por Maria Emmir Nogueira, Co-fundadora da Comunidade Shalom 
A belíssima frase  que entitula este artigo é atribuída a São Padre Pio de Pietrelcina, o  santo capuchinho que durante 50 anos viveu estigmatizado elevando a  todos com seus conselhos e milagres, especialmente através do Sacramento  da Confissão. Ninguém mais abalizado que ele para afirmar algo tão  verdadeiro e tão moderno.
Sabemos como o Senhor esvaziou-se de sua  divindade e fez-se pequeno, fez-se homem, fez-se pobre de todos os bens  do céu para tornar-nos ricos de sua riqueza, como diz Paulo em  Coríntios. Sabemos, também, quantos milagres ele realizou, quantos  mortos ressuscitou, quantas vezes a natureza terrestre e angélica se  prostrou, em obediência, a seus pés através do mar, dos ventos, das  curas, dos exorcismos.
Naturalmente, todos desejamos seguir Jesus, ser  como ele, viver a vida dele, com os seus pensamentos, seus sentimentos,  seu amor ao Pai e aos homens. Esse desejo santo, contudo, tende a estar  mais atento aos milagres e prodígios do que à paixão e à cruz. Queremos,  certamente, ser como Jesus é: o Deus das maravilhas, o Filho do homem  enquanto amado e seguido por muitos que, em seu tempo, iam atrás dele  fosse onde fosse... exceto à cruz.
Mesmo seus discípulos mais fiéis, aqueles a quem  escolhera e chamara pelo nome, com eleição eterna e eterno afeto, mesmo  esses o abandonaram na cruz, com exceção de João. É que muitos naquela  época, como muitos hoje, buscam o Senhor pelo que ele lhes pode dar e  não pelo que eles podem “dar” ao Senhor. Buscam o Senhor em sua glória,  mas fogem em sua cruz.
Para entendermos bem esse mistério de troca de  amor, é preciso saber que o Senhor assumiu nossa humanidade e jamais irá  separar-se dela. Jesus, para sempre e sempre, é Deus e homem. É também,  cabeça da Igreja, isso é, nossa cabeça, aquele a quem seguimos. Isso,  somado ao milagre cotidiano da Eucaristia, significa que o Senhor que se  fez carne, partilha conosco toda nossa vida: sofrimentos e alegrias,  dores e felicidade. 
A partilha entre os que se amam jamais é  unilateral. É exatamente porque Jesus nos ama que partilha conosco sua  glória: as curas, os milagres, as ressurreições no corpo e na alma, na  Igreja, na sociedade, na natureza. A maior e mais nobre das partilhas,  porém, a partilha de sua paixão e cruz é o fundamento mesmo de seu amor  por nós e do nosso por ele.
Ao encarnar-se, assumiu para si nossa maior  podridão, nossa mais poderosa fonte de sofrimento e causa de nossa  morte: o pecado. Sem jamais ter pecado, tomou sobre si, em sua paixão e  cruz, todo o sofrimento e morte que o pecado havia feito entrar no  mundo. O resultado foi sua morte na cruz e sua ressurreição. 
Nós, como corpo de Cristo, somos chamados a  amá-lo e ser corpo de seu corpo, alma de sua alma, esposa, Igreja. O  amor consiste em estar presente tanto na gloria quanto na dor. É verdade  que nossos atos de amor a Cristo não acrescentam nada à sua cruz.  Entretanto, acrescentam – e muito – à nossa salvação e à do mundo. É  nesse sentido que São Paulo diz: “Suporto em minha carne o sofrimento  que faltou à cruz de Cristo”. 
Em nossa vida, não precisamos buscar  sofrimentos, não é verdade? Eles simplesmente nos alcançam de todas as  formas, como consequência do pecado que marcou toda a criação. A grande  boa nova é que podemos, pela cruz de Cristo, nos libertar desse  sofrimento exatamente como ele mesmo se libertou: escolhendo livremente  sofrer a dor que se nos apresenta não mais sozinhos, mas com ele e com o  Pai e tomando, com ele, nossa cruz. Mas atenção: o sofrimento só se  transforma em cruz em três condições: primeira, que transformemos a dor  que nos atinge em dor livremente escolhida e acolhida por nós por amor a  Cristo e à humanidade; segunda: que o unamos à cruz de Cristo, que  vence o pecado, a dor e a morte; terceira, que o transformemos em ato de  amor a ele e aos homens que ainda não o conhecem, isto é, que o amam e  obedecem.
O mais lindo nessa história toda é que, ao  buscarmos Cristo não somente em sua glória, mas também em sua cruz,  seremos dignos dela e dele. Ou seja, viveremos uma vida de entrega de  amor a Cristo por amor ao homem. O belo, porém, é que ao abraçar a cruz  de Cristo através de nossos sofrimentos de cada dia, do menorzinho ao  maior de todos, estaremos caminhando ... para a sua glória. 
Isso mesmo! O caminho para a glória de Cristo e  do céu é a cruz. É unir-se a ele através do amor, abraçando por amor o  sofrimento que ele abraçou em sua paixão. Não há outro caminho para a  glória. E não há glória autêntica que não seja a de Cristo. É por isso  que, com razão, o santo diz: se só busca a Cristo em sua glória, então,  não és digno de sua cruz. O contrário também é verdadeiro: se buscas a  Cristo em sua cruz, serás digno de sua glória.
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