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quinta-feira, julho 08, 2010

Cantar o Magnificat com a Virgem Maria

Maria é a flor mais bela que Deus plantou no jardim da humanidade. Ela floresce constantemente e o seu perfume e beleza nos fazem compreender a nossa missão: gerar a vida. Não podemos esquecer jamais a presença de Maria. Sem Maria não teríamos o mistério da encarnação. Através de Maria o mundo tomou outra direção: o Verbo se fez carne e habitou entre nós. Por isso é importantíssimo agradecer a Deus que quis ser presente entre nós com a cooperação de uma mulher. Na plenitude dos tempos, nos recorda Paulo, Jesus entrou no mundo através do sim de uma mulher.
A mulher na Escritura Sagrada assume o seu verdadeiro papel de grande, chamada a revestir com sua carne o Verbo eterno. Um privilégio que somente ela tem. Na bíblia, se é verdade que há um machismo tantas vezes duro e massacrante, se a mulher nem sempre tem valor aos olhos dos homens, devemos reconhecer que sempre ela tem um grande valor aos olhos de Deus. Num momento histórico de feminismo é bom meditar sobre a presença de Maria para que cada mulher se espelhe em Nossa Senhora e como ela seja uma ardorosa defensora da vida e do amor.
A mulher será feliz na medida em que assumir o seu lugar na história de cada dia, como geradora da vida em todos os sentidos, do biológico ao espiritual. Defensora da vida, aquela que foi dotada de tanta ternura e é capaz de amolecer qualquer coração empedernido no ódio e na vingança. Assim o homem deve contemplar Maria para saber que nenhuma mulher é objeto e que os direitos e deveres são iguais, que todos os caminhos são abertos tanto para o homem como para a mulher. E que a cada dia a mulher vai ocupando o seu lugar também dentro da Igreja.
É claro que pode ser que várias mulheres, diante desta minha afirmação, me perguntem logo: “e por que a mulher não pode ser sacerdote?” Ou “por que não pode ocupar outros cargos na hierarquia da Igreja?” Perguntas lícitas às quais o Papa João Paulo II deu a sua resposta em nome de toda a Igreja, e que é preciso esperar tempos mais maduros. Santa Edith Stein não vê nada em contrário, nem proibição divina para que a mulher não possa ser sacerdote... mas os tempos demoram e a vontade de Deus, para nós que temos fé, se manifesta pela orientação e palavra do Papa, que nos guia por caminhos de entrega e doação total de nós mesmos a serviço do Reino.
Viver numa atitude de fé. Não há dúvida porém que a encíclica do Santo Padre “Mullieris Dignitatem” e outros documentos apresentam a força evangelizadora da mulher dentro da Igreja. E todo ser, homem e mulher que seja, teve uma mãe que o criou e o revestiu com sua carne humana.

A minh’ alma engrandece o Senhor!
Vamos redescobrir pessoal e comunitariamente a beleza do Magnificat, o cântico que Maria elevou ao Senhor depois de ouvir a saudação da sua prima Isabel, que a elogiava por ter tido fé: “bendita és tu que acreditaste! Donde me vem a dita de vir a mim a mãe do meu Senhor?” (cf. Lc 2,22). Como é bonito constatar que o elogio de Isabel a Maria não gera nela orgulho ou vaidade, mas uma extrema humildade. Ela tem consciência do amor de Deus, de ser escolhida por Ele para uma missão grandiosa, e tem plena consciência que o Senhor quer fazer dela o “primeiro sacrário vivo”, o primeiro ostensório. Toda mulher grávida é um ostensório que nos mostra o poder de Deus e uma Eucaristia viva, que é toda criança em gestação.
E Maria, diante de tudo isso, eleva ao Senhor o seu cântico de ação de graças. Feito de frases tiradas do Antigo Testamento, é uma maravilhosa colcha de retalhos bíblicos e um cordão finíssimo feito com fios de ouro tirados da história de tantas pessoas que, antes de Maria, souberam cantar a misericórdia de Deus.

Engrandecer o Senhor...
Quando o Senhor lhe inspirar esta oração de Nossa Senhora em sua meditação, você possa entrar no santuário interior, na morada profunda, como dizia Santa Teresa de Ávila, para reconhecer o que Deus fez em você.
Andamos agitados, preocupados, muito atarefados e mesmo nas nossas meditações somos mais preocupados com a forma que com o conteúdo. É necessário pedir o dom da simplicidade de engrandecer o Senhor presente em nós.
Não são as palavras, porquanto bonitas sejam, que podem dizer quem é Deus. Só a palavra feita vida nos manifesta a grandeza, a beleza de Deus. Como é belo ter nos olhos, no rosto, a luz do céu e a beleza do sol. Deus enche o nosso coração de tantas coisas bonitas. Não brilhamos com luz própria, mas com a luz de Deus. Maria é luz que brilha entre nós, mas mais do que luz ela é candelabro que sustenta a luz que é Cristo. A salvação não é algo mágico e não acontece porque fazemos orações ou pedimos, mas porque a palavra transforma a vida e percebemos que algo novo está acontecendo dentro de nós.

Deus olhou a humildade de sua Serva
Será que no mundo de hoje tem espaço para a humildade? Para as coisas pequenas? Para os serviços humildes, insignificantes, que não dão ibope? Será que ainda sabemos apreciar a beleza das coisas que Deus coloca no coração para fazer, que não têm nenhuma referência e não dão status para ninguém? São perguntas que me questionam terrivelmente.
Maria nos fala de uma humildade existencial, de pobreza. Ela sabe que vale pouco, acredita no seu pouco valor, mas sabe também que, como pobre de Deus, não pode viver sem Ele, por isso, no seu dia a dia o busca, o invoca. Só os humildes e pobres são capazes de permanecer silenciosos, de mãos estendidas, esperando que alguém lhe coloque nas mãos uma esmola de amor e de dom: Deus gosta dos humildes.

Conclusão
Maria, modelo de mulher feliz, de mãe feliz, é para todos nós ponto referencial que nos convoca a entrar na nossa intimidade e a cantar a Deus baixinho para que ninguém escute, mas com suavidade:
“Minha alma engrandece o Senhor
e rejubila meu espírito em Deus, meu Salvador,
porque olhou para a humildade de sua serva.
Eis que de agora em diante me chamarão feliz todas as gerações,
porque o Poderoso fez por mim grandes coisas:
O seu nome é santo.
Sua misericórdia passa de geração em geração
para os que o temem.
Mostrou o poder de seu braço
e dispersou os que se orgulham de seus planos.
Derrubou os poderosos de seus tronos
e exaltou os humildes.
Encheu de bens os famintos
e os ricos despediu de mãos vazias.
Acolheu Israel, seu servo,
lembrando-se de sua misericórdia,
conforme o que prometera a nossos pais,
em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre”. (Lc 1,46-55)

Elisabete da Trindade, a cantora de Maria, nos diz:
Amar é imitar Maria,
Exaltando de Deus a grandeza,
Enquanto que sua alma encantada
Cantava seu cântico ao Senhor.
Vosso centro, ó Virgem fiel,
Era o aniquilamento,
Visto que Jesus, esplendor eterno,
Se esconde no abaixamento.
É sempre pela humildade
Que vossa alma o magnifica. (Poesia 94)

Dizer que, por nossa própria vocação, o Senhor nos chama a viver imersos nesses santos esplendores... Oh! Que mistério adorável de amor! Quisera responder a este chamado, passando sobre a terra como a Santíssima Virgem, conservando cuidadosamente todos esses acontecimentos no meu coração (cf. Lc 2,19), sepultando-me, por assim dizer, no fundo da minha alma para desaparecer na Trindade que nela mora e transformando-me nela. (Carta 153)

Que possamos todos nós, homens e mulheres, fazer de Maria o modelo e a mestra de nossa vida, que nos ensina como gerar Jesus e doá-lo à humanidade. Maria nunca se acha maior que Jesus. E sabe que às vezes existem pessoas que acham que Maria se considera mais importante que Jesus e que Jesus é só um meio de autoprojeção? Que coisa feia!
Por Frei Patrício Sciadini, ocd

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