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terça-feira, junho 14, 2011

Do Tratado sobre a Oração do Senhor, de São Cipriano, bispo e mártir


Venha a nós o vosso reino.
Seja feita a vossa vontade

A oração continua. Venha a nós o vosso reino. Pedimos que o reino de Deus se torne
presente a nós, da mesma forma que solicitamos seja em nós santificado o seu nome.
Porque, quando é que Deus não reina? Ou quando para ele começou o reino que sempre
existiu e nunca deixará de ser? Pedimos a vinda de nosso reino, prometido por Deus e
adquirido pelo sangue e paixão de Cristo, a fim de que nós que fomos, outrora, escravos
do mundo, reinemos depois, conforme ele nos anunciou, pelo Cristo glorioso, ao dizer:
Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino que vos está preparado desde a
origem do mundo.

Pode-se igualmente, irmãos diletíssimos, entender que o próprio Cristo é o reino de
Deus, cuja vinda pedimos todos os dias. Estamos ansiosos por ver esta vinda o mais
depressa possível. Sendo ele a ressurreição, pois nele ressurgimos, assim também se
pode pensar que ele é o reino de Deus, pois nele reinaremos. Pedimos, é claro, o reino
de Deus, o reino celeste, já que há um reino terrestre. Mas quem já renunciou ao mundo
está acima desse reino terrestre e de suas honrarias.

Acrescentamos ainda: Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu. Não para
que Deus faça o que quer, mas para que possamos fazer o que Deus quer.

Pois quem impedirá a Deus de fazer tudo quanto quiser? Mas porque o diabo se opõe a
que nossa vontade e ações em tudo obedeçam a Deus, oramos e pedimos que se faça em
nós a vontade de Deus. Que se faça em nós é obra da vontade de Deus, isto é, resultado
de seu auxílio e proteção, porque ninguém é forte por suas próprias forças. Com efeito,
é a indulgência e a misericórdia de Deus que o protegem. Finalmente, manifestando a
fraqueza de homem, diz o Senhor: Pai, se possível, afaste-se de mim este cálice e,
dando aos discípulos o exemplo de renunciar à própria vontade e de aceitar a de Deus,
acrescentou: Contudo não o que eu quero, mas o que tu queres.

A vida humilde, a fidelidade inabalável, a modéstia nas palavras, a justiça nas ações, a
misericórdia nas obras, a disciplina nos costumes; o não fazer injúrias; o tolerar as
recebidas; o manter a paz com os irmãos; o amar a Deus de todo o coração; o amá-lo
por ser Pai; o temê-lo por ser Deus; o nada absolutamente antepor a Cristo,pois também
ele não antepôs coisa alguma a nós; o aderir inseparavelmente à sua caridade; o estar ao
pé de sua cruz com coragem e confiança, quando se tratar de luta por seu nome e sua
honra, o mostrar firmeza ao confessá-lo por palavras, e, no interrogatório, o manter a
confiança naquele por quem combatemos, e, na morte, o conservar a paciência que nos
coroará, tudo isto é querer ser co-herdeiro de Cristo, é cumprir o preceito de Deus, é
realizar a vontade do Pai.

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