UMA TRADIÇÃO MILENÁRIA DE CONTEMPLAÇÃO E DE DIÁLOGO PRESENTE NO BRASIL
Podem São Romualdo e Camaldoli, nascidos num contexto histórico e cultural tão distante, ter ainda uma mensagem capaz de interessar jovens brasileiros do sec. XXI? O cenário juvenil católico do Brasil parece definitivamente marcado pelos movimentos carismáticos e pela música altamente emocional, como suprema linguagem para comunicar a boa- nova do evangelho e testemunhar a alegria da própria experiência de Cristo.
Que espaço significativo pode encontrar uma tradição espiritual – como a monástica - que visa a uma exigente disciplina interior, põe em primeiro lugar a cotidiana e fiel escuta da palavra do Senhor sustentada pelo silêncio do coração e do ambiente e por uma exigente formação, e que friza sobriedade de vida e de sentidos como características mais evidentes de um estilo de vida que afeta também suas liturgias?
A Igreja da América Latina e do Brasil tem inúmeras prioridades pastorais urgentes para re-evangelizar o povo e promover a justiça social no continente, como bem enfatizou a recente Conferência de Aparecida em 2007 ao fazer um apelo a todos os fieis para tornarem-se discípulos/as missionários/as. Que contribuição podem oferecer os monges a esta urgente missão evangelizadora que nos próximos anos solicitará as energias de toda a América Latina?
A própria Conferência de Aparecida caracteriza o cristão como o “discípulo missionário” enquanto tal, em razão da sua relação pessoal com Cristo e do seu seguimento, iniciado no batismo, quando ele é chamado a partilhar o dom da fé pelo testemunho da vida e da palavra.
A vocação e vida do monge se colocam nesta encruzilhada da experiência cristã. Morar com Jesus na intimidade da contemplação e deixar que seja por primeiro a vida, mais que as atividades pastorais, a irradiar a luz do próprio Jesus que habita sua existência
Ficar no coração de Deus para ficar no coração dos homens!
Não gostaria você também de aceitar o convite de Jesus como o fizeram os discípulos Pedro, João e Thiago para subir ao monte Tabor, e partilhar com Ele e conosco a experiência da intimidade com o Pai, vivenciando seu convite de escuta e seguimento de Jesus, seu Filho unigênito bem amado.
Ficando com Ele se aprende como viver e atuar enquanto discípulos missionários, como Ele guiou e sustentou os seus discípulos no caminho até Jerusalem.
O Mosteiro da Transfiguração foi fundado em 1985. Os monges provinham do Sacro Éremo e Mosteiro de Camaldoli (Arezzo) Itália, Casa mãe da Congregação Camaldolense da Ordem de São Bento, sob o convite do então Bispo de Mogi das Cruzes (SP), Dom Emílio Pignoli.
A finalidade a que os monges e o bispo se propuseram foi de constituir uma comunidade monástica segundo a tradição espiritual beneditina e camaldolense. Uma comunidade que vive a fraternidade evangélica, a oração litúrgica e pessoal, o estudo contemplativo e a meditação da Palavra de Deus, o trabalho manual e cultural, o diálogo ecumênico e inter-religioso, e o acolhimento fraternal dos que procuram renovar a própria busca espiritual
O Mosteiro é dedicado ao Mistério da Transfiguração de Jesus sobre o monte Tabor, segundo a originária tradição do Sagrado Eremitério de Camáldoli que é dedicado a este Mistério do Senhor. A escolha do nome revela a identidade profunda da comunidade monástica e a sua vocação. Constitui um convite a contemplar junto com os apóstolos o mistério de Jesus que revela o Pai e a vocação de deixar-se transformar e transfigurar na imagem de Jesus, o Filho predileto, e segui-lo até Jerusalém para testemunhar o evangelho do Senhor morto e ressuscitado nas trilhas do mundo.
Em 1993, aos monges se uniram as Monjas Camaldolenses da Ordem de São Bento, com a fundação do Mosteiro da Encarnação. Monges e monjas, na recíproca independência, constituem uma “comunidade gêmea” na qual compartilham em fraternidade, a oração litúrgica cotidiana, a formação dos candidatos/as e o serviço de hospitalidade.
Hoje, o serviço de animação cultural e espiritual dos monges se dá, sobretudo, através da hospitalidade, pelo acolhimento de religiosos, religiosas e leigos, bem como retiros espirituais individuais, que possibilitam aos hóspedes de viver, sob direção espiritual, num ambiente natural, muito bonito, silencioso e tranqüilo, no ritmo de vida cotidiana dos monges e das monjas, o ministério da reconciliação.
Alguns monges oferecem cursos e palestras na vizinha Faculdade de Filosofia e Teologia “Paulo VI”. O desenvolvimento desta forma de animação espiritual e cultural requer que os candidatos à vida monástica recebam uma boa formação humana, espiritual e cultural, atualizando a antiga tradição do monaquismo beneditino.
No mês de outubro de 2006 foi fundado no Mosteiro, o Centro de Estudos de Liturgia (CESLI), com a finalidade de contribuir para a formação espiritual de leigos, religiosos/as, a partir da própria Liturgia. O CESLI iniciou suas atividades no mês de fevereiro de 2007 com a I Semana de Espiritualidade Litúrgica. Para ressaltar a comunhão com a igreja local, o CESLI atua em colaboração com alguns padres e leigos da diocese formados em liturgia e oferece encontros também em algumas paróquias vizinhas para facilitar o acesso dos fiéis.
A Eucaristia das comunidades monásticas no domingo, partilhada com muitos amigos e pessoas que moram na cidade e nos “condomínios fechados” da redondeza, celebrada com estilo calmo e contemplativo e animada por cantos que facilitam a participação interior e ritual do povo, é uma verdadeira festa que nos anima ao longo de toda a semana. Estão programadas, ainda, no Mosteiro nos fins de semana ou no decorrer da semana inteira, cursos de formação espiritual referentes à Sagrada Escritura, à liturgia, à espiritualidade e ao estudo das línguas bíblicas, hebraica e grega.
Alguns dos leigos/as que seguem a comunidade há algum tempo, tem iniciado um caminho de aprofundamento da espiritualidade monástica, reconhecendo-a como fonte de inspiração para a própria vida pessoal, familiar e profissional. É o caminho da “oblação” que prevê um programa de formação específico a partir da Regra de São Bento e da tradição espiritual e cultural beneditina e camaldolense.
A comunidade sustenta também um projeto de promoção social de famílias marginalizadas presentes na região vizinha ao Mosteiro, denominado “ Projeto São Bento”.
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