sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Elizabeth da Trindade

Elisabete Catez Rolland, filha de Francisco José e de Maria, nasceu perto de Bourges, França, num acampamento militar do campo de Avor, na manhã de domingo, dia 18 de julho de 1880, tendo sido batizada no dia 22 de julho, na capela do mesmo acampamento.

Desde menina distinguiu-se por seu temperamento apaixonado, um tanto agressivo, mas por outro lado marcado por uma agradável sensibilidade. Sua mãe conta: “Quando tinha um ano, já se manifestava a sua natureza ardente e colérica… Foi pregada uma missão durante a nossa estadia devendo terminar com a bênção das crianças. Uma religiosa veio-me pedir uma boneca para representar o Menino Jesus, no presépio, devendo vestir-se com um traje cheio de estrelas douradas e irreconhecíveis aos olhos da menina. Levei-a a cerimônia. A criança esteve distraída com as pessoas que chegavam, mas quando o prior do alto do púlpito anunciou a Bênção, Elisabeth deitou um olhar sobre o presépio e reconheceu a boneca e, num ímpeto de cólera, com o olhar furioso, exclamou: ‘Jeanette! Dêem-me a minha boneca!” A criada teve de levá-la no meio duma risada geral. “Esta natureza ardente e colérica cada vez mais se acentuou…” (RB 1,2-3).

Seu pai faleceu no dia 2 de outubro de 1887, de repente, vítima de uma crise cardíaca. Elisabete, que tinha então sete anos e dois meses, relembrará dez anos mais tarde essa hora trágica. A morte do pai causará a “conversão” e mudança de caráter de Elisabete. Como fruto de sua vida de ascese e oração.

Faz sua primeira comunhão no dia 19 de abril de 1891, em Dijon. Indo com outras companheiras visitar o Carmelo recebe um “santinho” da Priora, Madre Maria de Jesus, que na dedicatória traduz o nome Elisabete por “Casa de Deus”.

Desde os oito anos estudou música no Conservatório de Dijon. Todos os dias passava horas ao piano. Muitas vezes participou em concertos organizados na cidade. Seu talento precoce merece elogios nos jornais locais. No dia 24 de julho de 1893, apesar da sua pouca idade, obteve o primeiro prêmio de piano do Conservatório.

A jovem Elisabete freqüentará a sociedade local. No decorrer de uma festa, enquanto dançava e se divertia, a Sra. Avout, surpreendeu o seu olhar e lhe segredou: “Elisabete, não estás aqui, estás vendo Deus…” Havia nos seus olhos “um não sei quê de luminoso que irradiava”, disse Louise de moulin, que Elisabete preparava para a Primeira Comunhão. Um de seus amigos de juventude, que a tinha encontrado várias vezes quando todos os dias ia ver a sua grande amiga, a vizinha Marie Louise Hallo, Charles, irmão desta, não economiza superlativos quando descreve Elisabete como “muito simples e duma espantosa franqueza… muito querida pelas suas companheiras… muito alegre, muito musical… a sua doçura refletia-se-lhe no olhar extraordinário e luminoso… a pureza transparecia-lhe no olhar”. A Senhora Hallo confirmará o esplendor do olhar de Elisabete, especialmente quando voltava da comunhão: “nunca poderei esquecer o seu olhar. O rosto de Elisabete, quando voltava da comunhão, não se pode explicar”.

No dia 2 de janeiro de 1901, aos 21 anos, ingressou no Carmelo Descalço de Dijon, cidade onde vivia com sua sua família.

Recebeu o hábito no dia 8 de dezembro de 1902 e no dia 11 de janeiro de 1903 emitiu seus votos religiosos na Ordem do Carmelo, que já amava com toda sua alma.

Com sua vida e doutrina, breve mas sólida, exerce grande influência na espiritualidade atual, especialmente por sua experiência trinitária. Em sua obra distinguem-se: Elevações, Retiros, Notas Espirituais e Cartas.

Foi beatificada pelo papa João Paulo II, no dia 25 de novembro de 1984, festa de Cristo Rei. Sua festa é celebrada no dia 8 de novembro.


DOUTRINA ESPIRITUAL DE SANTA ELIZABETH DA TRINDADE.



É através de suas cartas que conhecemos a espiritualidade de Elisabete da Trindade, formada
por três elementos básicos.


1º elemento – É fundamental sair de si mesmo. Ela ensina a libertar-se de tudo que possa nos prender. Esquecer-se de si mesmo “para fixar-me em vós”, dirá Elisabete. A alma mais livre é aquela que se esquece mais de si mesma. Por isso, é necessário purificar a nossa vontade, trabalhar a nossa vontade.

2º elemento – Atrair as almas para o recolhimento, o silêncio interior. O silêncio é a maior expressão da contemplação. É por ele que se chega à unidade de todo o nosso ser e a unidade de nosso ser com Deus. É no silêncio interior que se vive a intimidade com as três pessoas divinas.

3º elemento – Ir a Deus pela fé; ser louvor de glória, como era o seu lema. Ser louvor de glória é ser uma alma que permanece em Deus; é estar com Deus num profundo silêncio. O sofrimento também canta os louvores, sempre em ação de graças. Ser louvor de glória é ser uma alma que canta sempre.

Elisabete, por ser tão intimamente unida a Deus Trinitário, irradia Deus. Não precisa de palavras, basta a sua presença e tudo se explica. Por isso, o apostolado de Elisabete era a sua própria vida de união com Deus. (Tirado da apresentação do Frei Pierino no Congresso)

Complemento com um trecho da página do Carmelo Nossa Senhora Aparecida – BH:

Irmã Elisabeth é uma alma que se transformou dia a dia no mistério trinitário. Enamorada por Jesus Cristo, que é “seu livro preferido”, eleva-se à Trindade, até que “Isabel desaparece, perde-se e se deixa invadir pelos Três”.

“A Trindade: aqui está nossa morada, nosso lugar, a casa paterna de onde jamais devemos sair… Encontrei meu céu na terra, posto que o céu é Deus e Deus está em minha alma. No dia em que compreendi isto, tudo se iluminou para mim”.

“Crer que um ser que se chama Amor habita em nós a todo instante do dia e da noite, e nos pede que vivamos em sociedade com Ele, eis aqui, garanto-vos, o que tem feito de minha vida um céu antecipado”. Amou intensamente sua vocação carmelita e também amou e imitou a “Janua Coeli”, como chamava Nossa Senhora. Andou a passos largos no caminho da perfeição. Faleceu no dia 9 de novembro de 1906, vítima de úlcera estomacal, murmurando, quase cantando: “Vou à luz, ao amor, à vida”.

Sua mensagem:

* que corramos no caminho da santidade;
* que o Espírito Santo eleve nosso espírito;
* que sejamos sempre um louvor à glória da Santíssima Trindade;
* que sejamos dóceis às moções do Espírito Santo.

Oração:
Deus, rico em misericórdia, que revelastes à beata Elisabeth da Trindade o mistério de vossa presença escondida na alma do justo, e dela fizestes uma adoradora em espírito e verdade, concedei-nos, por sua intercessão, que também nós, perseverando no amor de Cristo, mereçamos ser transformados em templos do Espírito de Amor, para louvor de vossa glória. Amém.

Beata Elisabeth da Trindade, rogai por nós!


SELEÇÃO DE FRASES DAS CARTAS DA BEATA ELISABETH DA TRINDADE

Seleção I

Eu sou “Elisabeth da Trindade”, ou seja, a Elisabeth que desaparece, que se perde nos Três e se deixa invadir por eles.

Só nos resta esvaziar-nos, desapegarmo-nos de tudo, para que nada mais exista senão Ele, e só Ele… É aos pés da cruz que a gente sente em profundidade todo esse vazio das criaturas, essa sede infinita d´Ele.

Sim, nós lhe pertencemos totalmente, entreguemo-nos todas ao nosso predileto Jesus num generoso abandono! Fazer a sua vontade é o que há de mais belo. Ofereçamos-lhe nosso exílio. É tão doce sofrer por quem se ama…

Amemos, portanto, o nosso Dileto, mas com amor calmo e profundo! Permaneçamos em recolhimento ao lado Daquele que é (Esd 3,14), junto ao Imutável cuja luz sempre resplende sobre nós. Nós somos aqueles que não são. Vamos até ele, que quer que sejamos todas suas e que nos envolve por toda parte, de maneira que já não somos mais nós que vivemos, mas sim ele (cf. Gl 2,20).

Como é grande a bondade do divino Prometido e como parece refulgir mais na obscuridade da prova!

Ele nos marca com o sinete da cruz para que mais nos assemelhemos a ele… Na realidade, existem correspondências de amor que só se pode compreender na cruz.

Ele me aparece sempre mais ao meu pensamento como a Águia divina. Nós somos a presa do seu amor. Agarra-nos, coloca-nos sobre suas asas e leva-nos para longe, às alturas sublimes onde a alma e o coração gostam de perder-se!

… acaso podemos desejar alguma coisa que ele não queira? Porventura não estamos prontas a permanecer neste mundo enquanto ele quiser? Como é bonito unir, identificar a nossa vontade com a dele!

Que alegria sofrer, dar algo a quem se ama.

“Deus em mim, e eu nele” deve ser o nosso lema. Que jubiloso mistério a presença de Deus dentro de nós, neste íntimo santuário das nossas almas onde sempre podemos encontrá-lo, também quando não percebemos mais sensivelmente a sua presença! Que importa o sentimento? Talvez ele esteja também mais perto, quando menos o sentimos.

É aqui, no fundo da alma, que gosto de procurá-lo. Preocupemo-nos em não deixá-lo jamais sozinho, e em que a nossa vida seja uma contínua oração. Quem poderá, acaso, raptar-nos o nosso Bem-Amado ou distrair-nos daquele que nos tomou e nos fez totalmente suas? Como é grande a sua bondade!

… Os seus sofrimentos agradam muito ao seu Bem-Amado, o qual se compraz em prolongá-los desta maneira. Eles constituem o sinal da sua predileção, da sua vontade de uni-la intimamente a si.

Se ele nos prova, ocultando-se à nossa alma, é porque já sabe que o amamos demasiado para que o deixemos. Por isso, deixemos que ele ofereça também a outras almas as suas doçuras e as suas consolações para atraí-las a si. E nós amemos esta obscuridade que nos aproxima dele.

Se soubesse como às vezes sinto nostalgia do céu! Como gostaria de voar para lá, junto de meu Deus!

Percamo-nos nessa Trindade Santa, nesse Deus todo Amor, deixemo-nos transportar nessas regiões onde não há mais do que ele, só ele!

Pertencemos-lhe… deixemos que o nosso Bem-Amado nos tome e leve aonde melhor lhe aprouver… o meu coração não agüenta mais, pois está todo possuído por Ele! Mas o que estou dizendo? Ele não se apodera de nós para levar-nos para longe, Ele que está sempre dentro de nós: Ele, o “Imutável”, “Aquele que é” (Ex 3,14).

… Encontrei o meu céu na terra, nesta querida solidão do Carmelo onde estou a sós com meu único Deus. Tudo faço com ele e realizo todas as coisas com alegria divina.

Oh! Sinto que todos os tesouros encerrados na alma de Cristo são meus e me sinto, assim, tão rica. Com que alegria e felicidade vou abeberar-me neste manancial em favor de todos aqueles que amo e que me fizeram tanto bem.

Aqui não há nada, nada mais que ele somente. Ele é tudo, ele basta, só se vive dele e encontramo-lo por toda parte…

… quando se sente triste, diga-o àquele que tudo sabe, que tudo compreende e que é o Hóspede de sua alma. Pense que ele se acha dentro de você como numa pequena hóstia.



Durante o dia, pense às vezes naquele que está dentro de você e que tem tanta sede de ser amado. É perto dele que você sempre me há de encontrar!



Veja só como é maravilhosa a união das almas! Devemos amar-nos acima de tudo o que é passageiro: então nada pode separar. Amemo-nos assim.



Aconselho-a a simplificar o número de livros… Pegue o seu crucifixo, olhe-o, ouça-o. Você sabe que é ali que temos nosso encontro.



Mesmo no trabalho, podemos rezar ao bom Deus: basta pensar nele. Então tudo se torna suave e fácil, porque não agimos sozinho, mas ali também Jesus está atuando.



Amo sempre mais estas queridas grades que me constituem prisioneira do amor.



Vivamos com Deus como com um amigo. Procuremos avivar a nossa fé para comunicar-nos com ele através de todas as coisas, pois assim conseguimos a santidade.



Nós carregamos o céu dentro de nós, porque aquele que sacia os bem-aventurados, na luz da visão beatífica, entrega-se a nós na fé e no mistério.



… o abandono leva-nos a Deus. Eu sou muito jovem, mas às vezes me parece que já sofri muito. Então, nesses momentos de confusão, quando o presente me era tão doloroso e o futuro me parecia ainda mais obscuro, eu fechava os olhos e me abandonava como uma criança nos braços daquele Pai que está nos céus.



Não basta deter-nos diante da cruz e contemplá-la, mas precisamos recolher-nos na luz da fé, elevar-nos mais alto e pensar que ela constitui o instrumento do amor divino.

A Carmelita é uma alma que contemplou o divino Crucificado, que o viu oferecer-se como vítima ao seu Pai em prol das almas; ela reflete à luz desta grande visão da caridade de Cristo e compreendeu, assim, a paixão de amor da sua alma e quis entregar-se como ele!…

… Vivamos na intimidade com o nosso Amado, sejamos totalmente dele como ele é completamente nosso.

Bem que eu quisera ser uma alma totalmente silenciosa e adoradora para poder penetrar sempre mais nele. Quisera encher-me de Sua plenitude, que pudesse dá-lo mediante a oração àquelas pobres almas que ignoram o dom de Deus!

Quando contemplo a minha vida passada, descubro, como que uma divina perseguição de amor sobre minha alma. Oh! Quanto amor! Sinto-me como que esmagada sob o seu peso e só me resta calar e adorar!

Quer saber como é que me comporto quando me encontro um pouco cansada? Olho para o crucifixo, e, vendo como ele se sacrificou por mim, sinto que só posso prodigalizar-me por ele e consumir-me, a fim de restituir-lhe um pouco daquilo que me deu!

E pensar, minha boa Madre, que temos o céu dentro de nós, aquele céu de que às vezes sinto tão pungente nostalgia!

Oh! Se você soubesse como ele é bom, como é todo amor! Eu lhe peço que se revele à sua alma, que seja o amigo que você sempre saiba encontrar. Então tudo se esclarece e ilumina e a vida se torna algo tão belo de viver!

Creio que não há nada que nos manifesta tanto o amor que está no coração de Deus como a Eucaristia. É a união consumada, é ele em nós e nós nele; e não lhe parece que isto é o céu na terra?

Ele colocou no meu coração uma sede de infinito e uma necessidade tão grande de amar, que só ele pode saciar.

O sacrifício é um sacramento que nos leva a Deus. Ele o envia àqueles que ama e que deseja estejam perto dele!
… Se o bom Deus nos separou, é porque ele quer ser o Amigo que a gente sempre pode encontrar. Ele está postado à porta do coração… e espera.

E eu amo tanto aquele Deus que me quer ciumentamente só para si. Sinto tanto amor me envolvendo a alma! É como se fosse um oceano em que me lanço e me perco… Ele está em mim e eu nele. Só tenho que amá-lo e deixar que me ame, a cada instante, em cada coisa.

A alma não pode resistir ao seu apelo. Ele subjuga, acorrenta; a gente não se pertence mais a si, mas nos tornamos a presa do seu amor. O coração pode sofrer arranhões, mas na alma reina uma paz inefável…

Eu sou “Elisabeth da Trindade”, ou seja, a Elisabeth que desaparece, que se perde nos Três e se deixa invadir por eles.

Vivamos de amor, sejamos simples como ela, sempre no mais completo abandono, imolando-nos momento após momento no cumprimento da vontade de Deus, sem procurar coisas extraordinárias.

Nós somos tão fracas ou, até mesmo, não somos senão miséria; mas ele sabe disso e gosta de perdoar-nos, de soerguer-nos e, depois de, de arrebatar-nos para junto de si, na sua pureza, na sua santidade infinita.

Quero ser santa. Santa para fazê-lo feliz. Peça-lhe que eu só viva de amor! Esta é a minha vocação!

Os santos são almas que se esquecem a todo instante de si, que desaparecem de tal maneira naquele que amam, que não se preocupam com sua própria pessoa…

Como compreendo, agora, o recolhimento e o silêncio dos santos que não conseguiam mais abandonar a sua contemplação.

Gosto de contemplar a minha vida de carmelita nesta dupla vocação: “Virgem-Mãe”. Virgem, desposada com Cristo na fé. Mãe, salvando as almas e multiplicando os filhos adotivos do Pai…

Não existem mais distâncias, porque já é o Uno como no céu… o céu que um dia chegará quando então veremos a Deus na sua luz.

Reze por mim: o horizonte é maravilhoso, o sol divino faz brilhar a sua grande luz. Peça que a borboletazinha queime suas asas em seus raios.

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