segunda-feira, fevereiro 28, 2011

A Santa Missa

* “Em nossas orações pedimos as graças de Deus. Na Santa Missa Deus fica comprometido em no-las conceder.” São Filipe de Néri.


* “O homem deveria vibrar, o mundo deveria tremer, o Céu inteiro deveria comover-se profundamente quando o Filho de Deus aparece sobre o altar nas mãos do sacerdote.” São Francisco de Assis.

* “Se parássemos por um momento e considerássemos com atenção o que ocorre nesse sacramento, estou certo de que pensar no amor que Deus tem por nós transformaria toda a frieza de nossos corações em fogo de amor e gratidão.” Santa Ângela de Foligno.

* “Sem a Santa Missa, o que seria de nós? Todos nós pereceríamos, uma vez que ela é a única coisa que pode deter o braço de Deus. Sem ela, certamente a Igreja não duraria e o mundo estaria perdido irremediavelmente.” Santa Teresa de Jesus.

* “Nenhuma língua humana poderá enumerar os favores que se correlacionam com a Santa Missa. O pecador se reconcilia com Deus, o justo fica mais reto, os pecados são apagados, os vícios eliminados, a virtude e os méritos crescem e as artimanhas do demônio são frustradas.” São Lourenço Justiniano.

* “A Santa Missa é uma obra de Deus na qual nos é apresentado todo o amor que Ele nos tem. De certo modo é a síntese e a soma de todos os favores que Ele nos concedeu.” São Boaventura.


* “Se soubéssemos o que é a Santa Missa, morreríamos de amor”. São João Maria Vianney

Quando Santa Margarida Maria Alacoque participava da missa, ela nunca deixava de olhar para o crucifixo e para as velas acesas. Por quê? Ela fazia isso para lembrar-se constantemente de duas coisas: o crucifixo recordava o que Jesus havia sofrido por ela, e as velas acesas lembravam o que ela devia fazer por Jesus, ou seja, sacrificar-se e consumir-se por amor a Ele e pela salvação dos pecadores.

Santo Tomás de Aquino, o grande Doutor Angélico, afirmou em sua vasta obra que a Santa Missa encerra todos os frutos, todas as bênçãos e graças, todos os imensos tesouros comprados com o sangue infinitamente precioso de Nosso Senhor Jesus Cristo na Cruz.


Numa das aparições com que Nosso Senhor favoreceu Santa Matilde, monja beneditina alemã do século XIII, ensinou a ela a melhor maneira de assistir a cada parte da Missa e enumerou as graças especiais concedidas durante cada uma.

Assim, quando se reza três vezes “Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo...”, Cristo não permanece inerte: “Através do primeiro, eu me ofereço a Deus Pai, por vós, com a minha humildade e paciência. Pelo segundo, eu me ofereço com a amargura das minhas dores, para ser vossa reconciliação. No terceiro, eu me ofereço com todo o amor do meu divino coração, para suprir todos os bens que faltam ao homem”.


Disse Jesus à mesma Santa: “Eu te afirmo, eis o que farei por aquele que assiste à Missa com zelo e devoção: eu lhe enviarei na sua hora derradeira, para consolá-lo, defendê-lo e para fazer um cortejo de honra para a sua alma, tantos nobres personagens de minha corte celeste quantas tenham sido as Missas a que assistiu na terra”.
FRASES DO CURA D'ARS




A SANTÍSSIMA VIRGEM

São João Maria Vianney – o Cura d’Ars


"As Três Pessoas Divinas contemplam a Santíssima Virgem. Ela é sem mancha, está ornada de todas as virtudes que a tornam tão formosa e agradável à Trindade".

"Deus podia ter criado um mundo mais belo do que este que existe, mas não podia ter dado o ser a uma criatura mais perfeita que Maria".

"O Pai compraz-se em olhar o Coração da Santíssima Virgem como a obra-prima das suas mãos".

"Se um pai ou uma mãe muito ricos tivessem muitos filhos e todos eles viessem a morrer, restando apenas um, esse herdaria todos os bens. Pelo pecado original, todos os filhos de Adão morreram para a graça, e somente Maria, isenta do pecado, herdou as graças de inocência e favores que caberiam aos filhos de Adão, se eles tivessem permanecido em estado de inocência. Deus tornou Maria depositária das suas graças".
"Nesse período [antes do Natal], Jesus e Maria eram por assim dizer uma só pessoa. Jesus, nesses tempos felizes para Maria, só respirava pela boca dEla".

"Maria deseja tanto que sejamos felizes!".

"São Bernardo diz que converteu mais almas por meio da Ave-Maria que por meio de todos os seus sermões".

"A Ave-Maria é uma oração que jamais cansa".

"O meio mais seguro de conhecermos a vontade de Deus é rezarmos à nossa boa Mãe".

"Se o pecador invoca essa boa Mãe, Ela fá-lo entrar de algum modo pela janela".

"Se o inferno pudesse arrepender-se, Maria alcançaria essa graça".

"Maria! Não me abandoneis um só instante, permanecei sempre ao meu lado!".

"Tenho bebido tanto nessa fonte [no coração da Santíssima Virgem], que há muito tempo teria secado se não fosse inesgotável".

"Quando as nossas mãos tocam uma substância aromática, perfumam tudo o que tocam. Façamos passar as nossas orações pelas mãos da Santíssima Virgem. Ela as perfumará".

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Marta Robin


Alimentou-se somente da Eucaristia durante 53 anos

Em Châteauneuf-de-Galaure, onde nasceu, viveu e morreu, cega e paralisada, Marta se alimentava de um alimento apenas : a sagrada Eucaristia. Em 1936, ela pediu, “da parte de Deus”, a um sacerdote de Lyon, o Padre Finet, que fosse fundado o primeiro “Foyer de Charité” (Lar de Caridade). Com o tempo, mais de sessenta foram fundados, no mundo inteiro.


Aos vinte anos de idade, Marta se sente chamada, a exemplo dos grandes místicos, a oferecer sua vida “pela conversão dos pecadores e a santificação das almas”. Descobrindo sua particular vocação ao sofrimento, ela redige uma carta estipulando seu total abandono a Deus. É quando, então, a paralisia toma conta dela, trazendo consigo sofrimentos indescritíveis.

Como acontece a todos os grandes mártires, é preciso que a noção de sacrifício seja abordada não como o fruto de uma vontade divina, mas como um dom de Amor livremente escolhido pelo místico, uma oferta de todo o seu ser para tomar sobre si a negatividade do mundo a ponto de ser, por isso, mutilado física e moralmente.

Durante uma visão, Marta recebe os estigmas de Cristo, uma espécie de confirmação da sua vocação. Todas as sextas-feiras, ela revivia a Paixão de Jesus Cristo e vivenciava o maior dos sofrimentos: o supremo abandono resultante da falta de Amor por parte da humanidade. Um vazio que ela, a cada crucificação, conseguia preencher com o Amor de Deus. Por isso, Marta dizia: “O sofrimento é a escola incomparável do verdadeiro Amor.”

Apesar da paralisia que progride incessantemente, Marta redige suas reflexões, mantém correspondências, recebe visitas sempre mais numerosas às quais ela oferece o gosto do esforço e da ressurreição permanentes. “Toda alma é um Getsêmani onde cada um deve beber, em silêncio, o cálice da sua própria vida”, dizia.

Em 1936, ela convida, “da parte de Deus”, o Padre Finet a iniciar um “Lar de Caridade, de Luz e de Amor” para a realização de retiros espirituais, o primeiro de inúmeros. Atualmente, estas comunidades “acolhem e congregam homens e mulheres que, a exemplo dos primeiros cristãos, partilham comunitariamente seus bens materiais, intelectuais e espirituais.”

Além dos sofrimentos que não cessam de aumentar, Marta sofre também implacáveis perseguições demoníacas, após as quais ela é encontrada ferida e vertendo lágrimas de sangue; um demônio que procurava, segundo ela, fazê-la crer que seu sofrimento não servia de nada. Vivificada, porém, pelo Amor incondicional que a anima, e encorajada pelas aparições regulares da Virgem Maria, ela nunca renunciou à sua vocação. Após sua última entrega de sacrifício, a visão, Marta permanecerá mais de cinqüenta anos deitada, sem dormir, sem beber e apenas se alimentando da Eucaristia.

“Esquecendo-me de mim mesma, eu quero fazer com que Deus seja amado por todas as almas, doando-me por todos incessantemente e sem medidas, doar-me, doar-me sempre...” dizia Marta Robin, sem dúvida uma das maiores místicas e mártires do nosso tempo. Na mais total discrição e humildade ela vivenciou o seu sofrimento, fruto amargo da nossa negatividade que ela purificou pelo poder do seu Amor. Como não nos conscientizarmos das nossas insuficiências diante de tanta abnegação? Não podemos desejar senão carregarmos nossas próprias cruzes com o máximo de perseverança e de Amor, afirmando todos os dias como Marta: “Elevar-se é tudo superar e se superar incessantemente.”



Eis o testemunho do Padre Finet, o seu diretor espiritual: “Quando recebeu os estigmas, no início do mês de outubro de 1930, Marta já vivia a sua Paixão desde 1925, ano em que ela se ofereceu como vítima de amor. No mesmo dia, Jesus lhe disse que depois da Virgem Maria, Ele tinha escolhido ela para viver mais intensamente a Paixão e ninguém poderia vivê-la de maneira tão plena. Acrescentou que cada dia ela sofreria mais e mais, e que nunca mais dormiria à noite. Depois dos estigmas, Marta não pôde mais nem comer, nem beber e o êxtase durava até a segunda ou terça-feira. Durante um dos êxtases, Jesus disse a Marta: Os meus sacerdotes, os meus sacerdotes, dá-me tudo por eles. Minha Mãe e Eu os amamos tanto. Dá-me todos os teus sofrimentos, tudo o que sofres neste momento, todos aqueles com os quais tu queres mergulhar no meu Amor, dá-me o teu isolamento e a tua solidão e a solidão na que eu te coloquei, tudo sem descanso pelos meus sacerdotes. Oferece-te ao Pai comigo por eles e não temas sofrer muito pelos meus sacerdotes, eles necessitam realmente de tudo isso que estou para realizar em ti em favor deles”.

terça-feira, fevereiro 15, 2011

Atenção católico!

Católico, seja DECIDIDO, CONVICTO, VERDADEIRO, CORAJOSO, FIRME, FIEL... e aprenda a dizer NÃO aos protestantes mentirosos, que, como SERPENTES VENENOSAS, trabalham FURIOSAMENTE para SEDUZIR as almas imortais.

Leia com ATENÇÃO esse trecho dos Atos dos Apóstolos 13, 6 - 10: “Tendo atravessado toda a ilha até Pafos, aí encontraram um mago, FALSO PROFETA, que era judeu e se chamava Bar-Jesus. Ele estava com o procônsul Sérgio Paulo, homem prudente, o qual mandara chamar Barnabé e Saulo, desejoso de ouvir a Palavra de Deus. Elimas, porém, o mago - assim se traduz o seu nome - COMEÇOU A OPOR-SE A ELES, PROCURANDO AFASTAR o procônsul da FÉ. Então Saulo, que também se chamava Paulo, repleto do Espírito Santo, FIXANDO NELE OS OLHOS, disse: 'Homem CHEIO de TODA FALSIDADE e de TODA a MALÍCIA, FILHO do DIABO e INIMIGO de TODA a JUSTIÇA, não cessarás de PERVERTER os CAMINHOS do SENHOR, que são RETOS?”

Bar-Jesus (Elimas), FALSO PROFETA, começou a opor-se a eles, procurando AFASTAR o procônsul da FÉ.

Católico, é assim que agem os PROTESTANTES: mentem desavergonhadamente... caluniam violentamente... seduzem incansavelmente e trabalham furiosamente para perverterem os CATÓLICOS.

Diante dos ATAQUES FERRENHOS desses LOBOS MENTIROSOS e CALUNIADORES, devemos nos defender e responder com a mesma coragem do Apóstolo São Paulo: “FIXANDO NELE OS OLHOS, disse: 'Homem CHEIO de TODA FALSIDADE e de TODA a MALÍCIA, FILHO do DIABO e INIMIGO de TODA a JUSTIÇA, não cessarás de PERVERTER os CAMINHOS do SENHOR, que são RETOS?” (At 13, 9-10).

Católico, não tenha os PROTESTANTES como IRMÃOS SEPARADOS, mas sim, como INIMIGOS PERIGOSOS que querem te LEVAR para o INFERNO; porque FORA da Igreja Católica NÃO HÁ SALVAÇÃO: “Não há salvação fora da Igreja” (São Cipriano), e: “Firmemente crê, professa e prega que ninguém que não esteja dentro da Igreja Católica, não somente os pagãos, mas também, judeus, hereges e cismáticos, não poderão participar da vida eterna e irão para o fogo eterno que está preparado para o diabo e seus anjos, a não ser que antes de sua morte se unam a Ela” (Concilio de Florença), e também: “Esta verdadeira fé católica, fora da qual ninguém pode se salvar” (Pio IV).

Católico, não se deixe SEDUZIR pelos PROTESTANTES, mas trate-os com FIRMEZA e CORAGEM, assim como o Apóstolo São Paulo tratou Bar-Jesus (Elimas).

Lembre-se continuamente de que o PRIMEIRO "DOGMA" PROTESTANTE é SEDUZIR os católicos, levá-los para o caminho da perdição, para o inferno eterno.

Católico, os MUÇULMANOS perseguem os católicos com a espada; os HINDUS perseguem os católicos com o fogo; os COMUNISTAS perseguem os católicos com o choque elétrico... e os PROTESTANTES perseguem os católicos com a LÍNGUA.

Católico, se PREPARE para os ATAQUES dos PROTESTANTES estudando os seguintes ESCLARECIMENTOS.



Martinho Lutero: Pai dos Protestantes

Dizia Martinho Lutero: “Só há uma maneira desse ‘povinho’ fazer sua obrigação. É constrangendo-o pela lei e pela espada, prendendo-o em cadeias e gaiolas, da mesma forma como se faz com bestas selvagens... melhor a morte de todos os camponeses do que a morte dos príncipes... estrangulem os rebeldes como fariam com cães raivosos” (Discurso aos príncipes alemães para reprimir a revolta camponesa).








Católico, seja sábio! Jamais abandone a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, ÚNICA Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo, para seguir uma ESPELUNCA fundada por homens e mulheres ambiciosos, que têm como único objetivo te explorar.

Essa ESPELUNCA é a FOSSA da Igreja Católica. Lembre-se de que você não é verme, e sim, filho de Deus.

Pe. Divino Antônio Lopes Fp





Veja o que faz com Nosso Senhor Jesus Cristo, o Católico que promove, anima e pula CARNAVAL

domingo, fevereiro 13, 2011

Do Comentário sobre o Diatéssaron, de Santo Efrém, diácono


A Palavra de Deus, fonte inexaurível de vida. Que inteligência poderá penetrar uma só de vossas palavras, Senhor? Como sedentos a beber de uma fonte, ali deixamos sempre mais do que aproveitamos. A palavra de Deus, diante das diversas percepções dos discípulos, oferece múltiplas facetas. O Senhor coloriu com muitos tons sua palavra. Assim, quem quiser conhecê-la, pode nela contemplar aquilo que lhe agrada. Nela escondeu inúmeros tesouros, para que neles se enriqueçam todos os que a eles se aplicarem.

A palavra de Deus é a árvore da vida a oferecer-te por todos os lados o fruto abençoado, à semelhança do rochedo fendido no deserto que, por todo lado, jorrou a bebida espiritual. Comiam, diz o Apóstolo, do alimento espiritual e bebiam da bebida espiritual.

Se, portanto, alguém alcançar uma parcela desse tesouro, não pense que este seja o único conteúdo desta palavra, mas considere que encontrou apenas uma porção do muito nela contido. Se só esta parcela esteve a seu alcance, não diga que essa palavra seja pobre e estéril, nem a despreze. Pelo contrário, visto que não pode abraçá-la totalmente, dê graças por sua riqueza. Alegra-te por seres vencido, não te entristeças por
te ultrapassar. O sedento enche-se de gozo ao beber e não se aborrece por não poder esgotar a fonte. Vença a fonte a tua sede, mas não vença a tua sede a fonte. Pois, se tuasede se sacia sem que a fonte se esgote, quando estiveres novamente sedento, dela poderás beber. Se, porém, saciada tua sede também se secasse a fonte, tua vitória redundaria em mal.

Dá graças, então, pelo que recebeste. Pelo que ainda restou e transbordou não te entristeças. Aquilo que recebeste e a que chegaste é a tua parte. O que sobrou é tua herança. Se, por fraqueza tua, em uma hora não consegues entender, em outras horas, se perseverares, poderás recebê-lo. Não te esforces, com maligna intenção, por beber de um só trago aquilo que não pode ser tomado de uma vez. Não desistas, por indolência, de tomá-lo aos poucos.

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Santa Escolástica, Virgem

Escolástica, irmã de São Bento nasceu em Núrsia, na Úmbria (Itália), cerca do ano 480. Juntamente com seu irmão, consagrou-se a Deus e seguiu-o para Cassino, onde morreu por volta do ano 547.

Leitura
Dos Diálogos de São Gregório Magno, papa
(Lib. 2,33: PL 66,194-196)
(Séc.VI)
Foi mais poderosa aquela que mais amou

Escolástica, irmã de São Bento, consagrada ao Senhor onipotente desde a infância, costumava visitar o irmão, uma vez por ano. O homem de Deus descia e vinha encontrar-se com ela numa propriedade do mosteiro, não muito longe da porta.

Certo dia, veio ela como de costume, e seu venerável irmão com alguns discípulos foi ao seu encontro. Passaram o dia inteiro a louvar a Deus e em santas conversas, de tal modo que já se aproximavam as trevas da noite quando sentaram-se à mesa para tomar a refeição.
Como durante as santas conversas o tempo foi passando, a santa monja rogou-lhe: “Peço-te, irmão, que não me deixes esta noite, para podermos continuar falando até de manhã sobre as alegrias da vida celeste”. Ao que ele respondeu-lhe: “Que dizes tu, irmã? De modo algum posso passar a noite fora da minha cela”. 
A santa monja, ao ouvira recusa do irmão, pôs sobre a mesa as mãos com os dedos entrelaçados e inclinou a cabeça sobre as mãos para suplicar o Senhor onipotente.
Quando levantou a cabeça, rebentou uma grande tempestade, com tão fortes relâmpagos, trovões e aguaceiro, que nem o venerável Bento nem os irmãos que haviam vindo em sua companhia puderam pôr um pé fora da porta do lugar onde estavam.
Então o homem de Deus, vendo que não podia regressar ao mosteiro, começou a lamentar-se,dizendo: “Que Deus onipotente te perdoe, irmã! Que foi que fizeste?” Ela respondeu: “Eu te pedi e não quiseste me atender. Roguei ao meu Deus e ele me ouviu. 
Agora, pois, se puderes, vai-te embora; despede-te de mim e volta para o mosteiro”.
E Bento, que não quisera ficar ali espontaneamente, teve que ficar contra a vontade.
Assim, passaram a noite toda acordados, animando-se um ao outro com santas conversas sobre a vida espiritual. Não nos admiremos que a santa monja tenha tido mais poder do que ele: se, na verdade, como diz São João, Deus é amor (1Jo 4,8), com justíssima razão, teve mais poder aquela que mais amou.
Três dias depois, estando o homem de Deus na cela, levantou os olhos para o alto e viu a alma de sua irmã liberta do corpo, em forma de pomba, penetrar no interior da morada celeste. Cheio de júbilo por tão grande glória que lhe havia sido concedida, deu graças a Deus onipotente com hinos e cânticos de louvor; enviou dois irmãos a fim de trazerem o corpo para o mosteiro, onde foi depositado no túmulo que ele mesmo preparara para si.
E assim, nem o túmulo separou aqueles que sempre tinham estado unidos em Deus.



terça-feira, fevereiro 08, 2011

"Jesus é muito ofendido na Eucaristia pelas múltiplas irreverências cometidas pelos próprios cristãos; pelos sacrilégios, cujo número e malícia causam admiração aos próprios demônios" (São Pedro Julião Eymard, A Divina Eucaristia, Vol. 3).

Santa Inês


Santa Inês é uma Virgem Mártir, venerada como Santa pela Igreja Católica Apostólica Romana e por outras denominações cristãs. É a padroeira da castidade, dos jardineiros, moças, noivos, vítimas de violação e virgens. Sua memória litúrgica se dá em 21 de Janeiro.


Viveu em Roma, onde foi martirizada em 304. Nobre, descendia da poderosa família Cláudia e desde pequena foi educada pelos pais na fé cristã. Cresceu virtuosa e decidiu consagrar sua pureza a Deus, resistindo às investidas dos jovens mais ricos da nobreza romana, desejosos de seu amor.


Tinha 13 anos quando foi cobiçada, por sua extraordinária beleza, riqueza e virtude, pelo jovem Procópio, filho do Prefeito de Roma, Semprônio. Como o rejeitou, Inês foi levada a julgamento e obrigada a incensar os ídolos de Roma, o que recusou-se a fazer, dizendo: "Virgens a Cristo consagradas não portarão tais lâmpadas, pois este fogo não é fé. Mas o meu sangue pode apagar este braseiro. Podem me ferir com suas espadas, mas nunca conseguirão profanar meu corpo consagrado a Cristo!" Por isso foi condenada a ser exposta nua num prostíbulo no Circo de Domiciano (hoje praça Navona, onde se ergue a Basílica de Santa Inês in Agone). Diz a história que, introduzida no local da desonra, uma luz celestial a protegeu e ninguém ousou aproximar-se dela. Seus cabelos cresceram maravilhosamente cobrindo seu corpo. Ao ser defendida por um anjo guardião, um dos seus lascivos pretendentes caiu morto, mas a santa, apiedada, orou a Deus e o ressuscitou. Temeroso, o Prefeito Sempronius passou o caso ao seu cruel substituto, Aspásio. Após novo interrogatório, a menina foi condenada a morrer queimada. As chamas também não a tocaram, voltando-se contra seus algozes e matando muitos deles. Foi por fim decapitada, a mando do vice-prefeito de Roma, Aspásio.

Seus pais sepultaram seu corpo num terreno próximo da Via Nomentana, onde a princesa Constança, filha do imperador Constantino mandou erguer a majestosa basílica de Santa Inês Fora dos Muros, palco de grandes milagres por intermédio da santa virgem.

A história conta que oito dias depois da morte, apareceu em grande glória aos pais que rezavam em seu túmulo, segurando um cordeirinho branco e cercada de muitas virgens e anjos e anunciou-lhes sua grande felicidade no céu.

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

São João da Cruz: Um santo louco de amor

Dizem que a santidade está de mãos dadas com a loucura. Se existe uma “sã loucura” esta é própria dos santos, que toma dos “loucos normais” a contradição que os caracteriza. Neles, aquilo que parece inconciliável encontra feliz conexão. Os radicais, no sentido de penderem por um único lado da balança da vida, são os homens comuns, ora rastejantes sobre a terra, alienados das coisas do alto, ora perdidos nas realidades do alto, alienados das coisas da terra. Os santos não. Destes tudo se pode esperar, são imprevisíveis, admiravelmente terrenos, surpreendentemente divinos!

Vivido entre 1542 e 1591 na Espanha, sua vida é marcada, por um lado, pela dor infligida-lhe pela dura realidade externa, e por outro pela alegria da descoberta crescente de uma vasta e luminosa realidade interior.

Órfão de pai aos 3 anos, João de Yepes – seu nome civil - prova o esforço da mãe que procura corações benevolentes a garantir-lhe a sobrevivência. Na adolescência pode trabalhar e estudar.

Aos 21 anos faz-se religioso carmelita, mas sofre a angústia de não poder viver ali como queria, e sonha com a austeridade e o silêncio monástico dos cartuxos.

No ano em que se ordena sacerdote, em 1567, encontra-se com Santa Teresa, que o conquista para a sua obra de reforma entre os frades. No ano seguinte, em 1568, torna-se o primeiro carmelita descalço, assume o novo nome de João da Cruz e vive momentos de indescritível felicidade, num casebre perdido da zona rural de Ávila. A partir daqui empenha-se, até o fim da vida, em diversas tarefas entre os carmelitas descalços que vêem-se em ligeira expansão. Sua missão somente é interrompida pela perseguição dos padres da Ordem Carmelitana, que o escolhem como vítima do conflito gerado pelo crescimento dos descalços. Durante 9 meses, entre 1577 e 1578, é encarcerado no convento da cidade de Toledo. No meio de um sofrimento físico e moral somente imaginável por quem passou pela dura realidade da prisão, brotam do seu coração as mais belas poesias místicas já escritas, que revelam a experiência de um Deus que se faz prisioneiro do nosso amor.

Terminado o tempo da prisão, retoma suas atividades, até o ano de 1591, quando, em meio a uma surda perseguição dos seus próprios superiores, alegra-se por ver aproximar-se o almejado momento de poder ver rompida a tênue tela que o separava do seu divino amado.

São João da Cruz deixou-nos escritos de maravilhosa profundidade de vida espiritual. Seus escritos revelam a densidade de vida que ele mesmo viveu, e constitui doutrina insuperável, pela originalidade das considerações, a respeito do itinerário da vida cristã, desde seus primeiros passos às mais altas realizações nesta vida. A forma que envolve o conteúdo dos ensinamentos do místico doutor, é de igual modo, plena de beleza poética, pois somente a poesia é capaz de expressar sentimentos e realidades indizíveis.

Além das cartas, de pensamentos e ditos e outros escritos menores, São João da Cruz deixou-nos quatro grandes escritos que interrelacionam-se e onde desenvolve o dinamismo que toda pessoa humana é chamada a percorrer em sua relação com Deus. Tais obras são: Subida do Monte Carmelo, Noite escura, Cântico espiritual e Chama viva de Amor. As duas primeiras obras acentuam a purificação como passagem e caminho que concretiza a união, purificação que envolve atitudes que têm por protagonismo ora a pessoa que responde à graça, ora Deus mesmo que, aos passos da pessoa, toma o processo em suas mãos. As outras obras, ainda que tocando a realidade da purificação, centram sua atenção na vivacidade do amor que tudo pervade e nas consequências positivas da união com Deus, ideal último para o qual todos nós fomos criados.

O centro de tudo é sem dúvida o amor: força propulsora do processo, objeto de purificação que consiste em concentrar toda a sua força para Deus, fim e ideal do caminho. A união com Deus é união de amor com aquele que é amor. Ordenado para Deus, nosso amor recupera sua veemência, sua característica de força e movimento, afinal o amor é forte como a morte e sua medida é ser sem medida. Tão infinito como Deus é o amor, e, do mesmo modo como ele nos amou, à loucura, quando o amamos, somos levados a cometer por ele loucuras de amor. "Com ânsias de amores inflamada", diz um trecho de uma sua poesia, é assim que a alma caminha em seu caminho com Deus e para Deus. Amando assim, este santo carmelita tornou-se, sem dúvida, um louco, louco de paixão por Deus, e nenhum de nós que dele se aproxima e por ele deixa-se guiar, pode deixar de almejar a mesma loucura, de um mesmo amor.
Frei César Cardoso de Resende, ocd
Para ser Suas esposas



A vida das Carmelitas Descalças nasce da chamada de Deus, edifica-se em Cristo, através do dom do Espírito Santo dado a Teresa de Jesus e João da Cruz. Vivem este carisma como fraternidades orantes ao serviço da Igreja, comunicando com a vida a experiência de amizade e intimidade com o Senhor. Irmãs de Maria, as Carmelitas aprendem dela a colher e fazer presente Jesus, para continuar a tornar visível a realidade da Sua encarnação no mundo.

A vida do Carmelo é um viver para Deus, buscando-O sobre todas as coisas

"A vocação das Carmelitas Descalças é um dom do espírito, que as convida a uma “misteriosa união com Deus” vivendo em amizade com Cristo e em intimidade com a Bem Aventurada Virgem Maria; a oração e a imolação fundem-se vivamente com um grande amor a Igreja.

Por isso, em virtude de sua vocação, estão chamadas à contemplação, tanto na oração como na vida. Este compromisso de viver em contínua oração nutre-se com a fé, a esperança e, sobretudo com o amor de Deus. Desta maneira, com um coração puro, puderam conseguir a plenitude da vida em Cristo e dispor-se a receber a abundância dos dons do espírito.

Por exigência do carisma Teresiano, a oração, a consagração e todas as energias de uma Carmelita Descalça, devem estar orientadas para a salvação das almas. Chamadas a viver “em obséquio de Jesus Cristo servindo-o fielmente com puro coração e reta consciência,” as Carmelitas propõem-se seguir os conselhos evangélicos com toda a perfeição possível. Para tal fim comprometem-se de coração a se doarem “totalmente e sem partilhas Aquele que é nosso Tudo”; a “imitar a Cristo em todas as coisas, conformando-se a sua vida que devem meditar para saber imitá-la”; e a “resolver-se desde o principio, com determinação a seguir o caminho da cruz, pois o mesmo Senhor mostrou ser esta a estrada da perfeição”.

A vocação do Carmelo na Igreja e a peculiar forma de vida instaurada e testemunhada por Santa Teresa de Jesus exigem daquelas que, acolhendo o chamado divino, desejam abraçá-lo, determinem-se firmemente a seguir os conselhos evangélicos “com toda a perfeição possível”, em prol das necessidades da Igreja, dentro de uma pequena comunidade bem arraigada na solidão, na oração e na abnegação". (Cf. Constituições)

Se você sente o chamado divino a tomar a atitude de abraçar o mundo na montanha do Carmelo, como tantas jovens hoje que optaram a estar escondidas com Cristo em Deus nos Carmelos do Brasil, procure um sacerdote, ou entre em contato com um dos Carmelos, mande um e-mail, envie uma carta, e sobretudo ore o seu chamado.

Aquele que a chama, chama-a porque a ama. Sentir o desejo de iniciar a aventura carmelitana já é uma grande graça. Mas é preciso decidir-se. Estaremos orando por você e as portas do Carmelo abrem-se para aquelas que Deus verdadeiramente enviou.


Uma jovem que deixa a sua casa para ingressar no Carmelo tem seu lugar na família ocupado pelo próprio Cristo. Além disso, ao abraçar o Carmelo, em Deus, que em tudo se faz presente, leva todos consigo e a todos abraça com seu amor e sua doação.
A vocação da Carmelita


É uma coisa que não pode causar estupor na leitura dos escritos de Santa Teresa de Lisieux o seu amor, o seu interesse, o seu respeito e estima pelos sacerdotes. Sente antes de tudo a necessidade da oração pelos sacedotes. Entre as várias experiências da sua viagem na Itália, houve aquela particular que diz respeito aos sacedotes: "Não tendo vivido na sua intimidade, não podia entender a finalidade principal da reforma do Carmelo. Orar pelos pecadores me atraia, mas orar pelas almas dos sacerdotes que eu cria mais puras que o cristal parecia-me surpreendente! Ah! Entendi a minha vocação na Itália e não foi preciso andar muito longe para um conhecimento tão útil. Por um mês vivi com muitos santos sacerdotes e vi que, se a dignidade os exalta acima dos anjos, eles são todavia homens débeis e frágeis... Se os santos sacerdotes que Jesus chama no Evangelho sal da terra mostram na sua conduta que têm uma grande necessidade das orações, o que dizer dos tíbios? Jesus não disse: "Se o sal torna-se insípido, com que salgaremos?" "Oh Madre! - continua a santa - Como é bela a vocação que tem por findalidade conservar o sal destinado às almas! É a vocação do Carmelo, porque o fim único das nossas orações e dos nossos sacrifícios é de ser apóstolo dos apóstolos, orando por eles, enquanto evangelizam as almas com as palavras e sobretudo com os exemplos (MA 157).

Teresa do Menino Jesus faz referência à finalidade da vocação carmelitana dada por Teresa de Jesus, a fundadora, como meta do Carmelo Descalço, quando para suas carmelitas escrevia no Caminho de Perfeição: "Quero fazê-las entender, irmãs, que nós devemos orar sem fim para que os bons cristãos que estão dentro da fortaleza não passe nenhum para o inimigo e para que o Senhor santifique os capitães da fortaleza e da cidade, que são os pregadores e os teólogos. E assim como a maior parte destes pertence às Ordens Religiosas, orai ainda para que alcancem a perfeição do seu estado. Isto é absolutamente indispensável. Podeis perguntar-me porque insisto tanto sobre este ponto e porque devemos ajudar aqueles que são melhores de nós (...) Os capitães devem viver com os homens, conversar com eles, entrar nos palácios, misturar-se nas conversações do mundo, e não obstante isto devem manter-se estranhos, inimigos do mundo, habitar aí como se fosse em um deserto, emfim, ser anjos e não homens? (...) Persuasa de que de santos prelados depende a nossa própria santidade, não esqueçamos jamais de lembrar-lhes ao Senhor, porque se trata de uma coisa muito importante. O dia em que as nossas orações, nossas penitências, nossos desejos e jejuns não fossem empregados nisto que disse, não alcançareis o fim para o qual o senhor vos reuniu aqui (Caminho 2,8,10).

"Vim para o Carmelo para salvar as almas, e sobretudo para orar pelos sacerdotes

Este pensamento a acompanhará também no seu ingresso no Carmelo e depois por toda a sua vida: "Aquilo que vim fazer no Carmelo, declarei-o aos pés de Jesus Hóstia, no exame que precedeu a minha profissão. Vim ao Carmelo para salvar as almas, e sobretudo para orar pelos sacerdotes" (M 195). À irmã Celina escrevia no mês de julho de 1889: "Ó minha cara Celina, vivamos pelas almas, salvemos sobretudo as almas dos sacerdotes. Estas almas deveriam ser mais transparentes que o cristal. Mas, ai de mim, quantos sacerdotes não são bastante santos... oremos, soframos por eles, e no último dia Jesus será nos será grato por isto. Nós lhe daremos almas... Celina, compreende o grito do meu coração" (Ct. 74). Em 1890 escreve à mesma Celina: "Celina cara, é sempre a mesma coisa que tenho a te dizer: oremos pelos sacerdotes... A cada dia nos damos conta de quão raros são os amigos de Jesus. Parece-me que seja isto o que mais o fere profundamente... a ingratidão, sobretudo o ver que almas a ele consagradas dão a outros aquele coração que lhe pertence de maneira absoluta. Se quiser poderemos converter as almas; é preciso que este ano façamos muitos sacerdotes amarem Jesus, que o toquem com as mesma delicadeza com a qual Maria o tocava na magedoura" (Ct. 102). Portanto Teresa tinha um conceito altíssimo da vocação sacerdotal: os sacerdotes devem ser anjos e não homens. A um certo momento também Celina quer entrar no Carmelo. Teresa defende a vocação daquelas que a deveriam acolher na comunidade: "Jesus nos defendeu na pessoa da Madalena. Era à mesa, Marta servia, Lázaro comia junto com Jesus e seus discípulos. Quanto a maria, não pensava em comer, mas em dar prazer àqueles que amava. Assim, tomou o vaso de alabastro cheio de perfume de grande valor e, tendo quebrado o vaso, o derramou sobre sua cabeça. Então toda a casa se encheu daquele perfume, mas os apóstolos murmuravam contra ela. A mesma coisa acontece conosco: os cristãos mais perfeitos, os sacerdotes, acham que somos exageradas, que deveríamos servir como Marta, ao invés de consagrar a Jesus os vasos das nossas vidas com os perfumes que estão aí dentro. Todavia, o que importa se os nossos vasos se quebrem, a partir do momento em que Jesus é consolado e o mundo levado a sentir os perfumes que exalam e que servem para purificar o ar envenenado que respiram?" (Ct 118).

Teresa, entre as várias vocações do seu coração sedento para doar-se a Deus e às almas, sente todas as vocações: de apóstolo, de mártir, de missionário, de guerreira, mas sente também a vocação do sacerdote. "Com que amor, Jesus, te levarei nas minhas mãos, quando, à minha voz, descereis do Céu! Com que amor te darei às almas!... (MA 251). Em São Paulo ela encontrará a realização da sua vocação no amor, "que abraça todas as vocações, porque o amor é tudo, e abraça todos os tempos e todos os lugares, em uma palavra é eterno!" (MA 254).


Em uma oração feita para suas noviças, Teresa assim dizia: "Senhor, temos necesssidade de almas! Especialmente de almas de apóstolos e mártires, a fim de que por meio deles, possamos inflamar do vosso amor a multidão dos pobres pecadores" (P. 8). Em uma composição poética sobre o pequeno mendicante do Natal, que é Jesus Menino, escreve, sonhando semeadores: "Lá em baixo, sob outros horizontes, não obstante as neves e os gelos, douram as messes que o Menino Jesus protege. Mas quais as almas ardentes seriam necessárias para colhê-las? Colhedores que não temem o ferro e o fogo, nem a vontade de sofrer. Eu venho ao Carmelo sabendo que os meus votos são também os teus: irmã, gera para o Salvador almas de apóstolos, multidões" (CP 15,12). Eis a finalidade: gerar para o Senhor almas de apóstolos: eis a sua vocação carmelitana.

Certamente chegavam ao Carmelo pedidos de oração neste sentido e o seu espírito delicado não podia não sofrer e por isso se empenhava ainda mais neste serviço. Formar sacerdotes santos, delicados com o Corpo do Senhor. Pode quase parecer uma obssessão para Teresa do Menino Jesus. Na sua conhecida poesia "Viver de Amor", Teresa, em um certo momento, explicando os vários significados do seu viver de amor, exprime também este: "Viver de amor, ó meu Divino Mestre, é suplicar-te para espandir os seus rais nas almas eleitas e santas dos sacerdotes, para que sejam mais que um celeste serafim, e protejam a tua Igreja imortal... (P. 9,10)

Entre outros sacerdotes presentes na vida de Santa Teresinha, dois se destacam. A santa tinha manifestado o prazer que seria ter um irmão sacerdote. Ela ganha dois, confiados às suas orações e ajuda espiritual. As toma como verdadeiros irmãos. E como é agradecida a Jesus por isto: "Jesus meu, vos agradeço por satisfazer-me em um dos mais grandes desejos: o de ter um irmão sacerdote e apóstolo: sou indigna de tanto favor" (P.11). Na sua autobiografia Teresa descreve longamente os caminhos do Senhor para fazê-la irmã de dois sacerdotes missionários. A convite da Priora de tomar-lhe como seus irmãos espirituais, a santa aceita e escreve: "Madre minha, dizê-la da minha felicidade seria algo impossível, o meu desejo satisfeito de modo inesperado me fez nascer no coração uma alegria infantil, porque devo voltar no tempo da minha infância para encontrar a recordação daquelas alegrias tão vivas que a alma torna-se pequena para contê-las" (MC 330).

O primeiro filho espiritual da santa foi Maruício Bartolomeu Bellière, aspirante missionário que no dia 29 de setembro de 1897, às vésperas da morte da santa, embarcava para a Algéria para entrar no noviciado dos Padres Brancos. Depois de alguns anos de missão na África, apareceu-lhe a doença do sono, e voltou para a França onde morreu em 1907, aos 33 anos.

O outro irmão missionário foi entregue aos cuidados de Teresa no mês de maio de 1896. Trata-se de Adolfo Giovanni Luigi Eugenio Roulland, das Missões estrangeiras de Paris, que foi ordenado sacerdote no mês seguinte e partiu no dia 2 de agosto daquele ano para a China.Em 1909 retornou à França, assumiu diversos cargos e morreu em 1934. Teresa tentou rejeitar o segundo irmão missionário porque já empenhada nas orações pelo primeiro. A Priora foi irremovível. "O zelo de uma Carmelita deve abraçar o mundo" recordou-lhe a Madre. Santa Teresinha pensava então "de poder ser útil a mais de dois missionários, e não podia esquecer de orar por todos, sem esquecer-se dos simples sacerdotes, cuja missão às vezes é tão difícil quanto aquela dos apóstolos que pregaram aos infiéis" (MC 333). Assim a santa conclui seu relato: "Eis como fui unida espiritualmente aos apóstolos que Jesus me deu como irmãos: tudo o que me pertence, pertence a cada um deles".

A partir daí Teresa coloca-se em correspondência epistolar com os dois sacerdotes e futuros missionários. As suas cartas são de uma profunda espiritualidade dificilmente encontrável em outros lugares. Não só se abre com eles, mas explica a eles os seus sentimentos sobre a bondade e a misericórdia divina, sobre a confiança nas quedas, sobre a eficácia da oração, sobre o amor que une aos dois. A santa busca sustentá-los nas dificuldades e os ajuda com todos os meios consentidos à sua condição de Carmelita. Vejamos algumas expressões mais significativas.

Ao P. Roulland diz, desde o início, que preparará para ele o corporal e um purificador com uma pala para que tivesse o prazer de enviar-lhe no dia da sua ordenação. E diz: "Suplico-lhe, reverendo Padre, peça a Jesus por mim no dia no qual se dignará descer pela primeira vez do céu chamado pela tua voz, peça-lhe de inflamar-me com o fogo do seu amor, para que eu possa depois ajudá-lo a descer até os corações. Faz tempo eu desejava conhecer um apóstolo que fosse contente de pronunciar o meu nome no santo altar, no dia da sua primeira Missa. Desejava preparar-lhe eu mesma as alfaias sagradas e a cândida hóstia destinada a esconder sob o véu o Rei dos reis. Este Deus de bondade quis realizar o meu sonho e mostrar-me uma vez mais o quanto é pronto a alegrar as almas que não buscam outro que Ele. Quando o oceano o separar da França, recordar-se-á, olhando a pala que eu pintei com tanta alegria, que sobre o Monte Carmelo uma alma ora sem cessar ao divino Prisioneiro do amor pelo sucesso da sua gloriosa conquista". E conclui a primeira carta ao irmão missionário com um desejo: "Desejo, Reverendo padre, que a nossa união apostólica não seja conhecida por ninguém, a não ser Jesus...".

Teresa, assim, vive a missão da carmelita: de oferecer suas orações e sacrifícios escondidos pelas almas expostas às dificuldades de quem está na primeira fila do apostolado da Igreja: solidão, desencorajamento, incerteza e incompreensão. Toda a correspondência com o Pare Roulland, bastante numerosa, vai nesta linha. Menos numerosas são as cartas com o Clérigo Bellière: mas a ele será particularmente próxima durante a crise vocacional que o tomou durante o serviço militar: crise felizmente superada, como demonstra a sua ordenação sacerdotal, o seu ingresso entre os Padres Brancos e o seu breve apostolado na África, do qual teve que distanciar-se por causa da doença.

Viver pelos sacerdotes, estes homens de Deus que têm a Missão de tornar o Cristo presente em sua Igreja, eis um ponto fundamental na vocação da Carmelita. Unidas a eles, como Santa Teresinha, elas serão missionárias e apostólicas, porque plenamente convictas da grandeza da vocação sacerdotal e do bem que faz o testemunho de uma vida santa, às almas confiadas aos sacerdotes. Vida que é dom de Deus e Graça inteiramente sua, humildemente implorada na oração e pelo sacrifício e imolação de Teresa e suas filhas, de Teresinha e suas irmãs.
Espírito e Vida das Carmelitas Descalças



As Carmelitas Descalças formam o ramo feminino contemplativo da Ordem fundada por Santa Teresa de Jesus (de Ávila). A obra da Santa Madre do Carmelo Reformado iniciou-se com a fundação do mosteiro de São José de Ávila no dia 24 de agosto de 1562. Portanto, as monjas são o primeiro grande fruto do carisma da Santa Carmelitana que, posteriormente, estende-se na fundação de conventos de frades com a colaboração de São João da Cruz. Mais tarde também a ordem vai estender-se na formação de um ramo formado por leigos.


"O essencial da vida das monjas carmelitas é a busca incessante do encontro com Deus e da experiência da sua presença; do cultivo de uma íntima amizade com Cristo através de uma intensa vida de oração, no silêncio e na solidão; o tom mariano confere às monjas um exercitar-se contínuo no desenvolvimento das virtudes de Maria, mãe e mestra da conformação a Cristo; com a oração e o sacrifício como oferta de si, querem contribuir para a renovação interior do mundo e da Igreja, apontando, com sua vida toda dedicada à sinalização do "unicum necessarium.
A carmelita deve ser apostólica: todas as suas orações, todos os seus sacrifícios tendem a isso. A vida do sacerdote como a da carmelita é um advento que prepara a Encarnação nas almas. Um e outra podem irradiar Deus, doá-Lo às almas somente se permanecem em contato com as fontes divinas..."


"Do fundo da mia solidão do Carmelo, quero ser apóstolo, quero trabalhar pela glória de Deus e para isso é preciso que eu seja toda plena d'Ele. Então serei onipotente: um olhar, um desejo que formem uma oração irresistível que pode obter tudo porque, em certo modo, é Deus mesmo que oferecemos a Deus. Que as nossas almas sejam uma alma só n'Ele, e enquanto o sacerdote O leva às almas, eu ficarei em silêncio e em adoração junto ao Mestre como Madalena que ora para tornar fecunda nas almas a sua Palavra. Apóstolo e Carmelita são a mesma coisa! Demo-nos totalmente a Ele, deixemo-nos invadir pela sua linfa divina; que Ele seja a vida da nossa vida, a alma da nossa alma e permaneçamos conscientemente, gia e noite, sob a sua ação divina" (Carta 171).


"Amo contemplar a minha vida de carmelita nesta dúplice vocação: Virgem e Mãe. Virgem, casada com o Cristo na fé. Mãe, salvando as almas, multiplicando os filhos adotivos do Pai, os co-herdeiros de Jesus Cristo.
Parece-me que no céu a minha missão será aquela de atrair as almas ajudando-as a sair de si mesmas para aderir a Deus, com um moto totalmente espontâneo e cheio de amor, e de tê-Lo naquele grande silêncio interno que permite a Deus de imprimir-se neles, de transformar-lhes n'Ele mesmo. Ora, tenho a impressão de ver todas as coisas à luz do bom Deus. Oh, se pudesse recomeçar a minha vida, como queria não perder um só instante! A nós, esposas do Carmelo, não nos é permitido fazer outra coisa que amar, que viver em modo divino" (Carta 280).


Certas de que a oração transforma e santifica o mundo, santa Madre Teresa era convicta que uma vida de oração não se sustenta senão com a humildade, pobreza e o amor fraterno. Por isso as monjas buscam viver em comunidade, amando-se na partilha da vida e do trabalho, na alegria, no respeito e na simplicidade, procurando serem amigas e querendo-se bem. Por este motivo Santa Madre quis que as suas comunidades fossem pequenas no número de componentes, para favorecer o encontro cordial, amigável e afável entre todas. Santa Teresa idealizou e organizou seus Carmelos como comunidades orantes, pequenas e pobres, reunidas pelo amor ao redor do Cristo, com estilo próprio de alegria, fraternidade e humildade.

"Para uma carmelita não existe senão uma ocupação: amar e orar. Mas porque, ainda que vivendo já no céus, ela tem um corpo sobre a terra, deve, neste abandono de amor, estar ocupada para cumprir a vondade do Senhor... A jornada de uma carmelita é assim preenchida minuto por minuto pelo trabalho e pela oração... Queria que me observasse lavando a roupa no tanque com as vestes toda molhada... Com Jesus tudo é delicioso, não há mais dificuldade nem tédio algum em nada... Oh! Como se está bem no Carmelo!..." (Beata Elisabete da Trindade).

Teresa, para combater o mal que afligia o mundo, decidiu viver o Evangelho "com toda possível perfeição", junto a um pequeno grupo de irmãs, o "pequeno colégio de Cristo", enamoradas por Jesus e unidas entre elas por uma profunda amizade. Na organização da vida da comunidade busca-se viver nesta fidelidade e todos os momentos encontram naquele grande objetivo seu sentido.

Os diversos momentos da vida no Carmelo

Despertar: "Louvado seja o Senhor Jesus e a Virgem Maria sua Mãe... À oração, irmãs, ao louvor ao Senhor".

Ofício divino (6 momentos durante o dia): "É tão agradável unir-se ao céu para cantar seus louvores, nessa hora em que o Senhor se encontra tão só... parece então que o céu é a terra e que se unem para entoar um mesmo cântico." (Elisabete da Trindade)


"Os salmos são preciosos e são um grito humilde e confiado que a criatura dirige a seu Pai do Céu. A alma que verdadeiramente se enche deles ficará muito perto do céu, pois cantar o ofício é fazer o que fazem os anjos no céu." (Teresa de los Andes)

"Todo louvou divino se dá por Cristo e em Cristo." (Edith Stein)

"Creio de estar no céu quando estou no coro cantando os louvores à Santíssima Trindade. Jesus também canta com suas carmelitas, Ele eleva junto com suas esposas esse clamor puro e suplicante pelo mundo a seu eterno Pai." (Teresa de los Andes)

Oração mental (2 horas durante o dia): "Para mim a oração é um impulso do coração, um simples olhar dirigido ao Céu, um grito de agradecimento e de amor." (Santa Teresinha)

"A oração não consiste em pensar muito, mas em amar muito. Vede com que amos Ele nos olha." (Santa Teresa)

Eucaristia: "Quem na comunhão O recebe no mais fundo da alma, sentirá atraído mais e mais para a corrente da vida divina e o seu coração será configurado ao coração de Cristo." (Santa Edith Stein)

Trabalho manual: "Seja que cozinhe, trabalhe ou faça oração, tudo me resulta encantador, porque descubro a meu Divino Maestro em todas as partes. A Deus se encontra do mesmo modo, seja na lavanderia como na oração." (Elisabete da Trindade)

Exame de consciência (ao meio dia e à noite): "Quando o exame de consciência nos demonstra que muitas coisas ficaram por fazer, então é bom assumir tudo e deixá-lo nas mãos de Deus... voltaremos a encontrar a paz." (Edith Stein)

Refeições: "A mesa comum é símbolo da comunhão fraterna: durante as refeições as irmãs escutarão a leitura da Bíblia ou outras leituras úteis." (Constituições, 93)

Recreação: "Tudo é alegria e simplicidade no Carmelo e cada um se esmera em colocar um pouco de sua parte para alegrar as irmãs.

Nos divertimos muitíssimo... todas não fomamos senão um só coração." (Teresa de los Andes)

"Procurai dasafogar-se com as irmãs quando recreardes. Sede afáveis e procurem agradar e fazê-las felizes... quanto mais santas mais 'conversáveis' sereis com suas irmãs." (Santa Teresa)

Retiro na cela: "Quão bom é estar em minha querida cela! Tudo está tão cheio de Deus. Passo horas felizes a sós com meu Esposo. Para mim a cela é um santuário destinado só para Ele e para sua pequena esposa... eu calo e O escuto." (Elisabete da Trindade)

Leitura espiritual / formação: é muito bom 'letras' para tudo... Tenham bons livros, porque é tão necessário para a alma quanto a comida para o corpo." (Santa Teresa)

Trabalho: "Obras quer o Senhor e se vês uma enferma compadece-te dela e procura adiantar-te nos trabalhos para livrá-los do próximo, quando se oferecer." (Santa Teresa)

Repouso: "Obrigado por todos os benefícios que me concedeu neste dia. Amanhã, com a ajuda da tua graça, começarei uma nova vida.
Depois de vir assim cada noite, chegarei por fim à última noite da minha vida e então começará para mim o dia sem ocaso da eternidade, no qual descansarei sobre teu Divino Coração." (Santa Teresinha)

Sinal da dignidade da pessoa humana


"Santa Teresa diz que a alma é como um cristal no qual se reflete a Divindade. Eu gosto tanto desta comparação e quando vejo o sol invadir com os seus raios os nossos claustros, penso que Deus invada do mesmo modo a alma que não busca outra coisa senão Ele. Nosso Santo Padre João da Cruz diz: "Tu que és a mais bela das criaturas, alma que desejas tão ardentemente conhecer o lugar onde se encontra o teu Dileto para aí buscá-lo e unir-te a ele, és tu, tu mesma, o canto onde ele se refugia, a morada onde ele se esconde. O teu Dileto, o teu tesouro, a tua única esperança, é tão próximo de ti que habita em ti mesma, e, a bem da verdade, tu não poderias existir sem Ele!" Eis toda a vida do Carmelo: viver nele. Então todos os sacrifícios, todas as imolações tornam-se divinas, e a alma, em cada coisa, vê aquele que ama e tudo leva a ele: trata-se de um contínuo coração a coração!" (Elisabete da Trindade)

Testemunhas de uma felicidade indizível


"A minha felicidade cresce sempre, assume proporções infinitas como Deus mesmo. É uma felicidade calma, tão doce! S. Pedro na sua primeira carta diz: "Porque credes, sereis colmados de uma alegria inefável". Sou convicta que a carmelita alcança realmente toda a sua felicidade nesta fonte divina: a fé. Ela crê, como diz S. João, "no amor que Deus tem por ela", crê que este mesmo amor o atraiu sobre a terra e na sua alma; porque aquele que se é chamado a "Verdade" disse no Evangelho: "Permanecei em mim e eu em vós". Então, com toda simplicidade, ela obedece a um mandamento tão doce e vive na intimidade com aquele Deus que nela habita, que é mais presente de quanto não seja ela a si mesma. Tudo isto não é sentimento, nem imaginação. É pura fé.
Eis a vida da carmelita. Ela é antes de tudo uma contemplativa, uma nova Maria Madalena que nada deve distrair do único necessário... Uma carmelita é uma alma que fixou-se no Crucificado, que o viu oferecer-se como vítima ao Pai pelas almas, e recolhendo-se nesta grande visão da caridade do Cristo, entendeu a paixão de amor da sua alma e quis doar-se como Ele!" (Beata Elisabete da Trindade)

A dimensão missionária da Carmelita Descalça


Este é um dos paradoxos da vida carmelitana! O Carmelo é missionário. E ninguém melhor do que a Padroeira das Missões, Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, para nos falar dele. Ao descobrir que o Amor era sua vocação, Santa Teresinha nos ajudou a perceber que o mar e o céu não são limites para quem ama, pois o amor abraça tudo e todos. Cada Carmelo não é só fonte de irradiação de vida espiritual para sua diocese, seu clero, seu povo, mas é irradiação de vida para a Igreja Universal e para o mundo inteiro. Ao ingressar no Carmelo, entra-se no mundo, em todas as partes, na casa dos pobres e dos ricos, dos que estão perto e que estão longe. Uma carmelita torna-se cidadã do mundo. Ao assumir a pulsão do coração de Santa Teresa, seu coração passa a pulsar por todos. Cada carmelita torna-se cidadã de todos os países. Sofre e se alegra com todos os que sofrem e se alegram. O coração torna-se livre para ir em qualquer parte. O amor faz com que lhe seja possível dar a volta ao mundo. Tudo o que ocorre no mundo, ocorre no coração de quem ama.

Quando o coração se torna pobre, já não vive apegado à sua casa, ao seu quarto, à sua rua, aos seus, negócios: é livre… já pode partir. Pode ir e vir. É um navio que solta as suas amarras. Pode ir mar adentro, pode navegar até ao alto mar.

Ao descobrir que a sua “Vocação é o Amor”, Santa Teresinha compreendeu o verdadeiro sentido da sua vocação contemplativa e como ela influi na Igreja e no mundo. Compreende que ela não actua só, nem principalmente, através das orações de intercessão, mas pela transformação do próprio ser na união cada vez mais ]intima com Jesus. Essa mudança, que acontece em Teresa, e em cada vocação contemplativa, estende-se misteriosamente a todos os membros do Corpo de Místico, a toda a Igreja espalhada pelo mundo inteiro. Não sabemos nem o modo nem a medida desta influência, mas a realidade fala por si mesma, e é certo que existe uma mútua comunicação entre todos os membros. A sua vocação contemplativa não é a de evangelizar mas a de purificar, a de santificar, a de transformar a Igreja desde o interior, desde o coração, desde o Amor.

«Jesus foi mais misericordioso comigo do que com os seus apóstolos, tomou Ele mesmo a rede, lançou-a e retirou-a cheia de peixes… Fez de mim um pescador de almas. Senti um grande desejo de trabalhar pela conversão dos pecadores, desejo que não tinha sentido tão vivamente» (A45v).

É assim que Santa Teresinha começa a descrever a sua vocação. Vocação que é resposta ao grito de Jesus na cruz “Tenho sede”, e que ecoava no seu coração. Estas palavras despertaram nela um fogo desconhecido e muito vivo. Consumia-a o desejo de dar a beber a Jesus a tal ponto, que assumiu em si mesma a sede Daquele que o seu coração amava. Isto é o bastante para que se determine a ficar aos pés da Cruz para receber a graça e reparti-la por todos. Ela propõe-se combater a heresia do seu tempo que é também a do nosso: a indiferença de muitos à redenção realizada por Cristo.

Neste combate todas as carmelitas são solidárias e em comunhão com Teresinha. E tal como ela assumem em si mesmas o desejo que Jesus tem de se encontrar com cada homem e mulher do nosso tempo. Este desejo é o impulso amoroso que leva cada Irmã a orar, a trabalhar e a sacrificar-se, fazendo da sua vida uma palavra viva do Deus Vivo.

O lugar de cada carmelita é junto à Cruz, é aí que ela recebe a graça que se converte em maternidade sobrenatural para todos os filhos de Deus. Ela vive a sua maternidade espiritual unida a Maria, a Virgem Sacerdotal, e participa da sua missão de mediadora da graça. Esta participação permite-lhe viver o seu sacerdócio real, comum a todos os fieis, unido ao sacerdócio ministerial de cada presbítero. Não só rezando por ele, mas estando unida a ele por um vínculo muito estreito, porque o sacerdote é o primeiro fruto da sua vocação missionária. É ele que fará da carmelita “mãe das almas”.

Teresa, numa das suas cartas, define a vocação missionária da carmelita duma forma tão interpeladora quanto desafiante para cada uma de suas Irmãs: «A nossa vocação não é ir ceifar os campos das messes maduras. Jesus não nos diz: “Baixai os olhos, olhai e ide ceifar”. A nossa missão é ainda mais sublime. Eis aqui as palavras de Jesus: “Levantai os olhos e vede”. Vede como no céu há lugares vazios; a vós toca-vos enchê-los. Vós sois o meu Moisés orante na montanha: pedi-me operários e eu os enviarei; não espero mais que uma oração, que um suspiro de vosso coração. (…) A nossa missão como carmelitas é a de formar trabalhadores do Evangelho que salvem as almas, das quais nós seremos mães. Parece-me tão bela a nossa missão!» (Ct 135).

A vocação missionária da carmelita entendida assim é de uma beleza rara. Beleza que a muitos atrai e fascina. Mas na realidade, a nossa Grande Missionária, diz-nos que estar em missão no Carmelo é uma “luta dura”, um “martírio doloroso”, que exige viver em pura fé.

«O martírio mais doloroso, o mais amado, é o nosso, porque só Jesus o vê. Não será nunca revelado às criaturas da terra; mas quando o Cordeiro abra o livro da vida, que admiração na corte celestial ao ouvir proclamar, juntamente com o nome dos missionários e dos mártires, o nome de umas pobres Irmãs que nunca fizeram coisas deslumbrantes!» (Ct 195).

Ser Carmelita é viver em Missão! Não é ter apenas uma missão para evangelizar, mas é tê-las todas.


O Mosteiro na Igreja local


"O mosteiro é o lugar que Deus cuida (cf. Zac. 2,9); é a morada da sua singular presença, à imagem da tenda da Aliança, na qual se realiza o quotidiano encontro com Ele, onde Deus, três vezes santo, ocupa todo o espaço e é reconhecido e honrado com o único Senhor.

Um mosteiro contemplativo constitui um dom também para a Igreja local, à qual pertence. Representando para Ela o rosto orante, torna mais plena e significativa a sua presença de Igreja. Uma comunidade monástica pode ser comparada a Moisés que na oração decide os destinos das batalhas de Israel (cf. Ex. 17,11) e à sentinela que vigia na noite na espera da aurora (cf. 21,6).

O mosteiro representa a intimidade mesma de uma Igreja, o coração, onde o Espírito geme e suplica pelas necessidades da inteira comunidade e de onde se eleva sem parar a ação de graças pela Vida que cada dia Ele oferece (cf. Col. 3,17).

É importante que os fiéis aprendam a reconhecer o carisma e a missão específica dos contemplativos, a sua presença discreta mas vital, o seu testemunho silencioso que constitui um chamado à oração e à verdade da existência de Deus.

Os bispos, como pastores e aperfeiçoadores de todo o rebanho de Deus, são os primeiros custodes do carisma contemplativo. Portanto devem nutrir a Comunidade contemplativa com o pão da Palavra e da Eucaristia, oferecendo também, se necessário, uma assistência espiritual adequada por meio de Sacerdotes preparados. Ao mesmo tempo compartilham com a Comunidade mesma a responsabilidade de vigiar para que, na sociedade atual tendente à dispersão, à falta de silêncio, aos valores aparentes, a vida dos mosteiros, alimentada pelo Espírito Santo, torne-se autêntica e inteiramente orientada à contemplação de Deus.

Somente na perspectiva da verdadeira e fundamental missão apostólica que lhes é própria, que consiste em "ocupar-se de Deus somente", os mosteiros podem, na medida e segundo as modalidades que convém ao próprio espírito e à tradição da própria família religiosa, acolher quantos desejam beberde sua experiência espiritual, participando à oração comum da comunidade (Instrução Verbi Sponsa, da Congregação Pontifícia para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, n. 8).

domingo, fevereiro 06, 2011

"Alguns de vós, que sentis que Jesus vos convida a segui-lo mais de perto e vos pede tudo. Não tenhais medo e dai-lhe, se vo-lo pedir, o vosso coração e a vida inteira". (João Paulo II)

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Elizabeth da Trindade

Elisabete Catez Rolland, filha de Francisco José e de Maria, nasceu perto de Bourges, França, num acampamento militar do campo de Avor, na manhã de domingo, dia 18 de julho de 1880, tendo sido batizada no dia 22 de julho, na capela do mesmo acampamento.

Desde menina distinguiu-se por seu temperamento apaixonado, um tanto agressivo, mas por outro lado marcado por uma agradável sensibilidade. Sua mãe conta: “Quando tinha um ano, já se manifestava a sua natureza ardente e colérica… Foi pregada uma missão durante a nossa estadia devendo terminar com a bênção das crianças. Uma religiosa veio-me pedir uma boneca para representar o Menino Jesus, no presépio, devendo vestir-se com um traje cheio de estrelas douradas e irreconhecíveis aos olhos da menina. Levei-a a cerimônia. A criança esteve distraída com as pessoas que chegavam, mas quando o prior do alto do púlpito anunciou a Bênção, Elisabeth deitou um olhar sobre o presépio e reconheceu a boneca e, num ímpeto de cólera, com o olhar furioso, exclamou: ‘Jeanette! Dêem-me a minha boneca!” A criada teve de levá-la no meio duma risada geral. “Esta natureza ardente e colérica cada vez mais se acentuou…” (RB 1,2-3).

Seu pai faleceu no dia 2 de outubro de 1887, de repente, vítima de uma crise cardíaca. Elisabete, que tinha então sete anos e dois meses, relembrará dez anos mais tarde essa hora trágica. A morte do pai causará a “conversão” e mudança de caráter de Elisabete. Como fruto de sua vida de ascese e oração.

Faz sua primeira comunhão no dia 19 de abril de 1891, em Dijon. Indo com outras companheiras visitar o Carmelo recebe um “santinho” da Priora, Madre Maria de Jesus, que na dedicatória traduz o nome Elisabete por “Casa de Deus”.

Desde os oito anos estudou música no Conservatório de Dijon. Todos os dias passava horas ao piano. Muitas vezes participou em concertos organizados na cidade. Seu talento precoce merece elogios nos jornais locais. No dia 24 de julho de 1893, apesar da sua pouca idade, obteve o primeiro prêmio de piano do Conservatório.

A jovem Elisabete freqüentará a sociedade local. No decorrer de uma festa, enquanto dançava e se divertia, a Sra. Avout, surpreendeu o seu olhar e lhe segredou: “Elisabete, não estás aqui, estás vendo Deus…” Havia nos seus olhos “um não sei quê de luminoso que irradiava”, disse Louise de moulin, que Elisabete preparava para a Primeira Comunhão. Um de seus amigos de juventude, que a tinha encontrado várias vezes quando todos os dias ia ver a sua grande amiga, a vizinha Marie Louise Hallo, Charles, irmão desta, não economiza superlativos quando descreve Elisabete como “muito simples e duma espantosa franqueza… muito querida pelas suas companheiras… muito alegre, muito musical… a sua doçura refletia-se-lhe no olhar extraordinário e luminoso… a pureza transparecia-lhe no olhar”. A Senhora Hallo confirmará o esplendor do olhar de Elisabete, especialmente quando voltava da comunhão: “nunca poderei esquecer o seu olhar. O rosto de Elisabete, quando voltava da comunhão, não se pode explicar”.

No dia 2 de janeiro de 1901, aos 21 anos, ingressou no Carmelo Descalço de Dijon, cidade onde vivia com sua sua família.

Recebeu o hábito no dia 8 de dezembro de 1902 e no dia 11 de janeiro de 1903 emitiu seus votos religiosos na Ordem do Carmelo, que já amava com toda sua alma.

Com sua vida e doutrina, breve mas sólida, exerce grande influência na espiritualidade atual, especialmente por sua experiência trinitária. Em sua obra distinguem-se: Elevações, Retiros, Notas Espirituais e Cartas.

Foi beatificada pelo papa João Paulo II, no dia 25 de novembro de 1984, festa de Cristo Rei. Sua festa é celebrada no dia 8 de novembro.


DOUTRINA ESPIRITUAL DE SANTA ELIZABETH DA TRINDADE.



É através de suas cartas que conhecemos a espiritualidade de Elisabete da Trindade, formada
por três elementos básicos.


1º elemento – É fundamental sair de si mesmo. Ela ensina a libertar-se de tudo que possa nos prender. Esquecer-se de si mesmo “para fixar-me em vós”, dirá Elisabete. A alma mais livre é aquela que se esquece mais de si mesma. Por isso, é necessário purificar a nossa vontade, trabalhar a nossa vontade.

2º elemento – Atrair as almas para o recolhimento, o silêncio interior. O silêncio é a maior expressão da contemplação. É por ele que se chega à unidade de todo o nosso ser e a unidade de nosso ser com Deus. É no silêncio interior que se vive a intimidade com as três pessoas divinas.

3º elemento – Ir a Deus pela fé; ser louvor de glória, como era o seu lema. Ser louvor de glória é ser uma alma que permanece em Deus; é estar com Deus num profundo silêncio. O sofrimento também canta os louvores, sempre em ação de graças. Ser louvor de glória é ser uma alma que canta sempre.

Elisabete, por ser tão intimamente unida a Deus Trinitário, irradia Deus. Não precisa de palavras, basta a sua presença e tudo se explica. Por isso, o apostolado de Elisabete era a sua própria vida de união com Deus. (Tirado da apresentação do Frei Pierino no Congresso)

Complemento com um trecho da página do Carmelo Nossa Senhora Aparecida – BH:

Irmã Elisabeth é uma alma que se transformou dia a dia no mistério trinitário. Enamorada por Jesus Cristo, que é “seu livro preferido”, eleva-se à Trindade, até que “Isabel desaparece, perde-se e se deixa invadir pelos Três”.

“A Trindade: aqui está nossa morada, nosso lugar, a casa paterna de onde jamais devemos sair… Encontrei meu céu na terra, posto que o céu é Deus e Deus está em minha alma. No dia em que compreendi isto, tudo se iluminou para mim”.

“Crer que um ser que se chama Amor habita em nós a todo instante do dia e da noite, e nos pede que vivamos em sociedade com Ele, eis aqui, garanto-vos, o que tem feito de minha vida um céu antecipado”. Amou intensamente sua vocação carmelita e também amou e imitou a “Janua Coeli”, como chamava Nossa Senhora. Andou a passos largos no caminho da perfeição. Faleceu no dia 9 de novembro de 1906, vítima de úlcera estomacal, murmurando, quase cantando: “Vou à luz, ao amor, à vida”.

Sua mensagem:

* que corramos no caminho da santidade;
* que o Espírito Santo eleve nosso espírito;
* que sejamos sempre um louvor à glória da Santíssima Trindade;
* que sejamos dóceis às moções do Espírito Santo.

Oração:
Deus, rico em misericórdia, que revelastes à beata Elisabeth da Trindade o mistério de vossa presença escondida na alma do justo, e dela fizestes uma adoradora em espírito e verdade, concedei-nos, por sua intercessão, que também nós, perseverando no amor de Cristo, mereçamos ser transformados em templos do Espírito de Amor, para louvor de vossa glória. Amém.

Beata Elisabeth da Trindade, rogai por nós!


SELEÇÃO DE FRASES DAS CARTAS DA BEATA ELISABETH DA TRINDADE

Seleção I

Eu sou “Elisabeth da Trindade”, ou seja, a Elisabeth que desaparece, que se perde nos Três e se deixa invadir por eles.

Só nos resta esvaziar-nos, desapegarmo-nos de tudo, para que nada mais exista senão Ele, e só Ele… É aos pés da cruz que a gente sente em profundidade todo esse vazio das criaturas, essa sede infinita d´Ele.

Sim, nós lhe pertencemos totalmente, entreguemo-nos todas ao nosso predileto Jesus num generoso abandono! Fazer a sua vontade é o que há de mais belo. Ofereçamos-lhe nosso exílio. É tão doce sofrer por quem se ama…

Amemos, portanto, o nosso Dileto, mas com amor calmo e profundo! Permaneçamos em recolhimento ao lado Daquele que é (Esd 3,14), junto ao Imutável cuja luz sempre resplende sobre nós. Nós somos aqueles que não são. Vamos até ele, que quer que sejamos todas suas e que nos envolve por toda parte, de maneira que já não somos mais nós que vivemos, mas sim ele (cf. Gl 2,20).

Como é grande a bondade do divino Prometido e como parece refulgir mais na obscuridade da prova!

Ele nos marca com o sinete da cruz para que mais nos assemelhemos a ele… Na realidade, existem correspondências de amor que só se pode compreender na cruz.

Ele me aparece sempre mais ao meu pensamento como a Águia divina. Nós somos a presa do seu amor. Agarra-nos, coloca-nos sobre suas asas e leva-nos para longe, às alturas sublimes onde a alma e o coração gostam de perder-se!

… acaso podemos desejar alguma coisa que ele não queira? Porventura não estamos prontas a permanecer neste mundo enquanto ele quiser? Como é bonito unir, identificar a nossa vontade com a dele!

Que alegria sofrer, dar algo a quem se ama.

“Deus em mim, e eu nele” deve ser o nosso lema. Que jubiloso mistério a presença de Deus dentro de nós, neste íntimo santuário das nossas almas onde sempre podemos encontrá-lo, também quando não percebemos mais sensivelmente a sua presença! Que importa o sentimento? Talvez ele esteja também mais perto, quando menos o sentimos.

É aqui, no fundo da alma, que gosto de procurá-lo. Preocupemo-nos em não deixá-lo jamais sozinho, e em que a nossa vida seja uma contínua oração. Quem poderá, acaso, raptar-nos o nosso Bem-Amado ou distrair-nos daquele que nos tomou e nos fez totalmente suas? Como é grande a sua bondade!

… Os seus sofrimentos agradam muito ao seu Bem-Amado, o qual se compraz em prolongá-los desta maneira. Eles constituem o sinal da sua predileção, da sua vontade de uni-la intimamente a si.

Se ele nos prova, ocultando-se à nossa alma, é porque já sabe que o amamos demasiado para que o deixemos. Por isso, deixemos que ele ofereça também a outras almas as suas doçuras e as suas consolações para atraí-las a si. E nós amemos esta obscuridade que nos aproxima dele.

Se soubesse como às vezes sinto nostalgia do céu! Como gostaria de voar para lá, junto de meu Deus!

Percamo-nos nessa Trindade Santa, nesse Deus todo Amor, deixemo-nos transportar nessas regiões onde não há mais do que ele, só ele!

Pertencemos-lhe… deixemos que o nosso Bem-Amado nos tome e leve aonde melhor lhe aprouver… o meu coração não agüenta mais, pois está todo possuído por Ele! Mas o que estou dizendo? Ele não se apodera de nós para levar-nos para longe, Ele que está sempre dentro de nós: Ele, o “Imutável”, “Aquele que é” (Ex 3,14).

… Encontrei o meu céu na terra, nesta querida solidão do Carmelo onde estou a sós com meu único Deus. Tudo faço com ele e realizo todas as coisas com alegria divina.

Oh! Sinto que todos os tesouros encerrados na alma de Cristo são meus e me sinto, assim, tão rica. Com que alegria e felicidade vou abeberar-me neste manancial em favor de todos aqueles que amo e que me fizeram tanto bem.

Aqui não há nada, nada mais que ele somente. Ele é tudo, ele basta, só se vive dele e encontramo-lo por toda parte…

… quando se sente triste, diga-o àquele que tudo sabe, que tudo compreende e que é o Hóspede de sua alma. Pense que ele se acha dentro de você como numa pequena hóstia.



Durante o dia, pense às vezes naquele que está dentro de você e que tem tanta sede de ser amado. É perto dele que você sempre me há de encontrar!



Veja só como é maravilhosa a união das almas! Devemos amar-nos acima de tudo o que é passageiro: então nada pode separar. Amemo-nos assim.



Aconselho-a a simplificar o número de livros… Pegue o seu crucifixo, olhe-o, ouça-o. Você sabe que é ali que temos nosso encontro.



Mesmo no trabalho, podemos rezar ao bom Deus: basta pensar nele. Então tudo se torna suave e fácil, porque não agimos sozinho, mas ali também Jesus está atuando.



Amo sempre mais estas queridas grades que me constituem prisioneira do amor.



Vivamos com Deus como com um amigo. Procuremos avivar a nossa fé para comunicar-nos com ele através de todas as coisas, pois assim conseguimos a santidade.



Nós carregamos o céu dentro de nós, porque aquele que sacia os bem-aventurados, na luz da visão beatífica, entrega-se a nós na fé e no mistério.



… o abandono leva-nos a Deus. Eu sou muito jovem, mas às vezes me parece que já sofri muito. Então, nesses momentos de confusão, quando o presente me era tão doloroso e o futuro me parecia ainda mais obscuro, eu fechava os olhos e me abandonava como uma criança nos braços daquele Pai que está nos céus.



Não basta deter-nos diante da cruz e contemplá-la, mas precisamos recolher-nos na luz da fé, elevar-nos mais alto e pensar que ela constitui o instrumento do amor divino.

A Carmelita é uma alma que contemplou o divino Crucificado, que o viu oferecer-se como vítima ao seu Pai em prol das almas; ela reflete à luz desta grande visão da caridade de Cristo e compreendeu, assim, a paixão de amor da sua alma e quis entregar-se como ele!…

… Vivamos na intimidade com o nosso Amado, sejamos totalmente dele como ele é completamente nosso.

Bem que eu quisera ser uma alma totalmente silenciosa e adoradora para poder penetrar sempre mais nele. Quisera encher-me de Sua plenitude, que pudesse dá-lo mediante a oração àquelas pobres almas que ignoram o dom de Deus!

Quando contemplo a minha vida passada, descubro, como que uma divina perseguição de amor sobre minha alma. Oh! Quanto amor! Sinto-me como que esmagada sob o seu peso e só me resta calar e adorar!

Quer saber como é que me comporto quando me encontro um pouco cansada? Olho para o crucifixo, e, vendo como ele se sacrificou por mim, sinto que só posso prodigalizar-me por ele e consumir-me, a fim de restituir-lhe um pouco daquilo que me deu!

E pensar, minha boa Madre, que temos o céu dentro de nós, aquele céu de que às vezes sinto tão pungente nostalgia!

Oh! Se você soubesse como ele é bom, como é todo amor! Eu lhe peço que se revele à sua alma, que seja o amigo que você sempre saiba encontrar. Então tudo se esclarece e ilumina e a vida se torna algo tão belo de viver!

Creio que não há nada que nos manifesta tanto o amor que está no coração de Deus como a Eucaristia. É a união consumada, é ele em nós e nós nele; e não lhe parece que isto é o céu na terra?

Ele colocou no meu coração uma sede de infinito e uma necessidade tão grande de amar, que só ele pode saciar.

O sacrifício é um sacramento que nos leva a Deus. Ele o envia àqueles que ama e que deseja estejam perto dele!
… Se o bom Deus nos separou, é porque ele quer ser o Amigo que a gente sempre pode encontrar. Ele está postado à porta do coração… e espera.

E eu amo tanto aquele Deus que me quer ciumentamente só para si. Sinto tanto amor me envolvendo a alma! É como se fosse um oceano em que me lanço e me perco… Ele está em mim e eu nele. Só tenho que amá-lo e deixar que me ame, a cada instante, em cada coisa.

A alma não pode resistir ao seu apelo. Ele subjuga, acorrenta; a gente não se pertence mais a si, mas nos tornamos a presa do seu amor. O coração pode sofrer arranhões, mas na alma reina uma paz inefável…

Eu sou “Elisabeth da Trindade”, ou seja, a Elisabeth que desaparece, que se perde nos Três e se deixa invadir por eles.

Vivamos de amor, sejamos simples como ela, sempre no mais completo abandono, imolando-nos momento após momento no cumprimento da vontade de Deus, sem procurar coisas extraordinárias.

Nós somos tão fracas ou, até mesmo, não somos senão miséria; mas ele sabe disso e gosta de perdoar-nos, de soerguer-nos e, depois de, de arrebatar-nos para junto de si, na sua pureza, na sua santidade infinita.

Quero ser santa. Santa para fazê-lo feliz. Peça-lhe que eu só viva de amor! Esta é a minha vocação!

Os santos são almas que se esquecem a todo instante de si, que desaparecem de tal maneira naquele que amam, que não se preocupam com sua própria pessoa…

Como compreendo, agora, o recolhimento e o silêncio dos santos que não conseguiam mais abandonar a sua contemplação.

Gosto de contemplar a minha vida de carmelita nesta dupla vocação: “Virgem-Mãe”. Virgem, desposada com Cristo na fé. Mãe, salvando as almas e multiplicando os filhos adotivos do Pai…

Não existem mais distâncias, porque já é o Uno como no céu… o céu que um dia chegará quando então veremos a Deus na sua luz.

Reze por mim: o horizonte é maravilhoso, o sol divino faz brilhar a sua grande luz. Peça que a borboletazinha queime suas asas em seus raios.