segunda-feira, julho 26, 2010

Música litúrgica - Introdução ao Ordinário


Quando me coloquei a tarefa de explicar o Próprio da Missa, uma das primeiras coisas que fiz foi compará-lo ao seu companheiro, o Ordinário, para poder contrastar os dois e dizer, explicando o que o Próprio não é, o que ele é. Ao começar um esboço sobre o Ordinário, não me parece tão despropositado utilizar o mesmo método; tanto que começo dizendo, neste momento, que o Ordinário é ordinário precisamente porque não é Próprio.

O leitor pode ter certeza de que estou falando sério, mesmo que agora eu invoque uma particularidade um pouco cômica da língua portuguesa: o adjetivo “ordinário” tem neste idioma, entre outros significados, um aspecto negativo do qual às vezes nos valemos para ofender uma pessoa. “Homem ordinário” está entre as qualificações que homens não gostariam de ouvir a seu respeito, normalmente... Este adjetivo, imbuído agora de um ar depreciativo a nossos ouvidos, tem origem menos malvada: homem ordinário é homem que não tem nada de esplêndido, impressionante ou... extraordinário (claro). É o homem comum e simples. A palavra “medíocre”, igualmente nada elogiosa, a rigor também não chega a ser uma ofensa, significando algo ou alguém que não passa da média.

Assim, “ordinário” é algo comum, que aparece sempre. O Ordinário da Missa se encaixa nisto: sendo invariável, aparece sempre, é comum. Em termos litúrgicos mais específicos, o Ordinário é o conjunto das partes que não variam de acordo com a Liturgia, sendo sempre as mesmas. O máximo de variação que pode acontecer em relação ao Ordinário é alguma parte sua ser omitida. A omissão, sim, varia conforme a Liturgia; mas, por exemplo, se o Gloria é parte do Ordinário, todas as vezes em que ele for usado o texto será o mesmo (seja Domingo de Páscoa, Natal ou qualquer Domingo do Tempo Comum). Há Missas em que o Gloria não aparece. Porém, não existem Missas em que o Gloria possa ou deva ser substituído por alguma outra coisa. E, mesmo que houvesse, seria uma exceção, algo de caráter tão “extraordinário”, que apareceria simplesmente como a exceção que confirma a regra; o Gloria é tão consistentemente o mesmo texto ao longo do ano litúrgico, que não pode ser considerado Próprio.

Já tínhamos visto que o Próprio se compõe de cinco partes (às vezes seis, se houver a Seqüência); no primeiro texto a seu respeito havíamos visto que também o Ordinário se compõe de cinco partes. Estas cinco partes estão presentes em um grande número de Missas: Domingos do Tempo Comum, do Tempo Pascal, do Tempo do Natal... Conforme a Liturgia, uma ou duas se omitem (não quaisquer partes, mas partes específicas, a vermos nos próximos textos).

Vejamos abaixo um diagrama que mostra o Ordinário e o Próprio de acordo com sua ordem durante a Missa. Não incluí a Seqüência, mas caso um leitor não tenha visto o texto a respeito dela e tampouco saiba do que se trata, saiba que ela vem logo antes do Alleluia ou Tractus (ou logo depois); que somente cinco existem na Forma Extraordinária (Rito Tridentino), e apenas quatro na Forma Ordinária (Rito Novo).

Em vermelho está o Próprio; em azul está o Ordinário.



Convido o leitor a perceber que escrevi os nomes das partes do Próprio em português, e as do Ordinário em latim (exceto o Kyrie, em grego). Isto porque, já que o Ordinário nunca varia, podemos dar a cada parte, como nome, a primeira ou primeiras palavras de seu texto. Isto acontece com todas elas:

Kyrie, em grego, é Senhor; esta palavra também dá nome ao “Senhor, tende piedade” recitado ou cantado durante o Ato Penitencial. Quando se utiliza a língua própria do Rito Romano, o latim, esta parte permanece em grego.

Gloria é a palavra latina que dá nome ao hino que nomeamos, em português, com palavra similar, vinda do latim para o português sem sofrer alterações.

Credo, “creio”, é a primeira palavra da profissão de fé.

Sanctus, “santo”, é a primeira palavra do jubiloso hino cantado na Liturgia Eucarística: Santo, Santo, Santo, Senhor Deus do Universo (...).

Agnus Dei, “Cordeiro de Deus”.

Por enquanto, oferecemos este pequeno esboço do Ordinário da Missa. É uma introdução necessária, mesmo que tantos leitores nossos tenham conhecimento de cada uma das informações aqui colocadas (e, sem dúvida, bem além delas), para que depois possamos nos deter em cada uma das partes.

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