sexta-feira, outubro 08, 2010

Instruções gerais sobre o canto na Santa Missa – Parte 1


Dando continuidade à série “Canto Litúrgico”, falaremos das instruções gerais que a Igreja nos dá em relação a cantar a missa: gestos, momentos, tipo de texto musical e melodias mais apropriadas para este ministério.
Quando a Instrução Geral do Missal Romano* (IGMR) explana das partes próprias do sacerdote dentro da Santa Missa, deixa claro que existem partes do rito, chamadas de “presidenciais”, que exigem ser proferidas em voz alta e distinta, sendo por todos atentamente escutadas; assim, conclui o texto dizendo que “enquanto o sacerdote as profere, não haja outras orações nem cantos, e calem-se o órgão e qualquer outro instrumento” (IGRM 32). Portanto, embora pareça dar beleza a estas partes, como o “Por Cristo, com Cristo e em Cristo (…)”, não devemos dedilhar o teclado ou o violão como que fazendo um ‘fundo musical’ para estes momentos. É costume em muitos ministérios se fazer este pano de fundo durante os momentos de silêncio, como no momento da Consagração do pão e do vinho, quando ocorre a transubstanciação, onde o sacerdote proclama “TOMAI, TODOS, E COMEI: ISTO É O MEU CORPO, QUE SERÁ ENTREGUE POR VÓS (…)”; em algumas comunidades até se entoa um canto de adoração após a consagração de cada espécie. Porém, fica claro na IGMR que este é um momento de silêncio absoluto, para que o coração humano preste total atenção ao milagre que se manifesta diante de nossos olhos: Jesus Hóstia Santa, presença real no meio de nós. Este é apenas um exemplo, e para continuar a falar de quando não devemos cantar ou tocar, falemos do silêncio como ação litúrgica dentro da Missa.
Nos tempos de hoje o que percebemos é um grande medo do silêncio dentro do Santo Sacrifício. Creio que se manifesta em nós um receio de que no meio do calar o fiel se disperse do objetivo daquele momento, mas, na grande maioria das vezes, acho mesmo que temos medo de que o silêncio seja interpretado como um erro por parte do ministério de música. É que também a assembléia nem sempre sabe do lugar e da importância do silêncio para falar com Deus dentro da Santa Missa. E assim, preenchemos todos os “vazios” com música. E isso nem sempre é correto.
A Instrução Geral (45) nos apresenta o silêncio sagrado como parte da celebração, que tem uma natureza específica para cada momento. Assim, temos muitos sacerdotes que pedem um momento de silêncio durante o ato penitencial, antes de entoar o canto; após cada leitura e após a homilia pode-se guardar um momento de silêncio para a meditação; após a comunhão é necessário haver um momento de reflexão interior, de silêncio! O quanto nós, ministros de música, temos roubado daqueles que comungam o Senhor quando estendemos demasiadamente o canto de comunhão, mesmo após a fila ter acabado; como logo engatamos o chamado canto de pós-comunhão ou ação de graças – numa nomenclatura mais arcaica – não dando espaço para que a comunidade fique a sós um instante sequer com o Senhor em seu coração. O Guia Litúrgico-Pastoral, da CNBB, pede que “privilegie-se o silêncio, após a comunhão, como expressão da intimidade pessoal e comunitária com o mistério” (p. 30). Que o Senhor faça nossos ouvidos sensíveis ao silêncio sagrado!
Em breve continuaremos este vasto assunto, abordando o canto gregoriano e as melodias e letras que a Santa Mãe Igreja concebe como as mais litúrgicas, além de outros detalhes para melhor celebrar o Santo Sacrifício com música.
*IGMR (Instrução Geral do Missa Romano) é a grande primeira parte do conteúdo do Missal Romano, aquele Livro digno de cor vermelha que permanece sobre o altar e de onde o sacerdote proclama todas as orações durante a Santa Missa. Nada mais natural de que naquele livro haja todas as indicações de como se deve proceder com o Santo Sacrifício, quais suas partes, elementos, tempos litúrgicos, como todos os participantes devem se portar, desde o padre, passando por leitores, acólitos, ministério de música até cada fiel que compõe a assembléia. Sendo a Igreja mãe amorosa, disponibilizou todo este conteúdo num livro que se encontra em qualquer livraria católica, para ser adquirido por qualquer pessoa, com o título “Instrução Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário – texto oficial”, produzido pela própria CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e a um preço bastante acessível. Os números indicados nesta formação são as referências aos tópicos base para cada comentário, pois na IGMR cada parágrafo é numerado para melhor consulta.

Natalie Rosa P. Neves
Leiga Associada da Fraternidade Missionária O Caminho
Ministério de Música – São Luís/MA

quarta-feira, outubro 06, 2010

Clausura: sinônimo de silêncio e meditação

O recolhimento dos filhos e filhas da Toca de Assis

Por João Paulo Costa Jr.


“A clausura é uma maneira de viver profundamente à Paixão de Cristo numa vida contemplativa vivendo em constante oração e penitência. É um voto de solidão e de recolhimento para encontrar sabedoria em Deus”, afirma a irmã Leocádia, da Toca de Assis de Betim, Sítio Tão Sublime Sacramento.
A clausura é um dos preceitos dos Filhos e Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento. Por suas próprias escolhas, ambos entregam-se ao recolhimento e meditação renunciando ao mundo externo. Este modelo de vida contemplativa existe em diferentes religiões, seja no budismo, cristianismo, hinduísmo, islamismo, etc.
O significado da palavra clausura remete ao estado ou condição de quem não pode sair do claustro, ou seja, do recolhimento que é sempre voluntário e se faz num regime meditativo. É um carisma próprio, de caráter personalíssimo daquele(a) que opta por viver a fé primando pela oração, adoração e também pelo silêncio.
Segundo irmã Samira, “este clima de recolhimento e de silêncio facilita a oração, a ordem, a paz da pessoa no encontro com Deus, passando a ser sacrifício de louvor oferecido ao Pai em nome dos homens”.
A rotina dos enclausurados(as) começa cedo, com a oração da manhã e depois uma pausa para os trabalhos domésticos da Casa Fraterna. Após os cuidados com a Casa e acolhidos, mais oração e recolhimento. Depois de uma hora ou duas horas de recreação e estudos bíblicos, oração de novo até o fim do dia.
Irmã Samira que já viveu enclausurada e agora é a administradora da Casa de Betim, destaca que as religiosas vivem felizes na clausura, na pobreza e na penitência. “É muito bom para as irmãs que não reclamam, muito pelo contrário, ao orarem com a mente e coração, não oram sozinhas, oram com amor e pelo amor de Cristo”. Ela recorda ainda que antes de entrar para a Toca, era funcionária pública, tinha uma vida agitada e somente após a escolha de se tornar filha da pobreza e passar pela consagração em longos períodos de clausura, encontrou paz interior. “Senti um impulso muito forte para uma vida de oração. Só que no mundo lá fora, pela agitação, não tem como fazer isso. Hoje, por tudo que tenho  vivido, pelas orações que são diárias, mesmo não estando em clausura, me sinto muito melhor e um pouco mais completa”.














Para aqueles que se encantam pela vida solitária, os Cartuxos são monges que vivem em clausura.
Conheçam mais no site http://www.chartreux.org/pt/frame.html.

Pax et Bonum!

O enigma da Cartuxa

 
"A Grande Chartreuse!”
- Os mosteiros que não se visitam;
- Um licor famoso;
- Uns homens escondidos;
- O que implica uma vida pouco conhecida;
A través destas páginas poderás descobrir um pouco mais sobre nossa vida...





A realidade da Ordem da Cartuxa

Os Cartuxos formam uma Ordem milenar, fundada por São Bruno.
Hoje em dia, compõe-se de cerca de 450 monges e monjas que levam uma vida solitária no coração da Igreja, e inclui 24 casas distribuídas em três continentes, vivendo a mesma vocação contemplativa.



Monges solitários e contemplativos



Como todos os monges, os cartuxos consagram sua vida inteira à oração, para trabalhar por sua salvação e pela de toda a Igreja. Esta ordem contemplativa se apóia de maneira particular sobre três elementos:
  • a solidão;
  • certa combinação de vida solitária e de vida comunitária;
  • a liturgia cartusiana.



Monges separados do mundo



"Separados de todos, estamos unidos a todos já que é em nome de todos que nos mantemos na presença do Deus vivo." Estatutos 34.2

A solidão implica a separação do mundo. Assegurada pela clausura, esta solidão se concretiza, entre outros modos, em:
- Uma saída por semana, para o Passeio;
- Carência de visitas;
- Sem apostolado exterior;
- Não há rádio nem televisão.

Cristo: o Caminho, a Verdade, e a Vida

"Ego sum via, et veritas, et vita. Nemo venit ad Patrem, nisi per me."
"Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida, ninguém vem ao Pai senão por mim."
Jo 14, 6.
"[...] desde sempre, com o auxílio do Espírito Santo, Cristo, Verbo do Pai, escolheu homens para que vivam em solidão e se unam a Ele por um amor íntimo." Estatutos 1.1
Para isto é que vivem os cartuxos.


A vida solitária


"Nossa ocupação principal e nossa vocação é a de dedicar-nos ao silêncio e à solidão da cela.[...] Nela com freqüência a alma se une ao Verbo de Deus, a esposa ao Esposo, a terra ao céu, o humano ao divino." Estatutos 4.1

Assim, sacerdotes e irmãos vivem uma vida de oração e de trabalho solitários; os primeiros na cela, e os segundos nas obediências.

Os Ofícios e o trabalho se sucedem segundo um ritmo imutável, ao passo do ano litúrgico e das estações.


A vida comunitária

"A graça do Espírito Santo convoca aos solitários para construir uma comunhão no amor, à imagem da Igreja, que, sendo uma, está estendida por todas partes." Estatutos 21.1
Os cartuxos não são completamente ermitões. As duas dimensões (ativa e contemplativa) presentes em sua vida solitária também se expressam de maneira comunitária: em especial com a missa conventual, o longo ofício noturno, a recreação e o passeio.


A vida material

Conquanto os cartuxos estejam apartados do mundo, não vivem só do espírito. Também eles se vêem na necessidade de responder aos reclamos da humana natureza, ainda que com austeridade.
Os Irmãos se encarregam de uma grande parte destas tarefas. Aos sacerdotes também está reservada uma parte destas tarefas, tanto para ajudar a cobrir as necessidades materiais como para fomentar um bom equilíbrio corporal.

As rendas da Ordem estão em boa parte asseguradas pela comercialização do licor, mas também pelos produtos de artesanato provenientes de algumas das casas.


Maria, mãe e modelo dos Cartuxos

Sob teu amparo nos acolhemos Santa Mãe de Deus,
  não desprezes nossas súplicas nas necessidades,
  antes bem livra-nos sempre de todos os perigos,
  Oh Virgem gloriosa e bendita!
Sub tumm praesidium confugimus, Sancta Dei Genitrix,
  Nostras deprecationes ne despicias in necessitatibus,
  Sed a periculis cunctis libera nos semper,
  Virgo gloriosa et benedicta.


A origem

Um chamado: São Bruno

« Para louvor da glória de Deus, Cristo, palavra do Pai por mediação do Espírito Santo, elegeu desde o princípio alguns homens, a quem levou à solidão para uní-los a si em íntimo amor. Seguindo esta vocação, o Maestro Bruno entrou com seis colegas no deserto de Cartuxa e se instalou ali »
Estatutos 1.1
Quem era Bruno?
Nasceu em Colônia por volta do ano de 1030 e chegou, sendo ainda jovem, a estudar na escola catedralícia de Reins. Adquirido o grau de doutor e nomeado Cônego do Capítulo da catedral, foi designado em 1056 escolaster, isto é, Reitor da Universidade. Foi um dos maestros mais renomeados de seu tempo: «... um homem prudente, de palavra profunda».
Bruno encontra-se cada vez menos a vontade numa cidade onde não escasseiam os motivos de escândalo por parte do alto clero e inclusive mesmo do Arcebispo. Depois de ter lutado com sucesso contra estes problemas, Bruno experimenta o desejo de uma vida mais entregue exclusivamente a Deus.
Depois de uma experiência de vida solitária de breve duração, chegou à região de Grenoble onde o bispo, o futuro São Hugo, ofereceu-lhe um lugar solitário nas montanhas de sua diocese. No mês de junho de 1084 o mesmo bispo conduziu Bruno e seus seis colegas ao deserto do maciço montanhoso de Chartreuse (Cartuxa) que dará seu nome à Ordem. Ali constroem seu eremitério formado com algumas casinhas de madeira que se abrem a uma galeria, que permite aceder sem sofrer demasiado pela intempérie do tempo aos lugares de vida comunitária: A igreja, o refeitório e o Capítulo.
Depois de seis anos de aprazível vida solitária, Bruno foi chamado pelo Papa Urbano II (que fora seu aluno em seu tempo de maestro) ao serviço da Sede Apostólica. Crendo sua novel comunidade que não poderia continuar sem ele, sua Comunidade pensou primeiramente em separar-se, mas finalmente se deixou convencer por continuar a vida na qual tinham sido formados. Conselheiro do Papa, Bruno não se sentia à vontade na Corte Pontifícia. Ele permaneceu somente uns meses em Roma. Com a aprovação do Papa fundou um novo eremitério nos bosques da Calábria, ao sul da Itália, com alguns novos colegas. Ali faleceu a seis de outubro do ano de 1101.
Um depoimento de um de seus irmãos da Calábria :
« Por muitos motivos merece Bruno ser louvado, mas sobretudo por um: Foi um homem de caráter sempre igual (estável). De rosto sempre alegre, e a palavra modesta. Juntava à autoridade dum pai a ternura de uma mãe. Ante ninguém fez ostentação de grandeza, senão que se mostrou sempre manso como um cordeiro. Foi nesta vida, o verdadeiro israelita.»

A primeira Regra: Guigo

« A instâncias de outros eremitérios fundados a imitação de Cartuxa, Guigo, quinto Prior de Cartuxa pôs por escrito a norma de seu propósito (as "Costumes", ou usos de Cartuxa, para 1127) que todos se comprometeram a seguir e imitar como regra de sua observância e como vínculo de caridade da nascente família. »
Estatutos 1.1
Depois que uma avalanche destruiu o eremitério em 1132 sepultando sete monges, o Prior Guigo construiu o eremitério na localização que está até hoje na Grande Cartuxa.

O nascimento da Ordem : Santo Antelmo

« ...durante o priorato de Antelmo se reuniu o primeiro Capítulo Geral (1140) ao qual se submeteram para sempre todas as casas, junto com a mesma casa de Cartuxa. »
Estatutos 1.1
Portanto a partir de 1140 a Ordem dos cartuxos nasceu oficialmente e assim ficou situada entre as grandes instituições monásticas da Idade Média.

As monjas

« Por aquele tempo, as monjas de Prebayón abraçaram também espontaneamente o modo de vida cartusiano. »
Estatutos 1.1
A incorporação teve lugar para em 1145 e foi o início do ramo feminino da família cartusiana.  
Esta foi a origem da nossa Ordem.

A ORDEM HOJE


Situação da Ordem

Em 1984 foi celebrado o 900º aniversário do dia em que Maestro Bruno, nosso Pai, ao entrar com seus companheiros no deserto de Chartreuse. Ele foi o primeiro a praticar um gênero de vida que com a ajuda de Deus tratamos de seguir ainda hoje.
A perseverança ininterrupta de nossa Ordem em seu propósito através das vicissitudes da história, é um sinal de uma solicitude de Deus para ela.
Hoje em dia existem 18 casas de Cartuxos (com uns 370 monges) e 5 casas de Cartuxas (com cerca de 75 monjas). Estas últimas se encontram em França, em Itália e em Espanha. As casas de monges estão na Europa, América, do Norte e do Sul, e Ásia. As Cartuxas no mundo.
Efetivamente, damos muito valor ao fato de que JOÃO PAULO II estimule estimulasse aos Institutos de vida contemplativa para que estabelecessem comunidades nas jovens igrejas. Atualmente continuamos a exploração das possibilidades que existem para a presença da Ordem cartusiana fora do mundo ocidental e uma presença cartusiana na Coréia já foi decidida pelos últimos Capítulos Gerais.

O governo da Ordem

A autoridade suprema da Ordem cartusiana pertence ao Capítulo Geral, que se reúne cada dois anos na Grande Cartuxa, «mãe e origem de toda a Ordem».
Durante esse Capítulo, o Definitório, oito monges eleitos pelos priores (isto é, os superiores) das casas,  forma uma espécie de órgão executivo e a Assembléia plenária o órgão legislativo. Entre Capítulo e Capítulo, a Ordem é governada pelo Prior da Grande Cartuxa ao que se chama «Reverendo Pai», assistido de um Conselho. O último elemento muito importante do governo cartusiano é a instituição dos Visitadores: bienalmente, cada casa é visitada por dois Pais, normalmente Priores de outras Cartuxas.

Os Estatutos

Bruno foi para seus irmãos um modelo vivo, mas não escreveu nenhuma regra monástica para eles. Seus primeiros sucessores, « ... permaneceram naquele lugar sob a direção do Espírito Santo, e guiando-se pela experiência foram criando gradualmente um gênero de vida eremítica próprio, que se transmitia a seus continuadores, não por escrito, senão pelo exemplo. » Estatutos 1.1
Guigo consignou por escrito os Costumes que se usavam na Grande Cartuxa: este é o primeiro texto da Regra cartusiana. Com o correr do tempo se verificaram outras adições ou modificações necessárias. Tornava-se necessário adaptar-se às novas condições de tempos e lugares.
Muito cedo os cartuxos chamaram a sua Regra de vida os Estatutos.
Depois do Concílio Vaticano II, em 1971 e 1973, foram redigidos os «Estatutos renovados da Ordem cartusiana» Para que fossem conformes ao código de Direito canônico de 1983, estes Estatutos foram de novo revisados até chegar aos «Estatutos da Ordem cartusiana», aprovados pelo Capítulo Geral de 1987.
Estes Estatutos, verdadeira soma de espiritualidade monástica, são para nós a transmissão de um caminho de oração. Conduzem-nos à contemplação ou ao «conhecimento saboroso» de Deus, ao qual nossa vida está inteiramente consagrada. («Conhecimento saboroso»: Expressão de Guigo II, autor cartusiano do século 12).  


 

domingo, outubro 03, 2010

Da Verdadeira e Perfeita Alegria



17 0 mesmo (Frei Leonardo) contou que um dia o bem-aventurado Francisco, perto de Santa  Maria dos Anjos, chamou a Frei Leão e lhe disse: "Frei Leão, escreve".



18 Este respondeu: "Eis-me pronto".




19 "Escreve - disse - o que é a verdadeira alegria".



20 "Vem um mensageiro e diz que todos os mestres de Paris entraram na Ordem; escreve: não está aí a verdadeira alegria.


l 21 E igualmente que entraram na Ordem todos os prelados de Além-Alpes, arcebispos e bispos, o próprio rei da França e o da Inglaterra;




22 escreve: não está ai a verdadeira alegria.



23 E se receberes a notícia de que todos os meus irmãos foram pregar aos infiéis e converteram a todos para a fé, ou que eu recebi tanta graça de Deus que curo os enfermos e faço muitos milagres: digo-te que em tudo isso não está a verdadeira alegria".

24 "Mas, o que é a verdadeira alegria?"

25 "Eis que volto de Perusa no meio da noite, chego aqui num inverno de muita lama e tão frio que na extremidade da túnica se formaram caramelos de gelo que me batem continuamente nas pernas fazendo sangrar as feridas.

26 E todo envolvido na lama, no frio e no gelo, chego à porta, e depois de bater e chamar por muito tempo, vem um irmão e pergunta: 'Quem é?' E eu respondo: 'Frei Francisco'.

27 E ele diz: 'Vai-te embora; não é hora própria de chegar, não entrarás'.

28 E ao insistir, ele responde: 'Vai-te daqui, és um ignorante e idiota; agora não poderás entrar; somos tantos e tais que não precisamos de ti'.


29 E fico sempre diante da porta e digo: 'Por amor de Deus, acolhei-me por esta noite'.

30 E ele responde: 'Não o farei. Vai aos crucíferos e pede lá’.

31 Pois bem, se eu tiver tido paciência e permanecer imperturbável, digo-te que aí está a verdadeira alegria, a verdadeira virtude e salvação da alma".
Mensagem de do papa Bento XVI para a 25ª Jornada Mundial da Juventude
Sex, 19 de Março de 2010 14:14 cnbb
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Jornada Mundial da Juventude“Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?” (Mc 10, 17)


Queridos amigos,


Celebra-se este ano o 25º aniversário de instituição da Jornada Mundial da Juventude, desejada pelo Venerável João Paulo II como encontro anual dos jovens crentes do mundo inteiro. Foi uma iniciativa profética que deu frutos abundantes, permitindo às novas gerações cristãs encontrar-se, pôr-se à escuta da Palavra de Deus, descobrir a beleza da Igreja e viver experiências fortes de fé que levaram muitos à decisão de doar-se totalmente a Cristo.


Esta XXV Jornada representa uma etapa rumo ao próximo Encontro Mundial dos Jovens, que terá lugar no mês de Agosto de 2011 em Madrid, onde espero sejais numerosos a viver este evento de graça.


Para nos prepararmos para tal celebração, gostaria de vos propor algumas reflexões sobre o tema deste ano: «Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?» (Mc 10, 17), tirado do episódio evangélico do encontro de Jesus com o jovem rico; um tema abordado já em 1985 pelo Papa João Paulo II numa belíssima Carta, a primeira dirigida aos jovens.
1. Jesus encontra um jovem


«Quando saía [Jesus], para se pôr a caminho – narra o Evangelho de São Marcos – aproximou-se dele um homem a correr e, ajoelhando-se, perguntou: “Bom mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?”. Jesus disse-lhe: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão só Deus. Sabes os mandamentos: não matarás, não adulterarás, não roubarás, não levantarás falso testemunho, não defraudarás, honrarás teu pai e tua mãe”. Ele respondeu-lhe: “Mestre, tenho guardado tudo isto desde a minha juventude”. Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele, e respondeu-lhe: “Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me!”. Mas, ao ouvir tais palavras, anuviou-se-lhe o semblante e retirou-se pesaroso, pois tinha grande fortuna» (Mc 10, 17-22).


Esta narração exprime de maneira eficaz a grande atenção de Jesus pelos jovens, por vós, pelas vossas expectativas, pelas vossas esperanças, e mostra como é grande o seu desejo de vos encontrar pessoalmente e entrar em diálogo com cada um de vós. Com efeito, Cristo interrompe o seu caminho para responder ao pedido do seu interlocutor, manifestando plena disponibilidade àquele jovem, que é impelido por um ardente desejo de falar com o «Bom Mestre», para aprender dele a percorrer o caminho da vida. Com este trecho evangélico, o meu Predecessor queria exortar cada um de vós a «desenvolver o próprio diálogo com Cristo – um diálogo que é de importância fundamental e essencial para um jovem» (Carta aos jovens, n. 2).
2. Jesus fitou-o e sentiu afeição por ele


Na narração evangélica, São Marcos sublinha como «Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele» (Mc 10, 21). No olhar do Senhor, está o coração deste encontro muito especial e de toda a experiência cristã. Com efeito, o cristianismo não é primariamente uma moral, mas experiência de Jesus Cristo, que nos ama pessoalmente, jovens ou idosos, pobres ou ricos; ama-nos mesmo quando lhe voltamos as costas.


Comentando a cena, o Papa João Paulo II acrescentava, dirigindo-se a vós, jovens: «Faço votos por que experimenteis um olhar assim! Faço votos por que experimenteis a verdade de que Ele, Cristo, vos fixa com amor» (Carta aos jovens, n. 7). Um amor, que se manifestou na Cruz de maneira tão plena e total, que São Paulo escreve maravilhado: «Amou-me e entregou-se por mim» (Gl 2, 20). «A consciência de que o Pai nos amou desde sempre no seu Filho, de que Cristo ama cada um e sempre – escreve ainda o Papa João Paulo II – torna-se um ponto de apoio firme para toda a nossa existência humana» (Carta aos jovens, n. 7) e permite-nos superar todas as provas: a descoberta dos nossos pecados, o sofrimento, o desânimo.


Neste amor, encontra-se a fonte de toda a vida cristã e a razão fundamental da evangelização: se verdadeiramente encontramos Jesus, não podemos deixar de o testemunhar àqueles que ainda não se cruzaram com o seu olhar.
3. A descoberta do projeto de vida


No jovem do Evangelho, podemos vislumbrar uma condição muito semelhante à de cada um de vós. Também vós sois ricos de qualidades, energias, sonhos, esperanças: recursos que possuís em abundância! A vossa própria idade constitui uma grande riqueza não apenas para vós, mas também para os outros, para a Igreja e para o mundo.


O jovem rico pergunta a Jesus: «Que devo fazer?» A estação da vida em que vos encontrais é tempo de descoberta: dos dons que Deus vos concedeu e das vossas responsabilidades. É, igualmente, tempo de opções fundamentais para construir o vosso projeto de vida. Por outras palavras, é o momento de vos interrogardes sobre o sentido autêntico da existência, perguntando a vós mesmos: «Estou satisfeito com a minha vida? Ou falta-me ainda qualquer coisa»?


Como o jovem do Evangelho, talvez vós vivais também situações de instabilidade, de perturbação ou de sofrimento, que vos levam a aspirar a uma vida não medíocre e a perguntar-vos: em que consiste uma vida bem sucedida? Que devo fazer? Qual poderia ser o meu projeto de vida? «Que devo fazer a fim de que a minha vida tenha pleno valor e pleno sentido?» (Ibid., n. 3).


Não tenhais medo de enfrentar estas perguntas! Longe de vos acabrunhar, elas exprimem as grandes aspirações, que estão presentes no vosso coração. Portanto, devem ser ouvidas. Esperam respostas não superficiais, mas capazes de satisfazer as vossas autênticas expectativas de vida e felicidade.


Para descobrir o projeto de vida que vos pode tornar plenamente felizes, colocai-vos à escuta de Deus, que tem um desígnio de amor sobre cada um de vós. Com confiança, perguntai-lhe: «Senhor, qual é o teu desígnio de Criador e Pai sobre a minha vida? Qual é a tua vontade? Desejo cumpri-la». Estai certos de que vos responderá. Não tenhais medo da sua resposta! «Deus é maior que os nossos corações e conhece tudo» (1 Jo 3, 20)!
4. Vem e segue-me!


Jesus convida o jovem rico a ir mais além da satisfação das suas aspirações e dos seus projeto pessoais, dizendo-lhe: «Vem e segue-me!». A vocação cristã deriva de uma proposta de amor do Senhor e só pode realizar-se graças a uma resposta de amor: «Jesus convida os seus discípulos ao dom total da sua vida, sem cálculos nem vantagens humanas, com uma confiança sem reservas em Deus. Os santos acolhem este convite exigente e, com docilidade humilde, põe-se a seguir Cristo crucificado e ressuscitado. A sua perfeição na lógica da fé, às vezes humanamente incompreensível, consiste em nunca se colocarem a si mesmos no centro, mas decidirem ir contra a corrente, vivendo segundo o Evangelho» (Bento XVI, «Homilia por ocasião das canonizações», in L'Osservatore Romano, 12-13/X/2009, pág. 6).


A exemplo de muitos discípulos de Cristo, acolhei também vós, queridos amigos, com alegria o convite a seguir Jesus, para viverdes intensa e fecundamente neste mundo. Com efeito, mediante o Batismo, Ele chama cada um a segui-lo com ações concretas, a amá-lo sobre todas as coisas e a servi-lo nos irmãos. Infelizmente, o jovem rico não acolheu o convite de Jesus e retirou-se pesaroso. Não encontrara coragem para se desapegar dos bens materiais a fim de possuir o bem maior proposto por Jesus.


A tristeza do jovem rico do Evangelho é aquela que nasce no coração de cada um, quando não tem a coragem de seguir Cristo, de fazer a escolha justa. Mas nunca é tarde demais para lhe responder!


Jesus nunca se cansa de estender o seu olhar de amor sobre nós, chamando-nos a ser seus discípulos; a alguns, porém, Ele propõe uma opção mais radical. Neste Ano Sacerdotal, gostaria de exortar os jovens e adolescentes a estarem atentos para ver se o Senhor os convida a um dom maior, no caminho do sacerdócio ministerial, e a tornarem-se disponíveis para acolher com generosidade e entusiasmo este sinal de predileção especial, empreendendo, com a ajuda de um sacerdote, do diretor espiritual, o necessário caminho de discernimento. Depois, não tenhais medo, queridos jovens e queridas jovens, se o Senhor vos chamar à vida religiosa, monástica, missionária ou de especial consagração: Ele sabe dar alegria profunda a quem responde com coragem.


E, a quantos sentem a vocação ao matrimônio, convido a acolhê-la com fé, comprometendo-se a lançar bases sólidas para viver um amor grande, fiel e aberto ao dom da vida, que é riqueza e graça para a sociedade e para a Igreja.
5. Orientados para a vida eterna


«Que devo fazer para alcançar a vida eterna?»: esta pergunta do jovem do Evangelho parece distante das preocupações de muitos jovens contemporâneos; porventura, como observava o meu Predecessor, «não somos nós a geração cujo horizonte da existência está completamente preenchido pelo mundo e pelo progresso temporal?» (Carta aos jovens, n. 5). Mas a questão acerca da «vida eterna» impõe-se em momentos particularmente dolorosos da existência, como quando sofremos a perda de uma pessoa querida ou experimentamos o insucesso.


Mas o que é a «vida eterna», de que fala o jovem rico? Jesus no-lo explica quando, dirigindo-se aos seus discípulos, afirma: «Ei de ver-vos de novo; e o vosso coração alegrar-se-á e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria» (Jo 16, 22). São palavras que indicam uma proposta sublime de felicidade sem fim: a alegria de sermos cumulados pelo amor divino para sempre.


O interrogar-se sobre o futuro definitivo que nos espera dá sentido pleno à existência, porque orienta o projeto de vida não para horizontes limitados e passageiros mas amplos e profundos, que levam a amar o mundo, tão amado pelo próprio Deus, a dedicar-se ao seu desenvolvimento, mas sempre com a liberdade e a alegria que nascem da fé e da esperança. São horizontes que nos ajudam a não absolutizar as realidades terrenas, sentindo que Deus nos prepara um bem maior, e a repetir com Santo Agostinho: «Desejemos juntos a pátria celeste, suspiremos pela pátria celeste, sintamo-nos peregrinos aqui na terra» (Comentário ao Evangelho de São João, Homilia 35, 9). Com o olhar fixo na vida eterna, o Beato Pier Giorgio Frassati – falecido em 1925, com a idade de 24 anos – dizia: «Quero viver; não ir vivendo!» e, numa fotografia a escalar uma montanha que enviou a um amigo, escrevera: «Rumo ao alto!», aludindo à perfeição cristã mas também à vida eterna.


Queridos jovens, exorto-vos a não esquecer esta perspectiva no vosso projeto de vida: somos chamados à eternidade. Deus criou-nos para estar com Ele, para sempre. Aquela ajudar-vos-á a dar um sentido pleno às vossas decisões e a dar qualidade à vossa existência.
6. Os mandamentos, caminho do amor autêntico


Jesus recorda ao jovem rico os dez mandamentos como condições necessárias para «alcançar a vida eterna». Constituem pontos de referência essenciais para viver no amor, para distinguir claramente o bem do mal e construir um projeto de vida sólido e duradouro. Também a vós, Jesus pergunta se conheceis os mandamentos, preocupando-vos em formar a vossa consciência segundo a lei divina, e se os pondes em prática.


Sem dúvida, trata-se de perguntas contra a corrente em relação à mentalidade contemporânea, que propõe uma liberdade desligada de valores, de regras, de normas objetivas, e convida a não colocar limites aos desejos do momento. Mas este tipo de proposta, em vez de conduzir à verdadeira liberdade, leva o homem a tornar-se escravo de si mesmo, dos seus desejos imediatos, de ídolos como o poder, o dinheiro, o prazer desenfreado e as seduções do mundo, tornando-o incapaz de seguir a sua vocação natural ao amor.


Deus dá-nos os mandamentos, porque nos quer educar para a verdadeira liberdade, porque quer construir conosco um Reino de amor, de justiça e de paz. Ouvi-los e pô-los em prática não significa alienar-se, mas encontrar o caminho da liberdade e do amor autênticos, porque os mandamentos não limitam a felicidade, mas indicam o modo como encontrá-la. No início do diálogo com o jovem rico, Jesus recorda que a lei dada por Deus é boa, porque «Deus é bom».
7. Temos necessidade de vós


Quem vive hoje a condição juvenil encontra-se a enfrentar muitos problemas resultantes do desemprego, da falta de referências ideais certas e de perspectivas concretas para o futuro. Às vezes pode-se ficar com a impressão de impotência diante das crises e derivas atuais. Apesar das dificuldades, não vos deixeis desencorajar nem renuncieis aos vossos sonhos! Pelo contrário, cultivai no coração desejos grandes de fraternidade, de justiça e de paz. O futuro está nas mãos de quem souber procurar e encontrar razões fortes de vida e de esperança. Se quiserdes, o futuro está nas vossas mãos, porque os dons e as riquezas que o Senhor guardou no coração de cada um de vós, plasmados pelo encontro com Cristo, podem dar esperança autêntica ao mundo! É a fé no seu amor que, tornando-vos fortes e generosos, vos dará a coragem de enfrentar com serenidade o caminho da vida e assumir as responsabilidades familiares e profissionais. Comprometei-vos a construir o vosso futuro através de percursos sérios de formação pessoal e de estudo, para servir o bem comum de maneira competente e generosa.


Na recente Carta Encíclica sobre o desenvolvimento humano integral, Caritas in veritate, enumerei alguns dos grandes desafios atuais que são urgentes e essenciais para a vida deste mundo: a utilização dos recursos da terra e o respeito pela ecologia, a justa repartição dos bens e o controle dos mecanismos financeiros, a solidariedade com os países pobres no âmbito da família humana, a luta contra a fome no mundo, a promoção da dignidade do trabalho humano, o serviço à cultura da vida, a construção da paz entre os povos, o diálogo inter-religioso, o bom uso dos meios de comunicação social.


São desafios a que sois chamados a responder para construir um mundo mais justo e fraterno. São desafios que requerem um projeto de vida exigente e apaixonante, no qual investir toda a vossa riqueza, segundo o desígnio que Deus tem para cada um de vós. Não se trata de realizar gestos heróicos ou extraordinários, mas de agir fazendo frutificar os próprios talentos e possibilidades, comprometendo-se a progredir constantemente na fé e no amor.


Neste Ano Sacerdotal, convido-vos a conhecer a vida dos santos, em particular a dos santos sacerdotes. Vereis que Deus os guiou, tendo encontrado o seu caminho dia após dia precisamente na fé, na esperança e no amor. Cristo chama cada um de vós a comprometer-se com Ele e a assumir as próprias responsabilidades para construir a civilização do amor. Se seguirdes a sua Palavra, também o vosso caminho se iluminará e vos conduzirá rumo a metas elevadas, que dão alegria e sentido pleno à vida.


Que a Virgem Maria, Mãe da Igreja, vos acompanhe com a sua proteção. Asseguro-vos uma lembrança particular na minha oração e, com grande afeto, vos abençôo.


BENEDICTUS PP. XVI


REGRA NÃO-BULADA DA ORDEM DOS FRADES MENORES
PREFÁCIO
1 Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
2 Esta é a vida do Evangelho de Jesus Cristo, que Frei Francisco pediu ao Senhor Papa Inocêncio lhe concedesse e aprovasse;
3 e o Senhor Papa lha concedeu e aprovou para ele e seus Irmãos presentes e
vindouros.
4 Frei Francisco, e quem for superior desta Ordem, prometa obediência e filial
respeito ao Senhor Papa Inocêncio e seus sucessores.
5 E todos os outros Irmãos sejam obrigados a obedecer a Frei Francisco e a seus sucessores.

CAPÍTULO I
QUE OS IRMÃOS VIVAM EM OBEDIÊNCIA SEM PROPRIEDADE E EM CASTIDADE
1 A Regra e a vida destes irmãos é esta: viver em obediência, em castidade e sem propriedade;
2 e seguir a doutrina e as pegadas de Nosso Senhor Jesus Cristo, que diz:
3 "Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens dá-o aos pobres e terás um tesouro nos céus, e vem e segue-me".
4 E: "Quem quiser vir após mim renuncie a si mesmo e tome a sua cruz e siga-me".
5 E ainda: "Se alguém quiser vir a mim e tiver mais amor ao pai e à Mãe, à mulher, aos filhos, aos irmãos, às irmãs e mesmo à própria vida, não pode ser meu discípulo".
6 E: “Todo aquele que deixar pai ou Mãe, irmãos ou irmãs, mulher ou filhos, casas e campos, por amor de mim receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna" (Mt 19 21; 16,24; Lc 14,26; Mt 19,29).

CAPÍTULO II
DA RECEPÇÃO E DAS VESTES DOS IRMÃOS
1 Se alguém, por inspiração divina, quiser abraçar esta vida e for ter com os nossos irmãos, esses o recebam carinhosamente.
2 E se estiver firmemente decidido a adotar nosso gênero de vida, os irmãos se abstenham cuidadosamente de interferir nos seus negócios temporais; mas apresentem-no quanto antes ao seu ministro.
3 0 ministro o receba carinhosamente, conforte-o e lhe explique diligentemente em que consiste o nosso gênero de vida.
4 Feito isto, e se o candidato resolver abraçar esta vida, venda tudo o que possui - na medida que puder fazê-lo espiritualmente sem impedimento - e procure distribuí-lo entre os pobres.
5 Mas os irmãos e os ministros dos irmãos abstenham-se de interferir de qualquer forma nesses negócios nem aceitem de modo algum dinheiro da parte dele, nem por si nem por pessoa intermediária;
6 porém, se os Irmãos sofrerem falta de outras coisas necessárias à vida, poderão aceitar, como outros pobres, alguma coisa para prover à necessidade imediata, exceto dinheiro.
7 E quando o candidato voltar, o ministro lhe conceda, para o prazo de um ano, as vestes de provação, a saber: duas túnicas sem capuz, cíngulo, calças e caparão, que vá até o cíngulo.
8 Findo o ano e o termo de provação, poder ser admitido à obediência.
9 Depois disso, não lhe ser lícito passar para uma outra Ordem nem "andar pelo mundo, fora da obediência", segundo a ordem do Senhor Papa.
10 Pois conforme o santo Evangelho, "ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o reino de Deus" (Lc 9,62).
11 Se vier alguém que não possa distribuir os seus bens por estar impedido de fazê-lo, mas que tenha no espírito esta vontade, renuncie aos seus bens e isto lhe basta.
12 E ninguém seja admitido contra a forma e as prescrições da santa Igreja.
13 Os demais irmãos que já prometeram obediência usem uma só túnica com capuz e, sempre que necessário, outra sem capuz, o cíngulo e as calças.
14 Todos os irmãos usem roupa comum e, com a bênção de Deus, podem remendá-la com panos rudes e outros retalhos de fazenda.
15 Pois o Senhor diz no Evangelho: "Os que vestem roupas preciosas e vivem com luxo e trajam vestes delicadas encontram-se nos palácios dos reis" (Mt 11,8; Lc 7,25).
16 E mesmo que sejam chamados de hipócritas, os irmãos nunca deixem de agir direito;
17 nem desejem roupas caras neste século, a fim de poderem receber no reino dos céus as vestes da imortalidade e da glória.

CAPÍTULO III
DO OFÍCIO DIVINO E DO JEJUM
1 Diz o Senhor no Evangelho: "Esta espécie de espíritos malignos só pode ser expulsa pelo jejum e oração" (Mc 9,28). E ainda: "Quando jejuardes, não fiqueis tristes
2 E: "Vigiai e orai para não cairdes em tentação" (Mt 26,41). E: "Quando orardes, dizei: Pai nosso, etc." (Lc 11,2).
3 Por isso todos os irmãos, sejam clérigos ou leigos, recitem o ofício divino, as ações de graças e demais orações, como é de sua obrigação.
4 Os clérigos recitem o ofício divino e orem pelos vivos e defuntos segundo o costume vigente entre os clérigos da Igreja de Roma.
5 E pelas faltas e negligências dos irmãos rezem diariamente o Miserere mei, Deus (Sl 50) e o pai-nosso;
6 pelos Irmãos defuntos rezem o De profundis (Sl 129) com o Pai-Nosso.
7 E só poderão ter os livros indispensáveis para a recitação de seu ofício.
8 E os leigos que sabem ler o Saltério poderão tê-lo.
9 A todos os outros que não souberem ler não seja lícito ter um livro.
10 Os leigos devem rezar: o Creio-em-deus-pai e vinte e quatro Pai-nossos com o Glória-ao-pai, pelas Matinas; pelas Laudes, cinco; pela Prima, o Creio-em-deus-pai e sete Pai-nossos com o Glória-ao-pai; pela Terça, Sexta e Noa, a cada uma sete; pelas Vésperas, doze, pelas Completas, o Creio-em-deus-pai e sete Pai-nossos com o Glória-ao-pai;
11 pelos defuntos, sete Pai-nossos e o "Senhor, dai-lhes o descanso eterno";
12 e pelas faltas e negligências dos irmãos rezem diariamente três Pai-nossos.
13 E todos os irmãos jejuem desde a festa de Todos os Santos até a Natividade do Senhor e desde a Epifania, em que Nosso Senhor Jesus Cristo iniciou o seu jejum, até a Páscoa.
14 Em outras épocas não sejam obrigados ao jejum, segundo nosso gênero de vida, senão às sextas-feiras.
15 E, nos termos do santo Evangelho (cf. Lc 10,8), seja-lhes permitido comer de todas as comidas que lhes forem servidas.

CAPÍTULO IV
DOS MINISTROS E DOS DEMAIS IRMÃOS EM SUAS RELAÇÕES MÚTUAS
1 Em nome do Senhor!
Todos os Irmãos que forem instituídos como ministros e servos dos demais Irmãos distribuam os irmãos pelas províncias e lugares onde se encontram. Visitem-nos assiduamente para exortá-los e confortá-los espiritualmente.
2 E todos os outros meus abençoados irmãos obedeçam conscienciosamente em tudo o que diz respeito ao bem de sua alma e não for contrário ao nosso gênero de vida.
3 E tratem-se mutuamente conforme a palavra do Senhor: "Tudo o que desejardes que os homens o façam a vós, fazei-o também a eles" (Mt 7,12).
4 E ainda: "Guarda-te de jamais fazer a outrem o que não quererias que te fosse feito" (Tb 4,16).
5 E os ministros e servos lembrem-se do que diz o Senhor: "Não vim para ser servido mas para servir" (Mt 20,28),
6 e que lhes foi confiado o cuidado pelas almas dos Irmãos. E se um destes se perder por culpa ou mau exemplo seu, terão de prestar contas no dia do juízo perante o Senhor Jesus Cristo.

CAPÍTULO V
DA CORREÇÃO DOS IRMÃOS QUE COMETEREM PECADO
1 Guardai pois as vossas almas e as dos vossos Irmãos, pois "terrível é cair nas mãos do Deus vivo" (Hb 10,31).
2 Se porém um dos ministros mandar a um irmão algo que for contrário ao nosso gênero de vida ou à sua alma, o Irmão não estar obrigado a obedecer-lhe.
3 Pois não haver obediência onde se cometer uma falta ou um pecado.
4 E mais, todos os Irmãos que forem súditos dos ministros e servos observem com diligente atenção o que fazem os ministros e servos.
5 E se acaso virem que um deles vive segundo a carne e não espiritualmente, conforme corresponde à retidão de nosso gênero de vida, tratem de adverti-lo por três vezes.
6 Se apesar disso não se emendar, deverão denunciá-lo, no capítulo de Pentecostes, ao ministro geral de toda a fraternidade, sem deixar-se intimidar por contradição alguma.
7 E se em alguma parte houver entre os irmãos um irmão que não queira viver
espiritualmente mas segundo a carne, os irmãos seus companheiros o admoestem com humildade e prudência, o advirtam e repreendam.
8 E se após tríplice advertência ele se negar a emendar-se, levem-no quanto antes ao seu ministro e servo ou lho denunciem.
9 O ministro e servo lhe dê então o tratamento que melhor lhe pareça diante de Deus.
10 E todos os irmãos, tanto ministros e servos como os demais, cuidem de não perturbar-se ou enraivecer-se por causa do pecado ou mau exemplo de outrem, porque o diabo procura perder a muitos pelo pecado de um só.
11 Mas antes socorram, na medida do possível, espiritualmente, a quem tiver caído em pecado, porquanto "não são os sãos que precisam do médico, mas os enfermos (Mt 9,12).
12 Igualmente nenhum irmão exerça uma posição ou cargo de mando, e muito menos entre os próprios irmãos.
13 Pois, como diz o Senhor no Evangelho: "Os príncipes das nações as subjugam e os grandes imperam sobre elas" (Mt 20,25), assim não deve ser entre os irmãos, mas antes:
14 "Aquele que quiser ser o maior entre eles seja o ministro" (Mt 20,26-27) e servo deles, e
15 "quem for o maior entre eles faça-se o menor" (cf. Lc 22,26).
16 E nenhum irmão trate mal a um outro nem fale mal dele.
17 Antes sirvam e obedeçam de bom grado uns aos outros na caridade do Espírito.
18 E esta é a verdadeira e santa obediência de Nosso Senhor Jesus Cristo.
19 E todos os irmãos que se desviarem dos mandamentos do Senhor e andarem pelo mundo, fora da obediência, como diz o Profeta (Sl 118,21), saibam que fora da obediência ficam amaldiçoados enquanto, deliberadamente, estiverem em tal pecado.
20 Mas se perseverarem nos mandamentos do Senhor que prometeram segundo o santo Evangelho e o seu próprio gênero de vida, saibam que estarão na verdadeira obediência e serão abençoados pelo Senhor.

CAPÍTULO VI
QUE OS IRMÃOS PODEM RECORRER AOS SEUS MINISTROS E QUE NENHUM IRMÃO SEJA INTITULADO "PRIOR"
1 Os irmãos que vivem em determinados lugares e não podem observar o nosso gênero de vida recorram quanto antes ao seu ministro e lhe exponham a situação.
2 0 ministro procure atendê-los do modo como o desejaria para si, caso se encontrasse em situação parecida (cf. Mt 7,12).
3 E neste gênero de vida ninguém seja intitulado "prior" mas todos sejam designados
indistintamente como "frades menores".
4 E um lave os pés ao outro!

CAPÍTULO VII
DO MODO DE SERVIR E DE TRABALHAR
1 Nenhum irmão, onde quer que esteja para servir ou trabalhar para outrem, jamais seja capataz, nem administrador, nem exerça cargo de direção na casa em que serve,
2 nem aceite emprego que possa causar escândalo ou "perder sua alma" (Mc 8,36).
3 Em vez disto sejam os menores e submissos a todos que moram na mesma casa.
4 E os irmãos que forem capazes de trabalhar, trabalhem; e exerçam a profissão que aprenderam, enquanto não prejudicar o bem de sua alma e eles puderem exercê-la honestamente.
5 Porquanto diz o Profeta: "Viverás do trabalho de tuas mãos: serás feliz e terás bem-estar" (Sl 127,2);
6 e o Apóstolo: "Quem não quer trabalhar não coma" (2Ts 3,10). "Cada qual permaneça naquele ofício e cargo para o qual foi chamado" (lCor 7,24). E como retribuição pelo trabalho podem aceitar todas as coisas de que precisam, exceto dinheiro.
7 E, se for necessário, podem pedir esmolas como outros pobres.
8 E podem ter as ferramentas necessárias ao seu ofício.
9 Todos os irmãos se esforcem seriamente em praticar boas obras, pois está escrito: sempre empenhado em praticar alguma boa obra, para que o diabo te encontre ocupado";
10 e ainda: "A ociosidade é inimiga da alma".
11 Por isso os servos de Deus devem estar sempre entregues à oração ou a qualquer outra boa obra.
12 Cuidem os irmãos, onde quer que estejam, nos eremitérios ou em outros lugares, de não apropriar-se de qualquer lugar nem disputá-lo a outrem.
13 E todo aquele que deles se acercar, seja amigo ou adversário, ladrão ou bandido, recebam-no com bondade.
14 E onde quer que estejam os irmãos, e sempre que se encontrarem em algum lugar, devem respeitar-se e honrar-se espiritual e diligentemente "uns aos outros, sem murmuração" ( lPd 4,9).
15 E guardem-se os irmãos de se mostrarem em seu exterior como tristes e sombrios hipócritas.
16 Mas antes, comportem-se como gente que se alegra no Senhor, satisfeitos e
amáveis, como convém.

CAPÍTULO VIII
QUE OS IRMÃOS NÃO RECEBAM DINHEIRO
1 O Senhor ordena no Evangelho: "Cuidai e guardai-vos de toda malícia e avareza" (Lc 12,15), e: "Afastai-vos das solicitudes deste século e dos cuidados desta vida" (Lc 21,34).
2 Por isso nenhum Irmão, onde quer que esteja e para onde quer que vá, nem sequer ajunte do chão, nem aceite ou faça aceitar dinheiro ou moedas,
3 nem para comprar roupa ou livros; numa palavra: em circunstância alguma, a não ser em caso de manifesta necessidade para os enfermos.
4 Pois do dinheiro ou de moedas não devemos ter nem esperar mais proveito que de pedras.
5 Aos que o cobiçam e apreciam mais do que pedras, o diabo procura obcecá-los.
6 Cuidemos pois, nós que tudo abandonamos (cf. Mt 19,27), que por tão pouco não percamos o reino dos céus.
7 E se em qualquer parte acharmos moedas, não lhes demos mais atenção que ao pó que estamos calcando com os pés, porque é "vaidade das vaidades, e tudo é vaidade" (Ecl 1,2).
8 E se mesmo assim acontecer - o que Deus não permita - que algum Irmão ajunte ou possua dinheiro ou moedas - salvo no caso da mencionada necessidade dos enfermos - todos nós irmãos consideremo-lo como falso irmão e como apóstata, como gatuno e ladrão, e mais, como aquele que carrega a bolsa, se não fizer sincera penitência.
9 E em circunstância alguma podem os irmãos aceitar ou fazer aceitar, coletar
pessoalmente ou fazer coletar dinheiro ou esmolas em dinheiro ou moedas para alguma casa ou residência.
10 Nem acompanhem pessoas que para tais lugares vão coletar dinheiro ou moedas.
11 Porém, outros trabalhos que não contradigam nosso gênero de vida, podem os irmãos executá-los com a bênção de Deus.
12 Se, contudo, houver leprosos em situação de manifesta necessidade, podem os irmãos colher esmolas para eles.
13 Mas tomem muito cuidado com o dinheiro.
14 Igualmente evitem todos os irmãos de vaguearem pela terra atraídos por lucro vil.

CAPÍTULO IX
DA ESMOLA
1 Todos os Irmãos se esforcem por imitar a humildade e pobreza de Nosso Senhor Jesus Cristo.
2 E se recordem que do mundo inteiro nada mais precisamos do que, como diz o Apóstolo, "o necessário para nos alimentar e para nos cobrir, e queremos estar contentes com isso" (1Tm 6,8).
3 E devem estar satisfeitos quando estão no meio de gente comum e desprezada, de pobres e fracos, enfermos e leprosos e mendigos de rua.
4 E quando for preciso, que vão pedir esmola.
5 Nem se envergonhem disto, mas antes recordem que Nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho do Deus vivo Todo-Poderoso, "enrijeceu sua face como pedra duríssima" (Is 50,7)
6 e não se envergonhou de se tornar para nós pobre e peregrino; e vivia de esmola, ele mais a bem-aventurada Virgem e seus discípulos.
7 E se os homens os tratarem com escárnio e não quiserem dar-lhes esmolas, rendam graças a Deus;
8 porque pela humilhação receberão grande honra diante do tribunal de Nosso Senhor Jesus Cristo.
9 E saibam que a humilhação não é imputada aos que a sofrem, mas aos que a infligem.
10 E a esmola é uma herança e um direito adquirido em favor dos pobres, que nos conquistou Nosso Senhor Jesus Cristo.
11 e os irmãos que se afadigarem em recolhê-la terão uma grande recompensa, proporcionando ainda aos que a oferecem, ocasião de lucrá-la e merecê-la.
12 Pois tudo o que os homens deixam para trás no mundo, perecerá, mas pela caridade e pela esmola que tiverem feito receberão do Senhor a justa recompensa (cf. Mt 6, 19s; Lc 16, 1-9).
13 E um manifeste ao outro com confiança as suas necessidades, para que este lhe arranje o necessário e lhe sirva.
14 E cada qual ame e alimente a seu irmão como a mãe ama e nutre a seu filho (cf. lTs 2,7); e o Senhor lhe dará sua graça.
15 E “aquele que come não despreze o que não come, e o que não come não julgue o que come” (Rm 14,3).
16 E sempre que lhes sobrevier a necessidade, seja lícito a todos os irmãos, onde quer que estejam, servir-se de todos os alimentos que um homem pode comer,
17 conforme o Senhor disse de Davi, que comeu “os pães da proposição, que não é lícito comer senão aos sacerdotes” (Mc 2,26).
18 E recordem o que diz o Senhor: “Estai atentos, para que não suceda se embotem os vossos corações pela crápula, pela embriaguez e pelas preocupações da vida, e não vos surpreenda inesperadamente o dia do juízo;
19 pois ele virá como um laço sobre todos os habitantes da terra” (Lc 21,34-35).
20 igual modo, em tempo de manifesta necessidade, procedam todos os irmãos com relação ao que lhes for necessário para a vida, conforme o Senhor lhes der sua graça, pois necessidade desconhece lei.

CAPÍTULO X
DOS IRMÃOS ENFERMOS

1 Se um dos irmãos cair doente, os outros irmãos o não abandonem, esteja onde for, sem designar um ou, se necessário, mais irmãos, para o servirem como gostariam de ser servidos. 2 Mas em caso de absoluta necessidade poderão encarregar uma pessoa de confiança para cuidar dele durante sua enfermidade.
3 E peço ao irmão enfermo que por tudo dê graças ao Criador,
4 e seu próprio desejo seja de ser assim como Deus quiser, são ou doente;
5 pois todos os que Deus predestinou para a vida eterna (cf. At 13,48), disciplina-os por estímulos de flagelos e enfermidades e pelo espírito de compunção,
6 conforme diz o Senhor: “Eu repreendo e corrijo todos os que amo” (Ap 3,19). Se, porém, um irmão enfermo ficar perturbado ou se exaltar contra Deus ou contra os irmãos, ou acaso exigir remédios com demasiada insistência para curar o corpo, que está fadado a morrer em breve é um inimigo da alma, isto lhe é inspirado pelo maligno; é um homem carnal; nem parece ser dos Irmãos,
8 amando mais o corpo que a alma.

CAPÍTULO XI
QUE OS IRMÃOS NÃO BLASFEMEM NEM SE CALUNIEM, MAS SE AMEM UNS AOS OUTROS
1 E guardem-se todos os irmãos de caluniar a alguém ou de "ocupar-se com discussões vãs" (2Tm 2,14), mas antes tratem de guardar silêncio, tanto quanto lhes conceder a graça de Deus.
2 Não devem também discutir entre si ou com outros, mas procurar responder
humildemente, dizendo: "Somos uns servos inúteis" (Lc 17,10).
3 Não se irritem, pois "todo aquele que se irar contra seu irmão será réu de juízo, e o que lhe disser 'perverso' será réu perante o conselho; e quem o apelidar de 'louco' será réu do fogo do inferno" (Mt 5,22).
4 E amem-se uns aos outros conforme diz o Senhor: "Eis o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 15,12).
5 E a caridade que se devem mutuamente "mostrem-na por obras" (Tg 2,18), segundo diz o Apóstolo: "Não amemos de palavra nem de língua, porém de obra e de verdade" (lJo 3,18).
6 "E não injuriem ninguém" (Tt 3,2), não murmurem, não caluniem a outros,
por quanto está escrito: "os murmuradores e os caluniadores são odiados por Deus" (Rm 1,29).
7 Mas "sejam modestos e cheios de mansidão para com todos os homens" (Tt 3,2).
8 Não julguem; não condenem; e, como diz o Senhor, não reparem nos menores pecados dos outros (Mt 7,3), mas "com o coração amargurado" (Is 38,15) pensem  antes nos seus.
9 E "esforcem-se por entrar pela porta estreita" (Lc 13,24), porque diz o Senhor:
10 "Quão estreita é a porta e apertado o caminho que leva à vida, e poucos São os que o encontram" (Mt 7,14).

CAPÍTULO XII
DA NECESSIDADE DE EVITAR OS MAUS OLHARES E A FREQUENTAÇÃO DE MULHERES
1 Onde quer que estiverem e aonde quer que forem, abstenham-se todos os irmãos de maus olhares e da frequentação de mulheres; e nenhum com elas se aconselhe ou ande sozinho com elas ou coma em companhia delas.
2 0s sacerdotes usem de reserva na conversa com elas ao lhes imporem a penitência ou ao darem algum conselho espiritual.
3 Nenhuma mulher preste voto de obediência a algum irmão, mas, recebido o conselho espiritual, faça ela a penitência onde quiser.
4 E acautelemo-nos todos nós e conservemos puros todos os nossos membros, pois diz o Senhor: "Todo homem que olha uma mulher desejando-a, já adulterou com ela em seu coração" (Mt 5,28).

CAPÍTULO XIII
DO CASTIGO DOS DESONESTOS
1 Se algum irmão, por instigação do demônio, cometer pecado de impureza, seja privado do hábito da Ordem, que ele já perdeu por sua torpe iniqüidade, e por isso o deponha definitivamente, e seja demitido de nossa Ordem.
2 E em seguida faça penitência de seus pecados (cf. lCor 5,4s).

CAPÍTULO XIV
COMO OS IRMÃOS DEVEM IR PELO MUNDO
1 Quando os irmãos andarem pelo mundo, nada levem consigo para a viagem, "nem bolsa, nem alforje, nem pão, nem dinheiro, nem bastão" (Lc 9,3).
2 E "ao entrarem numa casa, digam primeiro: A paz esteja nesta casa.
3 E, ficando nessa casa, comam e bebam do que aquela gente tiver" (Lc 10,5-7).
4 Não resistam ao malvado (cf. Mt 5,39), mas antes, se alguém lhes der numa face, apresentem-lhe também a outra;
5 e a quem lhes roubar o manto, não lhe neguem também a túnica.
6 Dêem a quem lhes pedir. Se alguém tirar o que é deles, não o reclamem (cf. Lc 6,29-30).

CAPÍTULO XV
QUE OS IRMÃOS NÃO CRIEM ANIMAIS NEM ANDEM A CAVALO
1 Ordeno a todos os meus irmãos, tanto clérigos como leigos, ao irem pelo mundo, ou morarem em lugar fixo, que de modo algum criem qualquer animal, nem junto a si mesmos, nem com outra pessoa, nem de qualquer outra forma.
2 Nem lhes seja lícito andar a cavalo, a não ser que se vejam obrigados por doença ou por grande necessidade.

CAPÍTULO XVI
DOS QUE QUISEREM IR PARA ENTRE OS SARRACENOS E OUTROS INFIÉIS
1 Diz o Senhor: "Eis que vos envio como ovelhas ao meio dos lobos;
2 sede pois prudentes como serpentes e simples como pombas" (Mt 10,16).
3 Se, pois, houver irmãos que quiserem ir para entre os sarracenos e outros inféis, que vão com a licença de seu ministro e servo.
4 Se o ministro reconhecer que eles são idôneos para serem mandados, dê-lhes a licença e não a recuse;
5 pois terá que dar contas ao Senhor (cf. Lc 16,2), se nisso ou em outras coisas agir sem a devida discrição.
6 E os irmãos que partirem poderão proceder de duas maneiras espiritualmente com os infiéis:
7 0 primeiro modo consiste em absterem-se de rixas e disputas, submetendo-se "a todos os homens por causa do Senhor" ( 1Pd 2,13 ) e confessando serem cristãos.
8 0 outro modo é anunciarem a palavra de Deus quando o julgarem agradável ao Senhor:
9 que creiam no Deus Todo-Poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo, Criador de todas as coisas; no Filho, Redentor e Salvador;
10 e se façam batizar e se tornem cristãos, porquanto "quem não nascer da água e do Espírito Santo não pode entrar no reino dos céus" (Jo 3,5).
11 Estas e outras coisas agradáveis ao Senhor poderão dizer a estes e a outros;
12 pois diz o Senhor no Evangelho: "Todo aquele que me confessar diante dos
homens, eu também o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus" (Mt 10,32);
13 “quem se envergonhar de mim e de minhas palavras, dele se envergonhará o Filho do homem quando vier em sua glória, na glória do Pai e dos santos anjos” (Lc 9,26).
14 E todos os irmãos - onde quer que estejam - considerem que se entregaram ao Senhor Jesus Cristo e lhe deram direito sobre seus corpos. Por amor dele, devem expor-se aos inimigos, visíveis e invisíveis; pois diz o Senhor:
15 “Quem perder a sua vida por causa de mim, salvá-la-á” (Mc 8,35) para a vida eterna.
16 “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,10).
17 “Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós” (Jo 15,20).
18 “Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra” (Mt 10,23).
19 “Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, insultarem e perseguirem e vos expulsarem e escarnecerem e injuriarem vosso nome como réprobo e falsamente disserem contra vós todo gênero de mal por minha causa. Alegrai-vos e regozijai-vos naquele dia,
20 porque grande será a vossa recompensa no céu!” (Mt 5,11-12; Lc 6,22-23).
21 “A vós, meus amigos, advirto.
22 Não vos deixeis atemorizar por eles! Nem tenhais medo dos que matam o corpo, e nada mais podem fazer” (Mt 10,28). “Não vos perturbeis” (Mt 24,6), pois “por vossa paciência salvareis vossas almas” (Lc 21,19).
 23 “O que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 10,22).

CAPÍTULO XVII
DOS PREGADORES

1. Nenhum dos irmãos pregue contra a forma e a doutrina da santa Igreja nem sem a permissão de seu ministro.
2 O ministro, porém, tome cuidado de não a conceder indiscriminadamente.
3. No entanto, todos os irmãos podem pregar pelas obras.
4 E nenhum ministro ou pregador se arrogue o cargo de ministro dos irmãos ou o ofício da pregação como sua propriedade, mas à mesma hora que lhe for ordenado, deponha o seu cargo, sem nenhuma objeção.
5. Suplico por isso na caridade “que é o próprio Deus” (iJo 4,8), a todos os meus irmãos que pregam, oram ou trabalham, sejam clérigos ou leigos, que tratem de se humilhar em tudo,
6 nem se desvaneçam, nem sejam presunçosos, nem se envaideçam interiormente de belas palavras ou obras, enfim de nada do que Deus às vezes diz, faz e opera neles e por eles,
7 conforme diz o Senhor: “Mas não vos alegreis de que os espíritos se vos submetam” (Lc 10, 20).
8 E estejamos firmemente convencidos de que não temos coisa própria nossa senão os nossos vícios e pecados.
9 Antes nos devemos regozijar "quando cairmos em diversas provações" (Tg 1, 2) e sofrermos neste mundo na alma e no corpo toda sorte de angústias e tribulações, por causa da vida eterna.
10 Por isso vamos nós, irmãos todos, acautelar-nos de toda vanglória e soberba.
11 Guardemo-nos da sabedoria deste mundo e da prudência da carne.
12 Pois o espírito da carne tem grande interesse em fazer muito em palavras e pouco em obras, nem procura a piedade e santidade interior do espírito, mas antes visa e deseja uma piedade e santidade que apareça por fora diante dos homens.
13 E é de tais que diz o Senhor: "Em verdade vos digo, que esses já receberam sua recompensa" (Mt 6,2).
14 Porém o espírito do Senhor exige que a nossa carne seja mortificada e
desprezada, vil, abjeta e desprezível;
15 e ele procura a humildade e a paciência e a pura, simples e verdadeira paz do espírito;
16 e acima de tudo deseja sempre o temor de Deus, a sabedoria de Deus e o divino amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
17 Atribuamos ao Senhor Deus altíssimo todos os bens; reconheçamos que todos os bens lhe pertencem; demos-lhe graças por tudo, pois d’Ele procedem todos os bens.
18 E Ele, o altíssimo e soberano, o único e verdadeiro Deus, os possua como sua propriedade.
19 E a Ele se dêem, e Ele receba toda honra e reverência, todo louvor e exaltação, toda ação de graças e toda glória, Ele a quem pertence todo bem, e que "só Ele é bom" (Lc 18,19).
20 De nossa parte, quando vemos e ouvimos alguém amaldiçoar, abençoemos; fazer o mal, façamos o bem; blasfemar, louvemos o Senhor, que é bendito por toda a eternidade. Amém (cf. Rm 12,21).

CAPÍTULO XVIII
COMO SE DEVEM REUNIR OS MINISTROS
1 Todo ano pode cada ministro reunir-se com os seus irmãos, na festa de São Miguel Arcanjo, onde lhes aprouver, para tratar com eles das coisas que se referem a Deus.
2 Todos os ministros, porém, que residirem nos países ultramarinos e ultramontanos, compareçam uma vez em três anos, e os demais ministros uma vez por ano, na festa de Pentecostes, ao capítulo que se reúne junto à igreja de Santa Maria da Porciúncula,
3 a não ser que o ministro e servo de toda a fraternidade o determine de modo
diferente.

CAPÍTULO XIX
QUE OS IRMÃOS VIVAM COMO CATÓLICOS
1 Todos os Irmãos sejam católicos, e vivam e falem como católicos.
2 Se porém um deles, por palavras ou por atos, se afastar da fé e da vida católica e não se quiser emendar, seja definitivamente expulso da nossa fraternidade.
3 Consideremos todos os clérigos e todos os religiosos como nossos senhores, no que concerne à salvação da alma e não se opuser à nossa Ordem,
4 e respeitemos no Senhor a sua ordenação, ofício e ministério.

CAPÍTULO XX
DA CONFISSÃO DOS IRMÃOS, E DA RECEPÇÃO DO CORPO E SANGUE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

1. Os meus abençoados irmãos, clérigos e leigos, confessem seus pecados aos sacerdotes da nossa Ordem.
2 Se não for possível, confessem-se a outros sacerdotes prudentes e católicos.
3.  E saibam claramente e considerem que, tendo recebido de qualquer dos sacerdotes católicos penitência e absolvição, estão absolvidos, sem dúvida alguma, daqueles pecados,
4 se procurarem humilde e fielmente cumprir a penitência imposta.
 5 Se porém não puderem encontrar um sacerdote, confessem-se a um dos irmãos, segundo diz o Apóstolo São Tiago: “Confessai-vos mutuamente as vossas faltas” (Tg 5,16).
6 Entretanto, não deixem por isso de recorrer aos sacerdotes, já que o poder de ligar e desligar só é concedido aos sacerdotes.
7 E assim contritos e confessados recebam o corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, com grande humildade e respeito,
8 recordando que o próprio Senhor disse: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue possui a vida eterna” (Jo 6,55);
9 e: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19).

CAPÍTULO XXI
DAS PALAVRAS DE LOUVOR E EXORTAÇÃO QUE TODOS OS IRMÃOS PODEM FAZER

1.Todos os meus irmãos podem anunciar estas palavras de exortação e louvor, com a bênção de Deus, sempre que quiserem, a todos os homens:
2. Temei e honrai, louvai e bendizei, agradecei e adorai ao Senhor Deus onipotente, em sua Trindade e Unidade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, Criador do universo.
3. “Convertei-vos, fazei dignos frutos de conversão!” (Mt 3,2.8), pois sabei que em breve morrereis.
4. “Dai, e dar-se-vos-á. Perdoai, e sereis perdoados” (Lc 6,38.37).
5.  “Porque se vós não perdoardes, também o Senhor não vos perdoará os vossos pecados” (Mc 11,26).
6. Confessai todos os vossos pecados (cf. Tg 5,16).
7 Bem-aventurados os que morrerem na penitência, porque estarão no reino dos céus.
8. Ai daqueles que não morrerem na penitência,
9. porque serão filhos do diabo, cujas obras fazem (cf. Jo 8,41), e irão para o fogo eterno.
10. Vigiai e preservai-vos de todo mal e perseverai no bem até o fim!

CAPÍTULO XXII
ADMOESTAÇÃO DOS IRMÃOS
1 Atendamos todos, Irmãos, ao que diz o Senhor: "Amai os vossos inimigos e fazei o bem a todos os que vos odeiam" (Mt 5,44).
2 Pois também Nosso Senhor Jesus Cristo, cujas pegadas devemos seguir (cf. 1Pd 2,21), chamou de "amigo" o seu traidor e se entregou de livre vontade aos que o crucificavam.
3 São, pois, nossos amigos todos aqueles que injustamente nos infligem tribulações e angústias, opróbrios e injustiças, dores e tormentos, martírio e morte.
4 A esses devemos amar muito, porquanto pelo mal que nos fazem teremos a vida eterna.
5 E odiemos o nosso corpo com os seus vícios e pecados, porque quer viver carnalmente e privar-nos assim do amor de Nosso Senhor Jesus Cristo e da vida eterna e consigo arrastar a todos para o inferno.
6 Pois por nossa própria culpa somos asquerosos, míseros e contrários ao bem, mas dispostos para o mal, porque,
7 como diz o Senhor no Evangelho: É do coração do homem que provêm maus pensamentos, adultérios, fornicação, homicídios, furtos, cobiças, maldades, fraudes, devassidão, maus olhares, falsos testemunhos, blasfêmias, orgulho, insensatez.
8 Todas estas maldades procedem do interior e mancham o homem" (Mc 7,21-23).
9 Por nossa vez, desde que abandonamos o mundo, outra coisa não temos a fazer senão empenhar-nos em seguir a vontade de Deus e agradar a Ele.
10 Tomemos muito cuidado em não sermos a terra do caminho ou pedregosa ou abafada pelos espinheiros! à qual se refere o Senhor no Evangelho:
11 "A semente é a palavra de Deus.
12 A que caiu sobre o caminho e foi pisada são os que escutam a palavra mas não a compreendem. E logo vem o diabo, arranca o que fora semeado nos seus corações e tira a palavra dos corações deles para que não creiam nem se salvem.
13 Porém, a que caiu sobre chão pedregoso são aqueles que imediatamente aceitam com alegria a palavra quando a escutam; mas sobrevindo tribulações e perseguições por causa da palavra, logo se escandalizam; não há raízes dentro deles e ficam inconstantes porque crêem durante algum tempo e quando vem a tentação voltam atrás.
14 Porém, a que caiu debaixo dos espinheiros são aqueles que escutam a palavra, contudo os cuidados e dificuldades deste século, o falaz fulgor das riquezas e demais concupiscências penetram e sufocam a palavra, que não pode produzir fruto.
15 Mas a que foi semeada em terra boa são os que escutam a palavra de coração muito bem disposto, a entendem, a conservam e produzem fruto com perseverança" (Mt 13,19-23).
16 Por isso, Irmãos, como diz o Senhor, deixemos "os mortos sepultar os seus mortos" (Mt 8, 22).
17 E muito nos acautelemos da malícia e sutilidade de Satanás, que não quer que o homem eleve o seu espírito e coração para o Senhor seu Deus.
18 Ele anda por aí e gostaria, sob as aparências duma recompensa ou vantagem, de atrair para o seu lado o coração do homem e sufocar-lhe na memória a palavra e os preceitos do Senhor; ele quer obcecar o coração do homem por meio das solicitudes e cuidados mundanos e nele habitar, segundo diz o Senhor:
19 "Quando o espírito impuro sai do homem, anda por lugares ridos, em busca de repouso; e não o encontrando, diz consigo: 'Voltarei à minha casa donde saí'.
20 E vindo encontra-a vazia, varrida e arrumada.
21 Então vai, toma consigo outros sete espíritos piores do que ele, e, entrando, habitam ali. Assim a última condição desse homem será pior do que a primeira" (Mt 12,43-45).
22 Por isso, Irmãos todos, vigiemo-nos muito a nós mesmos, a fim de não perdermos ou desviarmos do Senhor a nossa mente e nosso coração sob a aparência duma recompensa ou obra ou ajuda.
23 Mas na santa caridade que é Deus (cf. lJo 4,16), rogo a todos os irmãos, tanto os ministros como os outros, removam todos os obstáculos e rejeitem todos os cuidados e solicitudes, para, com o melhor de suas forças, servir, amar, adorar e honrar, de coração reto e mente pura, o Senhor nosso Deus, pois é isto o que ele deseja sem medida.
24 E preparemos-lhe sempre dentro de nossa uma morada permanente, a Ele que é o Senhor e Deus Todo-Poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo,
25 que diz: "Vigiai, pois, em todo tempo e orai, para que possais evitar toda desgraça futura e comparecer perante o Filho do homem" (Lc 21,36).
26 E "quando vos puserdes em pé para orar" (Mc 11,25), dizei: "Pai nosso, que estais nos céus".
27 E adoremo-lo de coração puro, porquanto "é preciso orar em todo tempo e não desfalecer" (Lc 18,1), "pois tais são os adoradores que o Pai procura.
28 Deus é espírito, e os que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade" (Jo 4, 23-24).
29 E a Ele queremos recorrer como "ao pastor e guarda de nossas almas" (1Pd 2,25), que diz:
30 "Eu sou o bom pastor e apascento minhas ovelhas" (Jo 10,11) e "dou a própria vida por minhas ovelhas" (Jo 10,15).
31 "Todos vós sois irmãos; nem vos façais chamar de 'pai' sobre a terra, porque um só é vosso Pai, aquele que está nos céus.
32 Nem vos façais chamar de 'mestre', porque um só é vosso Mestre, que está nos céus. Cristo (Mt 23, 8-10).
33 "Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e ser-vos-á dado" (Jo 15,7).
34 "Onde dois ou três estão congregados em meu nome, ali estou eu no meio deles" (Mt 18,20).
35 "Eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação do mundo" (Mt 28,20).
36 "As palavras que eu vos tenho falado são espírito e vida" (Jo 6,63).
37 "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (Jo 14,6).
38 Guardemos, pois, as palavras, a vida, a doutrina e o santo Evangelho daquele que se dignou pedir a seu Pai por nós e nos manifestou o seu nome, dizendo:
39 "Pai, manifestei teu nome aos homens que me deste (Jo 17, 6), porque eu lhes comuniquei as palavras que me deste, e eles as receberam, e conheceram verdadeiramente que eu saí de ti, e creram que me enviaste.
40 Rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas pelos que me deste: porque são teus, e tudo o que é meu é teu (Jo 17, 8-10).
41 Pai santo, guarda os que me deste, em teu nome, para que sejam um como nós (Jo 17,11).
42 E falo estas coisas no mundo para que eles tenham minha alegria completa em si mesmos.
43 Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou porque eles não são do mundo, como nem eu sou do mundo.
44 Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do mal.
45 Santifica-os na verdade, pois a tua palavra é a verdade.
46 Assim como tu me enviaste ao mundo, assim também eu os enviei ao mundo;
47 e por eles me santifico, para que eles sejam deveras santificados.
48 Não peço só por eles, mas também por aqueles que por sua palavra hão de crer em mim (Jo 17,13-20), para que sejam consumados na unidade, e o mundo conheça que tu me enviaste, e amaste a estes como me amaste a mim;
49 quero dar-lhes a conhecer o teu nome, para que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles (Jo 17, 26).
50 Pai, os que me deste, quero que, onde eu estiver, eles também estejam comigo, para que vejam tua glória no teu reino" (Jo 17,24).


CAPÍTULO XXIII
ORAÇÃO, LOUVOR E AÇÃO DE GRAÇAS
1 Onipotente, altíssimo, santíssimo e sumo Deus, Pai santo e justo, Senhor e Rei dos céus e da terra, damo-vos graças por causa de vós mesmo,
2 porque por vossa santa vontade e pelo vosso único Filho, criastes no Espírito Santo todos os seres espirituais e corporais,
3 nos fizestes à vossa imagem e semelhança e nos colocastes no paraíso -
4 e nós caímos por nossa culpa.
5 E rendemo-vos graças porque, se por vosso Filho nos criastes, pelo mesmo verdadeiro e santo amor com que nos amastes o fizestes nascer como verdadeiro Deus e verdadeiro homem, da gloriosa, beatíssima, santa e sempre Virgem Maria,
6 e quisestes que nós cativos fôssemos remidos por sua cruenta morte na cruz.
7 E damo-vos graças porque o mesmo vosso Filho há de voltar na glória de sua majestade para lançar ao fogo eterno os malditos que não quiseram fazer penitência e não vos reconheceram,
8 e dizer a todos os que vos reconheceram e adoraram e vos serviram em penitência: "Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino preparado para vós desde a criação do mundo” (Mt 25,34).
9 E porque todos nós, miseráveis pecadores, não somos dignos nem sequer de pronunciar o vosso nome, suplicantes vos pedimos
10 que Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso dileto Filho, em quem tendes vossa complacência (Mt 17,5), vos renda graças, juntamente com o Espírito Santo Paráclito, por tudo, conforme agradar a vós e a eles.
11 Pois é Ele quem vos satisfaz por tudo, e por intermédio dele nos cumulastes de tantos bens. Aleluia.
12 E pedimos humildemente à gloriosa, beatíssima e sempre Virgem Mãe Maria, a São Miguel, São Gabriel, São Rafael e a todos os coros dos bem-aventurados espíritos, aos serafins, querubins, tronos, dominações, principados e potestades, virtudes, anjos, arcanjos,
13 a São João Batista, a São João Evangelista, a São Pedro, a São Paulo, aos santos patriarcas, profetas, inocentes, apóstolos, evangelistas, discípulos, mártires, confessores, virgens,
14 aos beatos Elias e Enoc e todos os santos que houve, haverá e há no momento -
15 que, na medida de suas forças, vos rendam graças por tudo isto, a vós, o sumo Deus verdadeiro, eterno e vivo, com vosso Filho caríssimo Nosso Senhor Jesus Cristo e o Espírito Santo Paráclito por toda a eternidade. Amém.
16 E a todos aqueles que querem servir ao Senhor na santa Igreja Católica e apostólica;
17 a todas as ordens eclesiásticas, aos presbíteros, diáconos, subdiáconos, acólitos, exorcistas, leitores, ostiários e demais clérigos,
18 todos os religiosos e todas as religiosas,
19 todos os jovens e crianças, os pobres e necessitados, os reis e príncipes, os operários, lavradores, servos e senhores
20 todas as virgens, as solteiras e as casadas, os leigos, homens e mulheres, todas as crianças, os adolescentes,
21 os jovens e os anciãos, os sãos e os enfermos, os pequenos e os grandes,
22 e todos os povos, gentes, tribos e línguas, todas as nações e todos os homens em toda a face da terra, os que houve e os que haverá, humildemente rogamos e suplicamos nós todos, os frades menores, nós servos inúteis (Lc 17,10), que perseveremos todos na verdadeira fé e penitência, porque de outra forma ninguém poderá salvar-se.
23 Amemos todos, de todo o coração, com toda a alma, com todo o espírito, com toda nossa capacidade e força, com todas as virtudes do espírito e do corpo (Dt 6,5), com todo empenho, todo afeto, todas as entranhas, todos os desejos e vontades – o Senhor nosso Deus,
24 que nos deu e nos dá a todos nós, todo o nosso corpo, toda a nossa alma e toda a nossa vida,
25 que nos criou e nos remiu e só por sua misericórdia nos salvará,
26 que a nós miseráveis e pobres, pútridos e asquerosos, ingratos e maus, nos cumulou e cumula de todos os bens.
27 Outra coisa não desejemos, nem queiramos, nem nos agrade, nem nos alegre senão o nosso Criador e Redentor e Salvador, o único e verdadeiro Deus,
28 que é o bem pleno, o bem todo, o bem inteiro, o sumo e verdadeiro bem,
29 que só Ele é bom (cf. Lc 18,19), carinhoso e meigo, suave e doce, que só Ele é santo, justo, verdadeiro e reto, só Ele benigno, inocente e puro;
30 dele, por ele e nele é todo perdão, toda graça, toda glória de todos os penitentes e justos, de todos os santos que se alegram juntos no céu.
31 Nada, pois, nos impeça, nos separe, se nos interponha.
32 Em toda parte, em qualquer lugar, a toda hora e tempo, diária e continuamente, creiamos sincera e humildemente, retenhamos no coração e amemos, sirvamos, louvemos e bendigamos, glorifiquemos e sobreexaltemos, magnifiquemos e rendamos graças ao altíssimo e sumo Deus eterno,
33 trino e uno, Pai, Filho e Espírito Santo, Criador de tudo o que existe, Salvador dos que nele crêem e esperam e o amam,
34 que não teve princípio nem ter fim, imutável, invisível, inenarrável, inefável, incompreensível, imperscrutável, bendito, louvável, glorioso, sobreexaltado, sublime, excelso, suave, amável, cheio de delícias e sempre inteiramente desejável acima de todas as coisas por toda a eternidade.
35 Em nome do Senhor rogo a todos os irmãos que aprendam bem o teor e sentido do que está escrito nesta regra de vida a bem da salvação de nossa alma e
 36 E imploro a Deus que Ele, que é Todo-Poderoso, trino e uno, abençoe a todos os que isto ensinarem, aprenderem, guardarem, recordarem e praticarem, todas as vezes que repetirem e exercerem o que aí está escrito para nossa salvação.
37 E beijando-lhes os pés a todos suplico que amem, protejam e guardem esta regra de vida. E da parte do Deus Todo-Poderoso e do Senhor Papa e sob obediência, eu, Frei Francisco, preceituo firmemente e ordeno que ninguém diminua nada do que está escrito nesta regra de vida nem lhe acrescente alguma coisa, e que os Irmãos não tenham outra regra.
38 Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre e por todos os séculos dos séculos. Amém.