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quarta-feira, maio 12, 2010

Da Escravidão Á Libertação, O Deserto Se Faz Necessário!‏



“Senhor, sois meu farol; é o Senhor quem dissipa as minhas trevas. Convosco afrontarei batalhões, com meu Deus escalarei muralhas. Os caminhos de Deus são perfeitos; a palavra do Senhor é pura. Ele é o escudo de todos os que nEle se refugiam.” (II Sm 22, 29-31)
Todos nós sabemos que quaresma sempre é tempo de batalha, de provações, de lutas e combates. Muitas vezes adentramos nesse tempo sem que estejamos verdadeiramente preparados, quem sabe nunca estivemos, contudo, o dia a dia nos faz retornar a Deus, à sua Palavra e nesse caminho de reflexão e conversão descobrimos que estamos vivendo nosso deserto, que advém da escravidão.
Viver o deserto não é sinônimo de fracasso, nem tão pouco de contemplar somente perdas, decepções, tristezas, dores e angústias. Mas, vivê-lo é deixar também Deus te conhecer, é, sobretudo, se conhecer diante de suas fragilidades, misérias, medos e anseios, na certeza de que podes ser livre e que o seu “EU” mais íntimo não será e nem precisa ser atingido pelas coisas do mundo.
Deus coloca em nossos corações muitos sonhos e grandes promessas. Ele nos dá uma garantia: a felicidade! Nos concede, ainda, outra garantia: o livre arbítrio! Seria tudo muito bom se nós, em nossa humanidade, não fizéssemos de tudo para que todas as coisas acontecessem em nosso tempo.
Nós atropelamos pessoas, sentimentos, limites… atropelamos o tempo de Deus para nós e em nós, porque queremos, à qualquer custo e à nossa maneira, alcançar a “terra prometida”.
Nesse caminho onde deixamos de nos colocar em Deus, adentramos as trevas que nós mesmos construímos. Vivemos uma auto-escravidão. Nos tornamos escravos de nossas vontades e paixões e nos deixamos escravizar também por aqueles que julgamos que amamos e por aquilo que julgamos ser essencial em nossas vidas.
Somos escravos dos nossos medos, fragilidades, sentimentos, dores e ressentimentos. Somos escravos de nossa história e praticamente nos determinamos a viver aquela realidade por toda uma vida, pois não acreditamos que podemos fazer diferente.
Constantemente nos colocamos diante de Deus e clamamos por seu socorro. Porém, não O deixamos agir. Estipulamos tempo, prazo e forma de como Deus deve aplicar o novo em nós. Pedimos à sua luz, mas queremos usar nossa própria lanterna. Somente quando a bateria da lanterna se esvai e nos vemos sem nossos artifícios e instrumentos de solução é que nos obrigamos então a nos entregar.
É preciso chegar à plena escuridão, onde não possuímos mais subterfúgios, para então, recorrermos à verdadeira luz de Cristo. Deus nos concede o direito de escolha, mas não somos nós que determinamos todas as verdades de nossa vida. Não será com a luz de nossa lanterna que encontraremos a saída do breu em que nos encontramos.
Quando reconhecemos o nosso nada e que não possuímos nada é que concedemos a Deus o direito de agir em nós e por nós. É aí que ele operará o impossível, quando já não temos mais saída, pois somente à Ele tudo é possível!
No deserto é que Deus nos conhece e que também nós conhecemos à Deus. “Eu sou o Senhor teu Deus, desde a terra do Egito. Outro Deus além de mim não hás de conhecer, nem outro salvador que não seja eu. Fui eu quem te alimentou no deserto, naqueles lugares quentes e áridos” (Os. 13, 4-5) “Pois agora, eu é que vou seduzi-la, levando-a para o deserto e falando-lhe ao coração. Ali eu lhe devolvo os vinhedos e transformo o Vale da Desgraça em Porta da Esperança!” (Os. 2, 16-17).
Não é preciso temer o deserto, eis que é através dEle que nos re-encontramos conosco e com o próprio Deus, que não nos prova além de nossas forças, nos dando como alimento Sua Palavra que nos vivifica e nos faz íntimos dEle.
Mas, é no deserto que se mostra a intensa necessidade de nos colocarmos em oração, de nos penitenciarmos, jejuarmos, estarmos diante do Santíssimo Sacramento do Altar, em comunhão com a Santíssima Trindade, nosso único refúgio e salvação.
Se o deserto é conseqüência da escravidão, podemos afirmar que após o deserto, alcançamos a libertação. Por mais difícil que seja o caminhar em terras áridas e desérticas, nesses momentos em que muitas vezes nos assola aquele profundo sentimento de solidão, onde buscamos o nosso silêncio no anseio de encontrarmos a nós mesmos, nossa única certeza é de que Deus conosco está.
Diante da realidade dos medos e anseios, das incertezas, das confusões emocionais, psicológicas, familiares, profissionais, espirituais e de nossos sonhos, Deus vem e nos fala: “A minha graça te basta, pois é na fraqueza que a força se realiza plenamente.” (II Cor. 12, 9)
Não podemos nos esquecer que na libertação se concretiza uma aliança e essa aliança de Deus conosco é a promessa de uma vida plena e abundante em graça e paz. Antes de nossos sonhos nascerem em nós, nasceram primeiro no coração do Pai. Ele nos tem especial predileção, nos cuida com carinho e zelo e age conosco piedosamente e misericordiosamente.
Tudo o que há em nós está envolto no amor de Deus. Não será homem ou mulher alguma, não será coisa, momento ou situação, não será estado de vida que nos roubará ou nos cerceará do amor divino e do alcance da graça.
Não tenhamos medo de Deus. Não tenhamos medo do deserto. Não tenhamos medo das dores e dificuldades, elas serão o caminho de nossa salvação. Sobretudo, não tenhamos medo dos julgamentos da humanidade, eles não podem determinar quem somos e o que somos diante de Deus. Eles não podem determinar ou limitar o seu “Eu”. Busquemos a liberdade, através do amor que nasce da liberdade e que conduz à liberdade, o alvo de nosso caminho espiritual.
Saiba viver o seu deserto e seu silêncio. Viva-o com alegria e gratidão. E não se esqueça de que Deus te faz e te quer cidadão dos céus. Sua recompensa: LIBERDADE!
É tempo do Amado ser Adorado!

Roberta Rizzo
Leiga Associada da Fraternidade O Caminho
Fraternitas São Miguel Arcânjo
Santo André – SP

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