A igreja universal celebra a solenidade de Pentecostes, um momento em
que a figura de Maria é de singular importância, revela nesta entrevista
concedida a Zenit o padre Jesús Castellano Cervera, carmelita descalço,
especialista em estudos marianos e consultor da Congregação vaticana
para a Doutrina da Fé.
O tempo que estamos vivendo é também conclusão do tempo pascal e do mês de maio. Este tempo tem uma especial relevância mariana?
P. Castellano Cervera: O tempo compreendido entre a Ascensão e
Pentecostes me parece que é um tempo particularmente mariano. O dado
sublinhado nos Atos dos Apóstolos (1,14), que recorda a presença de
Maria no Cenáculo, há que ser enfatizado. A iconografia antiga, a
liturgia bizantina e as antigas notícias de Maria são unânimes ao
recordar a Virgem Maria já no episódio da Ascensão do Senhor ao Céu.
Maria aparece com os discípulos em oração enquanto Jesus sobe ao Céu, e a
Mãe se converte assim em testemunha de toda a vida humana de Cristo,
desde a vinda do seio do Pai à sua maternidade e desde a ascensão ao
seio do Pai com a carne tomada da Mãe.
Qual é o significado da presença de Maria entre os discípulos no Cenáculo?
P. Castellano Cervera: Penso que Jesus confiou seus discípulos a Maria
antes da vinda do Espírito Santo. A Virgem Maria, na realidade, em um
tempo de «vazio», quando Jesus já não está e o espírito não descendeu,
todavia, parece a pessoa mais apropriada para preencher de alguma forma
estas duas presenças em um momento de recordação e de espera.
De recordação porque Maria é memória vivente de Cristo, de sua vida
desde o princípio, de suas palavras. Sua presença materna fala dEle em
tudo. E de espera porque a Virgem Maria, qua recebeu o Espírito Santo em
plenitude, converte-se em garantia e esperança de cumprimento da
promessa de Jesus. Virá o Espírito prometido --parece assegurar Maria--
assim como veio sobre mim. Deus é fiel a suas promessas.
É talvez esta presença a raiz do título a Ela reconhecido: Rainha dos Apóstolos?
P. Castellano Cervera: Creio que é precisamente assim. Padres da Igreja e
autores medievais dizem com clareza que Maria no Cenáculo converte-se
em Mãe dos Apóstolos com seu testemunho de Cristo.
João Paulo II fala na Encíclica Redemptoris Mater, no número 26, de tal
presença em meio aos discípulos de Jesus como singular testemunho do
mistério de Cristo. Seu papel materno neste tempo é evidente.
Podemos pensar que as palavras de At 1, 14 refletem a obra materna de
Maria, que ajuda os discípulos a «perseverar» cada dia na esperança do
acontecimento prometido da vinda do Espírito, a estar «de acordo e
unidos», a abrir seus corações «na oração» com uma atitude de invocação e
de confiada espera. Maria molda maternalmente os apóstolos, faz deles
irmãos, prepara a comunidade para acolher o Espírito Santo.
Posto que Maria já havia recebido o Espírito Santo, não era talvez para Ela supérfluo esperar Pentecostes?
P. Castellano Cervera: Maria, de acordo com as imagens mais antigas de
Pentecostes, aparece aos discípulos e recebe o Espírito Santo com toda a
Igreja. Sua circunstância, ligada ao mistério do Filho e sua missão,
está agora indissoluvelmente unida ao mistério da Igreja.
Foram parte dela como membro excelentíssimo e como Mãe, como afirma o
Concílio Vaticano II. A nova vinda do Espírito sobre Ela a une ainda
mais à Igreja, sua comunhão e missão. Não é possível pensar na Igreja
sem Maria e em Maria sem a Igreja.
A centralidade da Mãe de Jesus em meio aos discípulos com a mesma chama
do Espírito Santo em uma atitude de acolhida do dom e de ação de graças
nos fala do «perfil mariano» da Igreja, onde Ela representa a própria
essência da Igreja: pura acolhida e transmissão do dom de Deus. Maria é o
dever de ser da Igreja e do cristianismo, baixo a ação do Espírito
Santo e em profunda comunhão com todos.
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