristo, Por isso, modeladas pelo seu Espírito, deveis dar-lhe todo o vosso ser tornando vossos os seus próprios sentimentos, os seus projetos e a sua missão de caridade e de salvação. Ora, isso não se confina dentro das quatro paredes dos mosteiros, mas diz respeito à grande história dos homens, onde se constrói a justiça, onde se cria a comunhão e participação nos bens materiais e espirituais, onde se procura instaurar a civilização do amor, onde, enfim, há de chegar, com a boa nova do Evangelho, a salvação de Deus”. Que os vossos mosteiros permaneçam lugares de paz e de interioridade, sem deixardes que pressões do exterior venham demolir vossas sadias tradições e anular o recolhimento. E orai, orai muito pelos que também rezam, pelos que não podem rezar, pelos que não sabem rezar, e pelos que não querem rezar. E tende confiança! Com estas palavras, o Papa deseja estimular a generosidade de todas as religiosas contemplativas do Brasil”. (João Paulo II, 03/07/1980)
Francisco e Clara, inseparáveis
Às clarissas de Assis – 12/03/1982 – (Fontes Clarianas p. 228ss)
“... Só quero acrescentar a seguinte impressão. Este não é um discurso oficial (dos que se lêem no Osservatore Romano), é um discurso improvisado. Neste momento quero dizer-vos somente, caríssimas religiosas clarissas, irmãs de Santa Clara, uma preocupação que manifestei aos bispos com palavras claras. A vós quero confiá-las diretamente: estou preocupado e estamos preocupados, os bispos desta terra, porque as vocações femininas estão começando a ficar escassas. Parece que a mulher contemporânea, principalmente a jovem, não sente essa vocação. Por isso, eu as convido a rezar; desejo que reproduzais em nossa época o milagre de São Francisco e de Santa Clara, porque a jovem, a mulher contemporânea, deve voltar a encontrar-se nesta vocação, nesta missão, neste esplêndido carisma, escondido certamente e desprovido de exterioridades aparentes, mas, quão profundo! quão feminino! Esposa verdadeira, a alma feminina é capaz do amor pleno e irrevogável para com um esposo invisível. É verdade que é invisível mas, como é visível! Entre todos os esposos possíveis do mundo, é certo que Cristo é o Esposo mais visível de todos os visíveis; é sempre visível, mas permanece invisível e visível na alma consagrada a Deus. São Francisco descobriu Deus uma vez, mas depois voltou a descobri-lo com Clara ao seu lado.
Alocução em Greccio às monjas de clausura (1982)
...”Com emoção dou graças a Deus por vossa presença afetuosa e significativa, e desejo reiterar os sentimentos que suscita em mim, vossa consagração total à vida contemplação. Esta vossa doação ao Absoluto, que exige uma vocação e tem por ideal unicamente o Amor, é um modo típico de ser Igreja, viver na Igreja e cumprir a missão iluminadora e salvadora da Igreja. Quero sublinhar com força o valor essencial e vossa presença no desígnio providencial de redenção e confirmar a validade de vossos propósitos de oração e penitência pela salvação da humanidade.
Vosso ideal é, em primeiro lugar, um sinal para o homem moderno, absorvido por mil problemas e atormentado por tantos acontecimentos sociais e políticos. Com sua vida de oração e austeridade, as irmãs de clausura propõe ao mundo as palavras de Jesus: “Buscai o Reino e tudo mais vos ser dado por acréscimo”. Vosso exemplo real e concreto converte-se em exortação e convite ao homem, para que entre em si mesmo e deixe a superficialidade, dispersão e eficientismo, a fim de experimentar que nosso coração é feito realmente - como dizia Santo Agostinho - para o Infinito e só nele encontrar repouso e paz”.
“... Quisera sublinhar aqui a importância dos pequenos e humildes conventos de clausura, onde continua vivo o espírito de São Francisco e de Santa Clara, elevando-se ali incessantemente orações para que as múltiplas atividades dos demais irmãos e irmãs não apague o espírito de oração e devoção, ao qual todas as outras coisas devem servir, como diz a Regra. Como gostaria de ter mais tempo para refletir convosco sobre este ponto! A oração é sempre a alma da evangelização, a alma de todo apostolado, nossa grande força espiritual”.
“Desejo fazer especial menção, que é também um apelo, àqueles que se consagram para o serviço exclusivo do reino nas formas de vida contemplativa, testemunhando o absoluto de Deus na oração, no silêncio e na imolação escondida: são honra da Igreja e manancial de graças celestiais para a mesma e para todo o mundo. Todos auspiciamos que, num país imenso como o Brasil, marcado pelo dinamismo de nação jovem e de jovens, e por isso, tão necessitado da luz da esperança, com sua dimensão escatológica, se multiplique os oásis de paz, para alertar e ajudar tantos que, espiritualmente, vagueiam por desertos, atormentados pela sede de Deus!”
João Paulo II aos Bispos do Brasil -01/03/1986
“A vossa vida contemplativa é absolutamente vital para a Igreja e para a humanidade, não obstante a incompreensão ou mesmo oposição que às vezes transparece no pensamento moderno, na opinião pública e, quem sabe, em certas franjas mal esclarecidas do cristianismo. Nesta certeza, vivei na alegria e radicalidade de vossa condição absolutamente original, o exclusivo amor do senhor e nele, o amor de todos os vossos irmãos em humanidade. Aplicando vossa capacidade de amar na adoração e na prece, a vossa própria existência grita silenciosamente o primado de Deus, atesta e leva os homens, as mulheres e os jovens a pensar e interrogar-se sobre o sentido da vida.”
João Paulo II - 03 de julho de 1980 - Brasil
“Uma palavra às caríssimas religiosas que se consagram a vida à contemplação, e vivem no recolhimento e na clausura a sua vida religiosa. Vossa forma de vida, queridas filhas, vos coloca no coração do Mistério da Igreja. Vossa vida pessoal tem seu centro no amor esponsal de Cristo. Por isso, modeladas pelo seu espírito, deveis dar-lhe todo o vosso ser, tornando vossos os seus próprios sentimentos, os seus projetos e a sua missão de caridade e salvação. Ora, isso não se confina dentro das quatro paredes dos mosteiros, mas diz respeito à grande história dos homens, onde se constrói a justiça, onde se cria a comunhão e participação nos bens materiais e espirituais, onde, enfim, há de chegar, com a boa-nova do Evangelho, a salvação de Deus.”
João Paulo II - 03 de julho de 1980 - Brasil
“Que os vossos mosteiros permaneçam lugares de paz e de interioridade, sem deixardes que pressões do exterior venham demolir vossas sadias tradições e anular os vossos meios de cultivar e promover o recolhimento. E orai, orai muito pelos que também rezam, pelos que não podem rezar, pelos que não sabem rezar, e pelos que não querem rezar. E tende confiança! Com esta palavra, o Papa deseja estimulara a generosidade de todas as religiosas contemplativas do Brasil”
João Paulo II - 03 de julho de 1980 - Brasil
“Aqui vem a propósito realçar o papel desempenhado na evangelização pelas religiosas consagradas à oração, ao silêncio, ao sacrifício escondido e à penitência. A vossa vida tem um maravilhoso e misterioso poder de fecundidade apostólica... A vossa oblação de amor é integrada pelo próprio Cristo na sua obra de redenção universal, à maneira das ondas que se perdem nas profundidades do oceano!”
João Paulo II - 03 de julho de 1980 - São Paulo - Brasil
Pronunciamentos na Sicília
“Esta feliz ocorrência torna ainda mais significativo o meu encontro convosco. Na recordação, de fato, daquela que foi a primeira das filhas espirituais de São Francisco, é-me grato ressaltar como é importante no nosso tempo o testemunho da vida consagrada, sinal profético do primado divino sobre todas as coisas. Mediante o dom total a Deus, vós queridas Irmãs, sois chamadas a oferecer à Igreja um apelo constante para que, como Comunidade do Ressuscitado, ela procure “as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus” (Cl 3,1). Os mosteiros, autênticos oásis do espírito, onde “a melhor parte que nunca ser tirada” (cf. Lc 10,42) é escolhida como objetivo principal da existência, tornam-se assim silenciosas escolas de vida evangélica, capazes de estimular os crentes a viverem para Deus, em todas as condições concretas da sua existência. De bom grado, portanto, confio às vossas mãos erguidas na oração, os passos desta minha peregrinação apostólica e da minha missão na Igreja e no mundo. Sustentai-me com a vossa dedicação, para que eu possa sempre “confirmar os irmãos”, segundo o mandato de Cristo (cf. Lc 22,32). ...Caríssimas Irmãs, deste lugar que constitui de certo modo o centro da Comunidade diocesana, quereria agradecer-vos o serviço oculto por vós prestado à causa do Evangelho, à difusão do reino de Deus entre os homens. Vós desempenhais um papel essencial no apostolado da Comunidade Eclesial: como lâmpadas acesas ininterruptamente diante do altar do Cordeiro, sustentai a atividade de quantos estão empenhados nas múltiplas fronteiras da evangelização. O Senhor vos torne, dia após dia, cada vez mais conscientes desta vossa missão. Continuai neste itinerário de santificação e de fidelidade ao Evangelho, com constância e alegria, com docilidade ao Espírito Santo e zelo missionário, com escuta de Deus e compartilha fraterna dos corações. ...Agradecer o dom da vocação, significa amar o chamamento divino, amá-lo quer dizer vivê-lo na sua plenitude é dá-lo aos irmãos como fogo que arde. Qual é este dom da vocação, que é recordado pela santa Fundadora às suas filhas, senão o mistério do amor nupcial de Cristo, participado a cada uma de vós mediante o Espírito? Queridas Irmãs, vós sois só de Cristo, chamadas a viver sempre e só para Ele, numa atitude de oblação quotidiana, que vos põe em constante comunhão com as vicissitudes, alegres e tristes, da Igreja. A vossa vocação é o amor, não um amor que se fecha nas estreitas paredes da clausura, mas que alarga o coração até os confins do mundo. Vós viveis para Cristo: por conseguinte, viveis para a Igreja.
A vida claustral é profecia. Vivendo exclusivamente para o Senhor no vínculo da pobreza, da obediência e da castidade, sois convidadas a mostrar aos homens que só Deus é a riqueza autêntica, capaz de satisfazer todo o desejo humano. A dependência dele é condição da verdadeira liberdade e da duradoura paz do coração. Consagradas em absoluta fidelidade a Cristo, vós podeis assim cantar diante da humanidade inteira a alegria daqueles que vêem a Deus (cf. Mt 5,8), anunciando no tempo o mistério daquele dia eterno, quando Deus “ser tudo em todos” (1Cor 15,28)
(Sicília, 10/05/93).
Trecho da homilia na canonização de Santa Eustóquia
...”Vós, Senhor, sois o meu Deus, anseio por vós. Minha alma está sedenta de vós” (Sl 62). Matura e serena é aquela alma que adverte a exigência de Deus com a mesma intensidade, com que a “terra rida, exausta, sem água” espera a chuva que d refrigério e vida. Adulta na fé e alegre na graça aquela pessoa que, quer no silêncio da noite e da contemplação, quer na oração simples, elevada também no trabalho cotidiano, se confia à paternidade divina para ter conforto e paz: Deus concede sempre estes dons a quem se refugiar sob as Suas asas. A contemplação da misericordiosa bondade divina é alimento e bebida que “sacia a alma”, a qual é preenchida pela linfa vital de Cristo. A assimilação a Jesus, que daqui deriva, faz viver a pessoa de modo sobre-humano, porque j não se vive para nós mesmos, mas para Deus, cumprindo a Sua vontade e participando da Sua vida, procurada com ardor incessante. ...Deus chamou Santa Eustóquia tomou-a para Si e ela, no deserto da sua cela e nas prolongadas vigílias, viveu a expectativa do seu Senhor e Esposo, o qual a tornou capaz de entender as divinas palavras que dirigia ao seu coração. ... Quando, portanto, a alma humana sente a chamada do seu Deus, daquele Deus que ela procura, sem o qual é “como terra rida, deserta, sem água”, então realiza-se no homem uma conversão cada vez mais profunda.
Protomosteiro de Assis – 10/01/1993
“... Vós representais a Igreja Esposa, a “Ecclesia orans”, que na sua perseverante e unânime oração nos Mosteiros do Ocidente, se une à ardente intercessão dos Mosteiros do Oriente “pela paz que desce do alto e pela unidade de todos”
... Na nossa época é necessário repetir a descoberta de Santa Clara, porque é importante para a vida da Igreja. Não sabeis quanto vós, ocultas e desconhecidas, sois importantes na vida da Igreja, quantos problemas, quantas coisas dependem de vós. É necessária a redescoberta daquele carisma, daquela vocação, é necessária a redescoberta da legenda divina de Francisco e de Clara.
... Peço-vos que continueis a sustentar meu universal ministério petrino com a força da vossa oração incessante. Sim, com a oração, na qual se revela um peculiar aspecto do perfil mariano da Igreja. Vós, de fato, sois na Igreja um particular “ícone” do mistério de Maria, segundo as palavras de Francisco dirigidas a Clara e às suas irmãs (cf. Seleções n. 48).
L'Oservatore Romano n. 35 29 de agosto de 1993
“A vida de Clara foi uma Eucaristia “...O itinerário contemplativo de Clara, que se concluir com a visão do “Rei da Glória”, inicia precisamente do seu entregar-se totalmente ao Espírito do Senhor, à maneira de Maria na Anunciação: isto é, inicia daquele espírito de pobreza, que j não deixa nada nela senão a simplicidade do olhar fixo em Deus. Para Clara a pobreza - tão amada e tão citada nos seus escritos - é a riqueza da alma que, despojada dos próprios bens, se abre ao “Espírito do Senhor e à sua santa operação”, como concha vazia na qual Deus pode derramar a abundância dos seus dons. O paralelo Maria-Clara aparece no primeiro escrito de São Francisco, na “Forma vivendi” dada a Clara: “Por inspiração divina tornastes-vos filhas e servas do altíssimo e sumo Rei, o Pai celeste, e tornastes-vos esposas do Espírito Santo, escolhendo viver segundo a perfeição do santo Evangelho”. Clara e as suas irmãs são chamadas “esposas do Espírito Santo”: termo desusado na história da Igreja, onde a religiosa, a monja é sempre qualificada como “esposa de Cristo”. Mas ressoam aqui alguns termos da narração de Lucas acerca da Anunciação, que se tornam palavras-chaves para exprimir a experiência de Clara: o “Altíssimo”, o “Espírito Santo”, o “Filho de Deus”, a “escrava do Senhor” e, por fim, aquela “sombra” que para Clara é o velamento, no momento em que os seus cabelos, cortados, caem aos pés do altar da Virgem Maria na Porciúncula “quase diante do tálamo nupcial”. A “atuação do Espírito do Senhor”, que nos é dado no Batismo, é a de criar no cristão o rosto do Filho de Deus. Na solidão e no silêncio, que Clara escolhe como forma de vida para si e para as suas coirmãs, entre os paupérrimos muros do seu mosteiro, a meio da encosta entre Assis e a Porciúncula, dissipa-se a nuvem de fumo das palavras e das coisas terrenas, e a comunhão com Deus torna-se realidade: amor que nasce e que doa. Clara, inclinada em contemplação sobre o Menino de Belém, assim exorta: “uma vez que esta visão dele é esplendor da glória eterna, claridade da luz perene e espelho sem mancha, todos os dias leva a tua alma para junto deste espelho... Contempla a pobreza daquele que foi depositado no presépio e envolvido em pobres panos. Ó admirável humildade e pobreza que causa maravilha! o Rei dos anjos, o Senhor do céu e da terra, está recostado numa manjedoura! Ele nem sequer percebe que também o seio de virgem consagrada, e de “virgem pobrezinha” apegada a “Cristo pobre”, se torna, mediante a contemplação e a transformação, um berço do Filho de Deus”. É a voz deste Menino que da Eucaristia, num momento de grande perigo - quando o mosteiro esta para cair nas mãos de tropas sarracenas a serviço do Imperador Frederico II - a consola - “Eu vos guardarei sempre!” Na noite de natal de 1252, Jesus Menino transporta Clara longe do seu leito de enferma e o amor, que não tem lugar nem tempo, envolve-a numa experiência mística que a imerge no abismo infinito de Deus.
Se Catarina de Sena é a Santa cheia de paixão pelo Sangue de Cristo, Teresa, a Grande, é a mulher que vai de “incumbência” em “incumbência” até ao limiar do Grande Rei, no Castelo interior, e Teresa do Menino Jesus é aquela que percorre, com simplicidade evangélica, a pequenina via, Clara é a amante apaixonada do Crucificado pobre, com que quer absolutamente identificar-se (cf. 2CtIn 19-22). ...Clara, que entra no mosteiro com apenas 18 anos, ali morre com 59 anos, depois duma vida de sofrimentos, de oração jamais diminuída, de dificuldades e de penitência. Por causa deste “ardente desejo do Crucificado pobre”, nada lhe pesar , a ponto de dizer no fim da vida ao Frei Reinaldo, que a assistia “no longo martírio de enfermidade tão grave...: Desde que conheci a graça do meu Senhor Jesus Cristo, por meio daquele seu servo Francisco, nenhuma dor me foi molesta, nenhuma penitência pesada, nenhuma enfermidade me foi dura, irmão caríssimo” (LSC 44). ... Na realidade, a vida inteira de Clara era uma eucaristia, porque - de igual modo como Francisco - ela elevava da sua clausura um contínuo “agradecimento” a Deus com a oração, o louvor, a súplica, a intercessão, as l grimas, a oferta e o sacrifício. Tudo era por ela acolhido e oferecido ao Pai, em união com a infinita “ação de graças” do Filho Unigênito, menino, crucificado, ressuscitado, vivo à direita do Pai. ...Com que maior fervor deve convergir para ela o vosso olhar, a fim de haurirdes dos seus exemplos estímulo a intensificar o impulso para corresponder às graças do Senhor, com dedicação cotidiana àquele empenho de vida contemplativa, da qual Igreja haure tanta força para a sua ação missionária no mundo hodierno. Cristo, nosso Senhor, seja a vossa luz e a alegria dos vossos corações.
Pronunciamento às Contemplativas em Bolonha
“A vós, Jesus revela o seu mistério de amor, para que o sirvais, como Maria, no silêncio fecundo da fé, tornando-se colaboradoras na obra da salvação. Caríssimas Irmãs, a vossa vida, recolhida e custodiada no mistério da Trindade, vos torna participantes do íntimo diálogo de amor que o verbo ininterruptamente mantém com o Pai no Espírito Santo. A comunidade eclesial reconhece em vossa vida um sinal da união exclusiva da Igreja Esposa com o seu Senhor. O mistério da esponsalidade, que pertence à Igreja em sua inteireza, assume nas vocações de especial consagração um relevo particular, que alcança a sua mais eloqüente expressão na mulher consagrada: pela sua mesma natureza, com efeito, ela é figura da Igreja, virgem, esposa e mãe, a qual mantém íntegra a fé no Esposo, gerando os homens para a vida nova do Batismo. Na religiosa claustral, pois, exatamente porque ela está empenhada em viver em plenitude o mistério esponsal da união exclusiva com Cristo, se cumpre o mistério celeste da Igreja. A clausura constitui uma maneira particular de estar com o Senhor, participando de seu aniquilamento numa forma de radical pobreza, mediante a qual se escolhe Deus como o único necessário, amando-o exclusivamente como o Tudo de todas as coisas. De tal modo os espaços do Mosteiro claustral se dilatam sobre horizontes imensos, porque abertos ao amor de Deus que abraça toda criatura. A clausura, portanto, não é só um meio de imenso valor para conseguir o recolhimento, mas um modo sublime de participar da Páscoa de Cristo. A vocação claustral vos insere no Mistério eucarístico, favorecendo a vossa participação no Sacrifício redentor de Jesus pela salvação dos homens. À luz dessas verdades aparece o liame que existe entre contemplação e missão. Mediante a união exclusiva com Deus na caridade, a vossa consagração torna-se misteriosamente, mas realmente fecunda. Esta é a vossa modalidade típica de participar na vida da Igreja, o contributo insubstituível à sua missão, que vos torna ‘colaboradoras de Deus e sustento dos membros débeis e vacilantes de seu inefável Corpo (Santa Clara de Assis). Na vossa forma de vida torna-se visível também aos homens o rosto orante da Igreja, o seu coração inteiramente possuído por Cristo e pleno de gratidão pelo Pai. De cada mosteiro se eleva incessante a oração de louvor e de intercessão pelo mundo inteiro, do qual vós sois chamadas a acolher e condividir sofrimentos, expectativas e esperanças.”
João Paulo II às contemplativas - Bolonha - 28 de setembro 1997.
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