Que contraditório é percebemos que levamos o nome de cristão e tão pouco conhecemos aquele do qual tal nome provém. Podemos até mesmo dizer que há um abismo entre esse nome que levamos e a vida daquele que por primeiro o portou: o Cristo. Cada vez mais nos contentamos com aquilo que é periférico - Pregações, filmes, canções, etc.E nos esquecemos de buscar a Ele.Quem sabe lemos muita coisa: dos livros de terapias espirituais aos grandes tratados teológicos e nos esquecemos de beber da fonte que é a Sua palavra.Pouco a pouco vamos nos satisfazendo com belas e empolgantes pregações, shows católicos, músicas, teatros, filmes e abandonamos o Cristo real dos Evangelhos.
Precisamos voltar para Jesus. Deixemos de beber nos canais e passemos a beber da própria fonte. Jesus quer ser, e precisa ser a Vida da minha vida.
Enganam-se aqueles que pensam que a vida cristã pode manter-se de causas externas, de atividades pastorais incansáveis agendas cheias, grandes eventos. Nada, absolutamente nada, podemos esperar de nossa vida cristã ou de nossos esforços missionários se não for a partir de Jesus.
Não podemos gerar nenhum tipo de vida sobrenatural no coração das pessoas, se nós mesmos só vivemos do natural, respaldando tudo o que fazemos nas nossas próprias forças, capacidades, potenciais, talentos, etc. Como Jesus poderá abençoar-nos se nos bastamos em tudo o que fazemos? Não tenhamos dúvida, suas graças passarão longe de nós e serão dadas àqueles que se apóiam n’Ele. “Deus resiste aos soberbos, mas concede sua graça aos humildes.” (Pv 3,34).
Uma outra contradição que podemos encontrar em nossa vida cristã é que, comumente dizemos que todo o esforço missionário que fazemos é para que Deus seja conhecido e amado e os homens sejam salvos. Entretanto, nos esquecemos de que o primeiro que precisa salvo sou eu mesmo. Já dizia Santo Agostinho: “Eu amo Jesus Cristo e por isso mesmo ardo em desejo de lhe dar almas: antes de tudo a minha, depois um número incalculável de outras.”
A única maneira de tornar nossa vida cristã frutuosa é bebendo, por primeiro, da fonte que tanto nós convidamos os outros a beberem: Jesus. Sem isso, vamos morrer na sequidão de um trabalho infrutífero que já não atrai mais ninguém, que já não muda mais a vida de ninguém, que já não mais impacta, questiona e arrasta.
A vida em Deus que nós propomos aos outros, vivamo-na primeiro. As graças que nós oferecemos aos outros através das nossas pregações, catequeses, ministérios, experimentemo-nas por primeiro. Ninguém pode dar aquilo que não tem.
Se soubéssemos a força que tem um testemunho, perderíamos menos tempo com o volume de atividades exteriores e empreenderíamos mais nosso tempo na nossa conversão. Um exemplo arrasta multidões. São Francisco foi um dos que não tardou e descobriu essa verdade. Dizia ele: “Desde que eu comecei a viver o Evangelho, muitos começaram a me seguir”.
Se é a vida de Cristo toda que somos chamados a viver, seria oportuno nos perguntarmos: Será que eu tenho reservado momentos de recolhimento a sós com Deus, como fazia Jesus ao se retirar para os montes, a fim de se encontrar com o Pai?
Olhemos bem para nossa vida e vejamos se não soa as nossas “justas ocupações” as mesmas a nos afastarem de Deus. Conheço muita gente que se perdeu dizendo que estava trabalhando muito para Deus. Já não tinham mais tempo para rezar e por isso, diminuíam cada vez mais a freqüência e o Tempo dedicado à oração,, quando não, a faziam de qualquer jeito ( no improviso e às pressas) ou mesmo negligenciando-a. O acesso aos sacramentos, sobretudo, à confissão e à Eucaristia, se tornavam cada vez mais raros. Por outro lado, o aparente sucesso de sua obras parecia crescer era comumente aplaudido nas suas pregações, tornava-se cada vez mais conhecido, seu fazer, mais eficiente e creditado, seu nome já tinha se tornado uma logomarca.
Quando o diabo quer nos tirar de junto de Deus, aumenta a fama, o sucesso e o prestigio de nossas obras.
Passando a confiar mais em nossas capacidades, vamos afastando-nos e mais de Jesus. A única maneira que Deus encontra para nos ter de volta é fazendo-nos experimentar o fracasso, a derrota, o abandono, a perseguição e a impossibilidade. Só assim, Ele pode se assenhorear de nossos trabalhos. Sabemos, por experiência própria que, quando as coisas que programamos não dão certas, tornam-se ocasiões favoráveis para voltarmos a confiar unicamente no Senhor.
Busquemos a Jesus. A ele recorramos pressuroso. Só n’Ele encontramos todas as graças e bênçãos espirituais (Ef 1,3). A graça da fortaleza que vem em auxilio de nossa fraqueza: as graças da conversão mediante o reconhecimento de nossos limites, a graça da permanência diante das nossas constantes oscilações,a graça do avivamento em tempo de cansaço, a graça da resistência em meio aos combates e a maior de todas as graças a nossa salvação. “No Seu Filho, pelo Seu sangue, temos a Redenção, a remissão dos pecados, segundo as riquezas de Sua graça que derramou profusamente sobre nós.” ( Ef 1,7)
Jesus não é somente causa meritória das graças alcançadas junto ao Pai. Ele é também causa exemplar. Nele nós encontramos o máximo modelo a seguir e imitar. Jesus é o Modelo dos Modelos. Seguir os seus passos é ter a certeza por antecipação de que o céu já nos é dado.
Uma das poucas vezes que Deus Pai se pronuncia nos evangelhos ( no batismo e na transfiguração) é para dizer que nós devemos escutar unicamente a Seu Filho ( Mt 17,5). Ter Jesus como modelo perfeito a imitar é ouvir atentamente Sua palavra. Ele é a própria palavra Encarnada do Pai ( Jo 1,14).
Um dos desejos mais profundos do coração humano é o poder desvelar seu futuro, conhecer o seu amanhã. Razão essa, nos diz o Papa Bento XVI no seu livro Jesus de Nazaré, pela qual o homem busca as religiões. “Sabendo-se o que há de vir, o homem pode trilhar um caminho seguro sem fracassar”.Entretanto, nos diz o Papa, que há um outro caminho: a fé em deus, na forma de uma promessa dada ao seu povo por meio de um dos seus escolhidos.
A estes são dados mais que capacidade de prever o futuro. É dada a possibilidade de se comunicarem diretamente com Deus. “ Papel do profeta não é o de antecipar os acontecimentos vindouros, e assim servir a curiosidade humana ou a humana necessidade de segurança, mas mostrar o rosto de Deus e assim nos mostrar o caminho que devemos seguir”. ( Papa Bento XVI)
Em Jesus, palavra encarnada do Pai, temos o Caminho perfeito a seguir. Jesus nos revela o rosto do Pai. É Ele a palavra definitiva do Pai. Tudo o que o Pai quis nos dizer, de uma vez por todas, disse em Jesus.
Se quisermos imitar Jesus, temos que escutá-lo, pois só a Sua palavra nos dá a Vida eterna ( Jo 6,68).
Nosso problema é que muitas vezes escutamos muitos tipos de discursos, nos empolgamos diante de tantas palavras bonitas, atraentes que chegam a nós através de propagandas enganosas de que a felicidade está aqui ou ali. Porém, só a palavra de Jesus não engana porque é palavra do Pai. “ A tua palavra é Verdade” ( Jo 17,7).
Por ser Jesus a palavra proclamada e encarnada, é que podemos não só escutar o que Ele diz, como também imitarmos suas atitudes: Sua total confiança no Pai, Seu amor incansável aos pobres, Sua misericórdia sempre pronta a perdoar e dar ao outro a chance de recomeçar, Sua pressa em anunciar o Evangelho para que todos conheçam o amor do Pai, Sua compaixão para com os que sofrem, Sua solicitude para com os aflitos, Sua autenticidade diante das atitudes hipócritas, Sua liberdade diante da lei que oprime a vida, Sua coragem em denunciar o que não é vontade de Deus, Sua humildade, Sua mansidão, Sua vida entregue sem reservas…
Uma vez mais e sempre, insisto. Configuremo-nos a Cristo. Sem Ele nada podemos fazer ( Jo 15,5). É necessário que a vida de Jesus em nós chegue primeiro que as nossas palavras. Não nos enganemos, as pessoas acreditam mais na vida do que nas palavras. A palavra que sai de nossos lábios só terá credibilidade se apoiada na nossa vida. Assim como os raios antecipam os trovões, assim também, nossa vida enxertada em Jesus, deve antecipar nossas palavras o barulho de nossas vozes e pregações.
A vida de Jesus em nós arrasta sem precisarmos fazer nada de extraordinário. Como João Batista que arrastava multidões para ouvi-lo às margens do Jordão sem precisar fazer sequer um milagre. O segredo de João residia no fato de que ele mesmo. A sua própria vida condizia com aquilo que ele anunciava ao povo: uma conversão frutuosa ( Lc 3,8 ).
Permaneçamos em Jesus para darmos abundantes frutos ( Jo 15,5). Sem Jesus o fruto de nossas obras e pregações é estéril, nossa correria é vã, nosso cansaço desnecessário. Só em Jesus o fruto de nosso trabalho permanece.
Pe. Gilson Sobreiro
Fundador da Fraternidade O Caminho
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